Mais tarde, servo que descansas, Quando a sombra envolver-te os olhos fatigados, A noção do tempo crescerá em tua alma E o senhor da Vinha Dir-te-á do monte da consciência: — Que fizeste da manhã cheia de luz? Onde guardaste os raios do sol, As gotas do orvalho, As sementes divinas, O arado amigo e realizador. Que fizeste do meio-dia rutilante Onde deixaste Os rebentos novos, As flores opulentas, Os frutos generosos, A dádiva do suor? Contemplarás as mãos vazias, Suportarás o coração tocado de remorso E dirás, em, obediência Ao antigo hábito de enganar a ti mesmo: — O Sol causticante crestou a terra de meu campo, Chuvas copiosas trouxeram imensas inundações… Vermes invasores destruíram a erva tenra, Serpentes venenosas atacaram-me os pés. Aos espinheiros que se erguiam acima do solo Respondiam pedras embaixo, Anulando-me a tarefa… Se surgiam alguns brotos na encosta, A lama descia célere… Se rebentos humildes vinham à planície, Os detritos da serra Formavam pântanos implacáveis Aniquilando-me a sementeira. Que poderia fazer, então, Se todos os perigos da Natureza congregavam-se contra mim? O Senhor da Vinha, porém, Ouvirá complacente E, antes de tornar Ao seu próprio trabalho, No campo universal e infinito dos séculos, Responderá: — Não te queixes. O sol causticante, A chuva torrencial, Os vermes e as serpentes, Os espinhos e as pedras, A lama e o pântano, Eram as ferramentas que te dei… Mas… espera! Outro dia virá!… Tentarás justificar-te, inda uma vez; Todavia, O último raio de sol despedir-se-á do céu E o rosto do Senhor Desaparecerá no grande silêncio. E então errarás de vale em vale, de montanha em montanha, Sangrando o coração sob ríspido açoite, Angustiado e sozinho, Porque no teu caminho Reinará, longo tempo, enorme e espessa noite!… |