Correio Fraterno

Capítulo XIV

De quem seria?



Afinal, meus irmãos, de quem seria o crime?

Daquele, cujo braço impôs a morte

Ao coração de alguém?

Ou desse mesmo coração caído,

Que inerte e mudo agora se mantém?


A quem se atiraria a mancha em rosto?

À vítima tombada? ao verdugo suposto?

Ou será que outro alguém.

É o verdadeiro autor dessa agonia alheia,

Escondido na sombra,

À feição de uma aranha em sua própria teia?


Compreendido, porém,

Que o crime sempre nasce

De uma ideia feroz,

Quem teria pensado nele, antes?

Os outros? Talvez nós?


Quem lhe teria dado a forma de começo

Na roupagem de alguma frase louca?

O inimigo, o vizinho, o companheiro

Ou nós mesmos com a nossa própria boca?


De permeio à incerteza e à insegurança,

Sem que se saiba, ao certo, onde a culpa é nascida,

Transformemos o amor numa f ante perene

Que dissipe na Terra as angústias da vida.


E se alguém surge em falta,

Recordemos Jesus, onde a censura medra:

— Aquele que estiver sem sombra de pecado,

Lance a primeira pedra. (Jo 8:7)