Cura

Capítulo XX

Sombra e luz



Nenhum Espírito da comunidade terrestre possui tanta luz que não admita em si certa nesga de sombra, nem existe criatura com tanta sombra que não guarde consigo certa faixa de luz.

Aprende a fixar o próximo com a claridade que há em ti.

Não creias, porém, que semelhante trabalho se filie ao menor esforço, porque, pelo peso das trevas que ainda imperam no mundo, a sombra que ainda nos envolve, na Terra, a cada instante, insinuar-se-nos-á no próprio entendimento, perturbando-nos as interpretações.

Se te demoras na obscuridade, não enxergarás senão os defeitos e as cicatrizes, as feridas e as nódoas que caracterizam a fisionomia do irmão infortunado, constrangendo-te ao medo e à usura, à incompreensão e à aspereza. E sabemos que quantos se detêm no cipoal ou no charco não encontram outros elementos, além da lama ou do espinho, para oferecer.

Alça a lâmpada acesa do conhecimento superior e avança para a frente, e, então, a ignorância e a delinquência surgir-nos-ão aos olhos por enfermidades da alma, que é preciso extirpar, a benefício da felicidade comum.

“Não saiba a vossa mão esquerda o que deu a direita” (Mt 6:3) — ensina-nos o Evangelho — e ousamos acrescentar: “não saiba a nossa sombra o que fez a nossa luz”; porque, dessa forma, avançando, acima das tentações da vaidade e do desânimo, a chispa humilde de nossa fé no Bem Infinito poderá transformar-se em chama viva e redentora para o caminho de todos os que nos cercam.