Correio Fraterno

Capítulo IX

Ao companheiro juvenil



Meu Filho:

Integrado numa agremiação juvenil de Espiritismo Cristão, você, confiadamente, pede esclarecimentos e diretrizes.

Sinto-me, contudo, embaraçado para faze-lo.

Que trabalhador de nossa estirpe estará bastante habilitado para aconselhar com segurança? quem não terá infantilidades no coração?

Mas se você está realmente comungando os ideais da Doutrina que nos é preciosa, nela própria você encontrará o roteiro de que necessita.

O Espiritismo, descerrando a pesada cortina que velava, até agora, os segredos do túmulo, não é somente a academia santificante de sábios e heróis, mas também a escola abençoada de pais e mães, pensadores e artistas, condutores e artífices, formando missionários do bem e do progresso.

Atendendo-lhe aos ensinamentos, poderá galgar múltiplos degraus da sublime ascensão.

Entretanto, pássaro embriagado de liberdade, ante o horizonte infinito, você poderá comprometer o trabalho do próprio burilamento espiritual, se não souber manejar, simultaneamente, as asas do entusiasmo e da prudência.

Nesse sentido, se algo posso rogar a você, não menospreze a experiência dos mais velhos.

Já sei a qualidade de suas objeções.

“Nem sempre os maduros são os melhores — dirá em suas reflexões sem palavras —; tenho visto velhos desprezíveis, viciados e portadores de maus exemplos.”

Não julguemos apressadamente. Considere que os pioneiros da luta, encontrados por você, no grande caminho da vida, talvez não tenham recebido as oportunidades que brilham em suas mãos.

Ainda que lhe pareçam inconsistentes ou contraditórios, duros ou exigentes, ouça, com respeito e serenidade, o que digam ou ensinem.

Que seria de nós, sem o esforço de quem nos antecede?

Invariavelmente, aprendemos alguma coisa de útil ou de belo, alicerçando-nos na lição de quem lutou, antes de nós.

Acima de tudo, lembre-se de que fomos chamados para ajudar.

Velhos e novos já possuem críticos em excesso.

O mundo está repleto de espinheiros e raras criaturas aparecem dispostas ao cultivo do bom grão.

É possível não possa concordar com os mais velhos em certas particularidades da experiência comum; no entanto, o silêncio é o melhor remédio onde não podemos auxiliar.

Se você também, vergôntea promissora, pretende adquirir os defeitos dos galhos decadentes, confiando-se aos vermes do sarcasmo ou da rebelião, que será do tronco venerável da vida?

Em todos os climas, o nosso concurso ativo, na extensão do bem, é o serviço mais apreciável que podemos prestar à Humanidade e ao Mundo. E, além disso, saiba que a existência na Terra se assemelha à travessia de longa avenida, onde os transeuntes ocupam lugares diferentes, no espaço e no tempo. Hoje, você começa a palmilhá-la; todavia, dentro de algum tempo, atingirá a posição dos que já amadureceram na jornada, exibindo alterações na carne e carregando diferentes impulsos no coração.

Cultive a afabilidade com todos e não olvide que a Lei lhe restituirá o que você houver semeado.

Não inveje a prosperidade dos homens inescrupulosos e indiferentes. A ilusão temporária pode ser dos ímpios; contudo, a verdadeira paz é patrimônio dos simples e dos bons…

Estude e trabalhe, incessantemente. O estudo favorece o crescimento espiritual. O trabalho confere grandeza.

Conseguirá você ostentar os mais belos títulos na galeria dos jovens espiritualistas, mas, se foge ao livro e à observação e se lhe desagradam o serviço e a disciplina, não passará de um menino irrequieto e desarvorado, para quem os dias reservam amargos ensinamentos.

Quanto ao mais, se você deseja partilhar, com sinceridade, a experiência cristã, comece a viver, entre as paredes de sua própria casa, segundo os princípios sublimes que abraçou com Jesus. Quem puder fazer a boa vizinhança com os parentes consanguíneos ou souber merecer o apoio legítimo dos amigos e conhecidos, terá conquistado elogiáveis habilitações, no campo da vida. Mas se você também está conversando no bem, com receio de praticá-lo, gastando o tesouro do tempo, em vão, prepare-se, convenientemente, para receber dos jovens de amanhã a mesma desconfiança e a mesma ironia com que são tratados os velhos menos felizes de hoje.


(.Humberto de Campos)