Sim, alma irmã, Teremos sempre um Dia de Finados, Dia de sonhos mortos, Supostamente mortos, porque todos eles Ressurgem renovados, No clima de outros portos, Onde a vida, Revelada em beleza indefinida, É perene manhã. Agradeço-te as preces, Recamadas de flores, E as doces vibrações nas quais me aqueces Com pensamentos reconfortadores. Olha, porém, comigo, alma querida e boa, Este campo de mármores lavrados, Quantas vezes mais belos Que a mais formosa porcelana!… Aqui, em miniaturas de castelos, Gemem segredos de ternura humana… Ali, os rendilhados Criam lauréis no brilho das legendas; Além, anjos parados de mãos postas, Em lacrimosas oferendas, Mostram cruzes depostas, Vinculadas ao chão… Ainda além, primores de escultura, Em lápides custosas, São tesouros de amor e desventura, Orvalhados de pranto e de aflição!… Na triste majestade que se estampa, Por traço de amargura, campa em campa, Não vemos luxo e sim o sofrimento De quem ficou a sós, De coração entregue ao desalento… Entretanto, alma boa, Este reino de pedras lapidadas, Quais lâminas de dor, Quer largar-se da morte, A fim de partilhar A construção de um mundo superior… Estas altas riquezas esquecidas Ficariam mais nobres Se pudessem levar sustentação Às áreas de outras vidas, As vidas que se vão apagando, ao relento, Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento, A sonharem amparo, teto e pão, Livro, afeto, agasalho, Proteção e trabalho, Paz e renovação… Nesses doces assuntos, Oremos todos juntos… E peçamos a Deus Para que os mortos redivivos Possam solicitar aos seus entes amados A desejada alteração, A fim de que o lugar dos supostos finados Não precise brilhar entre fortunas mortas, Pois todos nós, na vida, em sentido profundo, Queremos mais conforto e alegria no mundo!… Para que nos lembremos uns dos outros, Bastam as nossas dores como são, Uma pequena cruz, um nome e a relva verde e mansa, Que nos falem de paz e de esperança Na saudade sem fim do coração. |