Resplendia o jardim celeste em pleno Espaço. Era o maravilhoso dia De alto deslumbramento Do encontro de união e de alegria Dos que haviam servido, passo a passo, Nas tarefas do amor sem recompensa Na Terra, onde o egoísmo Tanta vez se condensa. Era uma nesga azul de solo rarefeito Matizada de flores Bordadas de arabescos multicores Onde podia respirar apenas Quem já pudesse irradiar As vibrações serenas Da fé sublime alçada ao bem perfeito. Não eram muitos os conquistadores Daquela posição de excelsos resplendores; Quarenta e dois Espíritos somente, Todos eles modelos de bondade, Eram ali o escol da Humanidade, Em atitude calma e reverente Esperando a sonhada promoção Que constaria Do poder de elevar-se à próxima ascensão. Na luminosa e ilustre confraria Estavam sacerdotes de renome, Filósofos, notáveis pensadores, Nobres mulheres, santas heroínas, Monges mostrando frontes peregrinas, Jovens que haviam sido vencedores De tentações terríveis… Todos trocavam frases de altos níveis… Somente alguém, ali, em meio a tudo, Que era festa de brilho e de beleza, Parecia um mendigo triste e mudo, Era o irmão Jonaquim, Desconhecido entre os demais… Vestia-se com peles de animais, Remarcadas de lama… Na expressão rude e feia, Exibia sinais de sangue, lodo e areia; Jazia ele a um canto, humilde e pensativo, Enquanto o grupo conversava em festa. Chegara o instante, enfim, Da nobre promoção; Aquele dos presentes que tivesse O menor peso espiritual Seria alçado à frente Do caminho esplendente Para mansões mais altas e mais belas Da Vida Universal. Vieram ao recinto os dois encarregados, Ambos chamados Anjos da Balança, E os candidatos sem qualquer despeito, Deixaram-se pesar num instrumento perfeito Que lhes patenteava A evolução imensa… E o peso em cada um Era leve, tão leve, Que não se via quase Uma pequena base Para que se notasse a diferença… O recatado Jonaquim Ficou de longe, muito ao longe, E sendo o último no exame Foi chamado por fim. Ele veio acanhado, Pés descalços no apoio de um bordão, E um dos dois mensageiros perguntou: — Jonaquim, meu irmão, Dizei: qual foi na Terra a vossa religião? Precisamos aqui de vossos dados Para serem por nós Devidamente revisados. No entanto, Jonaquim, humilde, respondeu: — Anjo bom, sou sincero… Crede!… Eu Não tive sobre a Terra a fé pregada, Acreditei, como acredito agora Na presença de Deus que nos guarda e aprimora, Entretanto, Por mais que eu desejasse procurar Um templo ou algum lugar Para aprender como se adora a Deus, Nunca pude sair, Da choça em que morei, ao pé de antiga estrada Onde os que sofrem eram irmãos meus… Era um deserto a terra em que vivi… Despendi muito tempo A transportar crianças e doentes Que ansiavam por água em solos diferentes… Minha estreita choupana Era uma porta aberta à desventura humana… Ouvi a confissão de míseros velhinhos Que clamavam, em vão, pelos parentes, Agonizando, desvalidos, E aguardando, debalde, os próprios descendentes… De quantos eu cerrei, na morte, os olhos baços Não saberei o número por certo… Só Deus sabe os que vi morrendo nos meus braços E os que enterrei, a sós, na penúria sem nome, E as crianças sem apoio que me buscavam, Sentindo sede e fome… Deus me perdoe se nunca fui às crenças Para estudar a fé e entender diferenças… Ouvi dizer, na Terra, que houve um homem Que nunca descansou, fazendo o bem, Que amou aos bons e aos maus sem ferir a ninguém!… Ah! como desejava tê-lo visto!… Dizem que se chamava Jesus-Cristo; Nunca lhe ouvi, no mundo, os lúcidos ensinos E ouvi também dizer que por serem divinos Ele morreu na cruz… A pequena assembleia Escutava, expectante e enternecida Aquele que soubera amenizar a vida. E os Anjos da Balança Puseram Jonaquim, sob o exame preciso, Em nome de Jesus… Depois anunciaram num sorriso Que o velho Jonaquim tinha o peso da luz. |