Correio do Além

Capítulo V

Egle Aparecida Tavares Spadoni Braga



Egle Aparecida Tavares Spadoni Braga nasceu no dia 22 de julho de 1957, filha única de Therezinha Dias Tavares. Formou-se em arquitetura aos 21 anos de idade e trabalhava em companhia de sua mãe no 26.° Cartório de Notas da Capital de São Paulo. Casou-se com Roberto Braga a 11 de julho de 1980 e com ele sofreu acidente de moto no dia 15 de novembro de 1980, desencarnando a seguir. Suas mensagens, repletas de carinho, estímulo e reconforto à mãe, são instrumentos de alegria e bom ânimo, como Dª Therezinha mesma o diz:


DEPOIMENTO


“Tendo eu passado por uma fase muito dolorosa na vida, faço este depoimento na intenção de prestar alguma ajuda a outras mães que, como eu, possam se encontrar na mesma situação. O desencarne da minha única e querida filha foi trágico e muito rápido. Passei a viver insegura e magoada. O tempo passava e eu cada dia mais triste e sem vontade de continuar vivendo. Abandonei tudo, até o meu serviço.

A conselho de amigos e com ajuda de Deus fui até Uberaba e através da pessoa do nosso querido CHICO XAVIER obtive uma mensagem da minha Egle esclarecendo minhas dúvidas e deixando-me a certeza que a vida não só continua, como também a esperança que estamos unidas pelo pensamento. Tudo que contém a aludida mensagem é de minha Egle, não só redação e assuntos nossos como também sua assinatura.

Agora vivo mais calma e confiante tendo a certeza que a sua mensagem foi a luz que iluminou a minha escuridão. Hoje compreendo e abençoo a doutrina espírita com a esperança do reencontro e a confiança no porvir.”

São Paulo, 04 de outubro de 1982.



Querida mãezinha Therezinha, unidas vamos pedindo a Deus nos proteja e nos abençoe.

Se alguém nos dissesse, há meses, quanto nos cabia aceitar da vida, em matéria de surpresas e tribulações de certo não acreditaríamos. Mas é com a mesma confiança de todos os momentos que venho até aqui com a vovó Hebe rogar-lhe paz e esperança.

Mãezinha, levante-se das lágrimas e contemplemos o Céu de Deus! Não esmoreça. Não admita que a sua afeição por mim poderia anular a nossa prova nos desajustes havidos. Agora vou aprendendo devagar que todas as aflições produzem alegria e tranquilidade, quando lhes atravessamos as sombras de ânimo erguido à fé em Deus. Você que me ensinou a ser forte, auxilie-me agora a vê-la reconfortada. Você, mamãe, que colocou em meus lábios o nome de Deus, escore-se em mim, através da lembrança, para fixarmos a presença de Deus em tudo o que nos rodeia e em tudo o que nos aconteceu.

O nosso querido Roberto não teve culpa. A moto saltou sobre um obstáculo com tamanho ímpeto que me vi atirada no chão. Não tive tempo para pensar. O choque me prensou a cabeça, qual se o meu cérebro se convulsionasse na destruição de si mesmo… Escutei os chamados do esposo que tentava me reanimar, no entanto, um sono invencível me dominou todas as energias.

Nada mais soube senão que acordei num aposento espaçoso e reconfortante, no regaço de alguém que supus fosse você… A vida é tão perfeita, depois da liberação do corpo físico, que de modo algum me imaginaria transferida de vivência e de Plano… Uma dor de cabeça insistente me travava os movimentos e deixei-me aquietada naquele colo de carinho e de bênção, sem palavras e sem outros sinais que não fossem os meus pensamentos voltados para o Roberto, a fim de tranquilizá-lo. E digo assim porque a certeza de que estava em sua companhia não se me arredava da mente; com surpresa porém, logo após, me vi diante da vovó Hebe e da vovó Clementina que me retinham perto do coração.

Você pode imaginar o meu espanto, até que a compreensão de tudo desabrochou, de repente, por dentro de minha alma e percebi que era preciso encontrá-la para dizer-lhe que estava mais viva do que antes e que necessitava de sua tranquilidade para recobrar a minha própria paz. As queridas benfeitoras me reconfortaram, mas não descansei enquanto não misturamos nós duas, as mesmas lágrimas. Agora que não preciso detalhar a nossa situação, peço-lhe coragem para retomar os nossos hábitos. Não precisará idear circunstâncias inexistentes, porque o nosso Roberto não teve culpa alguma, repito. Naturalmente, tudo devia suceder qual sucedeu para que nós duas retornássemos à completa integração uma com a outra.

