Cura

Capítulo IX

Responsabilidade



Quase sempre registrando a afirmativa do Senhor — “muito se pedirá a quem muito recebeu” (Lc 12:48) () — automaticamente nos recordamos daquelas criaturas a quem devemos apreço pela eminência a que foram guindadas nas telas de nosso tempo e de nossa vida.

E lembramos os grandes mordomos da economia amoedada, os vultos distintos da religião, os destacados criadores do pensamento literário, os cientistas de prol e personalidades outras de nosso convívio que transcenderam por seu trabalho a ordem comum.

E delas exigindo maiores somas de renunciação pessoal em nosso proveito, esquecemo-nos da quota de recursos do espírito que nos foi concedida para que também nós nos ergamos de nível no campo da experiência.

É imperioso saber que a responsabilidade não pode centralizar-se de maneira absoluta em alguém, sob pena de sufocarmos o progresso.

À feição da escola em que a instrução crescente é patrimônio de aprendizes e educadores e à maneira da oficina em que o trabalho é a riqueza de dirigentes e dirigidos, no terreno das conquistas morais é preciso não esquecer que todos somos chamados à obra em conjunto, na qual somos todos devedores à felicidade geral, no esforço que corresponda aos valores que recebemos da vida.

Ante a palavra de Cristo, não te fixes apenas no “muito” que os outros entesouraram, mas lembra acima de tudo os talentos que guardas por tua vez à espera de tua própria consagração ao bem, para que possas responder sem corar no balanço das horas, quando se pedirá de ti contas justas das bênçãos de segurança e conhecimento que acumulas contigo, com a obrigação de faze-las frutificar na esfera do serviço e no campo do rendimento, considerando-se as necessidades do próximo.




(Reformador, julho 1960, p. 150)