Disse-nos o Senhor: — “Quem quiser encontrar-me Tome a sua cruz e siga-me onde eu for…” (Mt E um homem que o seguiu, sem queixa e sem alarme, Observou que o lenho o constrangia… Caminhou, mas não mais na antiga estrada. A cruz era pesada Na marcha, dia a dia… Perdeu de vista a risonha paisagem, Na qual usufruíra o amor de sua gente… Precisava escalar rude montanha na viagem E se reconhecia, a sós, agarrando-se à frente. Embora a cruz lhe desse chagas e cicatrizes, Conseguia falar, fraternalmente, Reconfortando os tristes e infelizes.. Levantava os caídos, Doava nova força aos fracos e aos doentes. Consolava os leprosos esquecidos, Regenerava os delinquentes… Em muitos trechos da subida, Tratavam-no por louco e davam-lhe pedradas… Deprimiam-lhe a vida… Quanto insulto e suplício nas estradas!… No entanto, ele subia… Trazia o Cristo em luz na própria mente. Não tinha acessos de melancolia E sim uma alegria diferente… Mas chorava, por vezes, de cansaço, A sentir, sob os pés, o vigor dos espinhos. Refazia-se, vendo o Azul do Imenso Espaço E ouvindo a voz do Céu na voz dos passarinhos… Alcançando, porém, o cimo da montanha Notava-se-lhe os pés rasgados e sangrentos, E o corpo lacerado De atrozes sofrimentos… Mesmo assim, agradeceu ao Cristo Amado A viagem temível… Para atingir o topo de alto nível… Chegando ali, porém, vê, com assombro e atenção Que a Terra já não tem com ele ou sobre ele O poder de atração… Sentia-se envolvido em súbita leveza, Respirando, feliz, a paz da natureza… Reconhece que o tronco vertical do grande lenho, Transformara-se em delicado engenho E que os braços da cruz Eram asas de luz… Tentou andar mas, sem querer, Na alegria sublime que o invade, O homem que seguira os passos do Senhor, Planou além, no Além, buscando a Imensidade Inflamado de amor. |