Mãezinha, volte ao seu trabalho e perdoe sua filha, se tomei a máquina sabendo que você estaria aflita por minha causa. Perdoe-me e saiba que preciso também de sua paz, a fim de retornar à minha tranquilidade própria.

A casa do tio Irlei e da tia Neusa é um santo refúgio, mas temos o nosso recanto na cidade. Não viaje tanto e volte aos nossos documentos do cartório. O trabalho dissolverá nossas penas. Imagine-me ainda sua criança. Ensine-me a falar em Deus, faça-me rezar de novo. Direi que você é a minha mãezinha Therê, e nós duas sozinhas nos beijaremos com aquela certeza de que sou de seus braços por haver nascido de seu coração.

Se algum ressentimento espiar a sua alma querida, não permita que essa sombra possa entrar em seus sentimentos de mãe. Tudo passou. Não ferimos a ninguém. Sempre fomos felizes. Pois agora, mamãe, dê felicidade à sua filha outra vez. Não estou contente sem você, mas calma e confiante em Deus. A morte do corpo não nos separará.

Embora haja contrariado a sua ternura, fale ainda que eu sou o seu tesouro. Isso me dará forças para reviver como devo e preciso. Há muito serviço esperando por nós. Não se sinta exonerada da alegria de trabalhar e de viver.

Com a mãezinha Hebe, mãe de nós duas que nos considerava duas irmãs, deixo-lhe nestas palavras todo o meu carinho e a minha própria vida, a sua filha, sempre a sua filha do coração.

(Lembranças ao Luiz Carlos )


20 de março de 1981.



Mãezinha Therezinha, abençoe-me com o seu carinho e continue a ser o meu apoio de sempre. Estou muito grata com a sua deliberação de aproximar-se do nosso querido Roberto, cuja presença aqui significa imenso reconforto em benefício de sua Egle.

Querida mamãe Therezinha, parece-nos que todas as fases de minha vida deviam copiar o movimento dos relâmpagos. Em tempo reduzido, avancei de minhas brincadeiras de menina para os sonhos de mocidade que não chegou a ser… Digo assim, porque a juventude verde me assinalou o casamento que somente completou um período anual neste mês de julho, quando, há mais de seis meses, já me encontro na 5ida Espiritual.

Isso tudo me vem à consideração porque desejo ver o nosso Roberto plenamente livre para reassumir os seus propósitos de erguer um lar e ser feliz dentro dele. Aqui abro um parágrafo em minhas reflexões para afirmar ao querido companheiro que já não sou mais a namorada ciumenta ou a esposa enraizada nas ideias possessivas nas quais ele me conheceu.

A vovó Hebe e a vovó Clementina foram minhas instrutoras nos meses últimos e fizeram-me reconhecer que o amor só é realmente amor quando liberta a pessoa amada. E desejo que o nosso Roberto receba de Deus a felicidade que ele faz por merecer.

Mãezinha, tranquilize-se a meu respeito. Se voltei à Vida Espiritual, forças que não conhecemos assim determinaram. Não houve interferência de sombras na luz de Deus. Agora, regozijo-me com os seus exemplos de trabalho e aceitação. Temos muito a fazer no domínio do apoio aos necessitados. Novos ideais estão nascendo no cérebro de sua filha e tenho em suas mãos as duas antenas com as quais espero irradiar a mensagem de minha renovação através do trabalho em auxílio aos nossos semelhantes.

O nosso amigo Pedro Ivoskaa é um notável amigo das boas obras que me veio da família do Roberto e ele igualmente nos partilhará da viagem de beneficência que havemos de empreender.

Querida mãezinha Therezinha, nada de crermos em distância e solidão. Estamos integradas uma na outra, no mesmo barco iluminado de esperança. Tenho a ideia de que a Bondade Celeste me retirou dos constrangimentos da vida física, em plena estrada, para que eu pusesse os pés no caminho do bem aos outros, o que farei com a sua proteção e com o seu concurso.

Desejo ao querido companheiro presente um futuro de bênçãos e, com os meus melhores votos de paz e confiança, dou-me ao seu coração, querida mãezinha Therezinha, na certeza de que eu mesma, com as minhas esperanças e com os meus defeitos, sou por mim própria, tudo o que tenho para lhe dar.

Como sempre, a sua filha de todos os momentos,


25 de julho de 1981.


NOTAS


1 — Hebe — avó materna, falecida em 25.04.1976.

2 — Roberto Braga — marido.

3 — Clementina — bisavó materna, falecida em 4.03.1955.

4 — Irlei — tio materno. Neusa — esposa de Irlei.

5 — Luiz Carlos Elchin — amigo da família, presente no momento da mensagem.

6 — Pedro Ivoska — avô de Roberto Braga.