O jovem milionário Adamastor Macário, Rapaz rude e violento, Derramando alegria, Sentia-se feliz em seu mais belo dia, Pois era o dia de seu casamento. No palácio rural de sua habitação, Tudo era festa em ascensão. Pela manhã, porém, ele recebe à porta Uma pobre viúva, a carregar nos braços, Um filhinho de meses, Portador de moléstia fulminante… Sentindo a morte a lhe rondar os passos, Dirige-se a Macário e pede suplicante: — Socorre-nos, senhor, Salve meu filho! Pague-lhe um tratamento… E rematou com lágrimas na voz: — Por amor a Jesus, tenha pena de nós!… Com surpresa geral, Adamastor Não se fez rude como de outras vezes, Fitou o pequenino, Compadecidamente, Depois recomendou a um antigo empregado: — Leve a criança ao médico… Ação pronta. Em seguida, Busque a farmácia com presteza, Seja o gasto que for, qualquer despesa Corre por minha conta… A viúva, andrajosa e enternecida, Agradeceu-lhe a caridade, Qual se estivesse recebendo No filho em tenra idade Plena renovação da própria vida. Adamastor, porém, Mesmo casado Continuou brutalizado E um modelo completo de avareza… Recolhia, ele próprio, as migalhas da mesa Que sobrassem de cada refeição Para fazer negócio, às escondidas… E ei-lo, dia por dia, a repetir fremente, Na mais estranha desesperação: — Dinheiro, sim… Beneficência, não… Nada me peçam que não dou vintém, Não dou nem mesmo um pão à fome de ninguém. O tempo foi passando, Pedisse quem pedisse, A resposta era não… Toda aquela secura Parecia loucura Em vez de sovinice. Talvez decepcionada, alma triste e vazia, Com as atitudes do marido avaro, Breve, morreu a esposa em desamparo, Sem deixar-lhe um só filho à casa enorme e fria… Mais tempo decorreu E Macário a lutar, sem qualquer companheiro, Só queria dinheiro e mais dinheiro… Até que, um dia, a morte veio arrebatá-lo. Adamastor, velhinho, Num lance do caminho, Caíra do cavalo, Fora pisoteado e, ante as perdas de sangue, Gritava, agonizante, entre as pedras de um mangue: — Eu não quero morrer, eu não quero morrer… Mas a morte, por si, não queria saber Se ele queria ou não E, assim, agiu na hora… Desencarnado agora, O antigo milionário, Sente-se louco, aflito e solitário, Sob o fardo das lágrimas que leva… Só pensava em dinheiro e via-se na treva… Era um mendigo apenas Que somente trazia A lembrança vazia De moedas terrenas… Cego, desesperado, atônito, sozinho, Fez-se triste fantasma, errando no caminho… Até que, num momento inesperado, Logo após largo tempo em profunda cegueira, Sentiu algo a buscar-lhe os íntimos refolhos, Uma luz que lhe dava outra luz para os olhos… Fitou, em derredor, e notou espantado Que uma pobre velhinha orava junto dele, Quase que, lado a lado; E ouviu-a murmurar, em voz segura e mansa, Como se lhe trouxesse a bênção da esperança: — Rogo, Deus de Bondade, ao teu imenso amor, Concede a paz do Céu a “seu” Adamastor, Ele foi para mim de uma bondade rara, Não te esqueças, Senhor, Que um dia ele salvou o filho que me ampara… Abençoa, meu Deus, Quem foi em nossa casa O grande benfeitor!… O antigo milionário, Sob um clarão divino, Recordou a chorar o passado momento Em que ajudara a um pequenino, No dia justo de seu casamento… Banhado em nova luz Ele gritou: — Por que? por que, Jesus? Não dei tudo o que eu tinha e tudo quanto quis, A fim de ser agora mais feliz? Era tarde, porém… Precisava voltar… Renascer sobre a Terra, Aprendendo a servir, a compreender e amar… Nesse instante, contudo, Retratava na face, Embora atarantado, ansioso e mudo, O júbilo de quem se libertasse Das algemas de longo cativeiro, Pois percebia, enfim, que acima do dinheiro, Mostrava mais poder e muito mais valor A lembrança do bem numa prece de amor!… |