Ao Homem que caíra em franco desalento O Tempo apareceu, qual companheiro atento, E falou-lhe, depois, com carinho invulgar: — Amigo, não te dês à tristeza vazia, O Céu nos recomenda em cada novo dia: — Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar… Isso é de lei na própria Natureza, Quando a tormenta cai sobre a erva indefesa, Qual gigante rugindo a pleno ar, A vida a renascer do vale à serra, Determina, em silêncio, ao coração da Terra: — Servir e prosseguir, confiar, confiar… O rio ataca os muros da represa, Esbraveja, ante as forças de defesa, Buscando a fuga por qualquer lugar; Vence, depois, sem freio que o detenha E a água proclama quando se despenha: — Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar… Para a semente vale por insulto O gesto que a retém num canto oculto, Qual se fora um veneno a desprezar; Mas, atenta à recôndita energia, Germina procurando o sol que canta de alegria: — Servir e prosseguir, confiar, confiar… Quem aceitou do Céu, como um favor divino, Burilar-se a sofrer e guardar por destino O dom de se esquecer e auxiliar, Por mais lute nas trilhas em que avança, Ouve em si a palavra da esperança: — Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar… O Homem que se pusera, enternecido, à escuta. Sentiu-se aliviado, ante os riscos da luta, E o Tempo rematou, pedindo-lhe pensar: — Mágoas e provações? Trabalha por vencê-las, E feliz ouvirás a canção das estrelas: — Servir e prosseguir, confiar, confiar… |