O Espírito da Verdade

Capítulo XXI

Discípulos do Cristo



O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO —


Somos discípulos do Cristo.

Mas, repetindo com Ele a sublime afirmação: — “Pai nosso que estais no Céu” (Mt 6:9) —, esperamos que Deus se transforme em nosso escravo particular, atento às nossas ilusões e caprichos.


Somos discípulos do Cristo.

Contudo, redizendo-lhe as inesquecíveis palavras de submissão ao Criador: — “seja feita a vossa vontade” (Mt 6:10) —, assemelhamo-nos a vulcões de intemperança mental, vomitando fumo de rebeldia e lava de imprecações, sempre que nos sintamos contrariados na execução de pequeninos desejos.


Somos discípulos do Cristo.

Entretanto, refazendo-lhe a súplica ao Pai de Infinito Amor: — “o pão de cada dia dai-nos hoje” (Mt 6:11) —, reclamamos a carcaça do boi e a safra do trigo exclusivamente para a nossa casa, esquecendo-nos de que, ao redor de nossa mesa insaciável, milhares de companheiros desfalecem de fome.


Somos discípulos do Cristo.

Todavia, depois de implorar com o Sábio Orientador à Eterna Justiça: — “perdoai as nossas dívidas” (Mt 6:12) —, mentalizamos, de imediato, a melhor maneira de cultivar aversões e malquerenças, aperfeiçoando, assim, os métodos de odiar os mais fortes e oprimir os mais fracos.


Somos discípulos do Cristo.

No entanto, mal acabamos de pedir a Deus, em companhia do Grande Benfeitor: — “não nos deixeis cair em tentação” (Mt 6:13) —, procuramos, por nós mesmos, aprisionar o sentimento nas esparrelas do vício.


Somos discípulos do Cristo.

Contudo, rogando ao Todo-Poderoso, junto do Inefável Companheiro: — “livrai-nos de todo o mal” (Mt 6:13) —, construímos canhões e fabricamos bombas mortíferas para arrasar a vida dos semelhantes.


Somos discípulos do Cristo.

Mas convertemos o próximo em alimária de nossos interesses escusos, olvidando o dever da fraternidade, para desfrutarmos, no mundo, a parte do leão.


É por isso que somos, na atualidade da Terra, os cristãos incrédulos, que ensinamos sem crer e pregamos sem praticar, trazendo o cérebro luminoso e o coração amargo.

E é assim que, atormentados por dificuldades e crises de toda espécie — aflitiva colheita de velhos males —, cada qual de nós tem necessidade de prosternar-se perante o Mestre Divino, à maneira do escriba do Evangelho, guardando nalma o próprio sonho de felicidade, enfermiço ou semimorto, a exorar em contraditória rogativa: — “Senhor, eu creio! Ajuda a minha incredulidade!” (Mc 9:24)




(Psicografia de Francisco C. Xavier)