Querido papai Laerte e querida mamãe-ê, peço-lhes me abençoem com a vovó, com o vô Humberto, com a tia Lisle e com o tio José Lúcio.
Mãezinha, estou bem. Não chore mais com tanta dor. A lágrima é nossa, mas a aflição e o desespero não moram em nossos corações.
Estou na escola e procuro aprender com atenção. Fico o dia inteiro nas atividades do educandário a que pertenço e à tarde volto para casa onde estou residindo com as minhas avós ou bisavós Carolina e Maria Hylda que me dizem estar na condição de minhas bisavós, mas são moças muito bonitas.
Creio que na Terra a pessoa envelhece e aqui, na 5ida Espiritual, a criatura retoma a mocidade. Digo isso para que compreendam minhas notícias.
Querido papai Laerte e querido vô Humberto, o que me aconteceu não foi provocado por pessoa alguma.
Eu estava com muita sede e vendo a piscina com tanta fartura de água, estirei-me na beira, na esperança de conseguir beber água com a minha própria boca. No esforço que fazia, o corpo pesou muito e caiu na água de ponta-cabeça. Queria gritar, mas não consegui.
Debati-me até que me apanhassem; no entanto, não conhecia mais ninguém. Uma senhora se aproximou de mim e falou-me em descanso.
Pensei que me achava em presença de gente nossa de casa e deixei-me conduzir pela senhora que me seguiu até os exames, e depois me disse que eu me molhara e precisava trocar de roupa.
Carregou-me com os cuidados semelhantes aos da vovó e conduziu-me à casa diferente da nossa.
Ali trocou-me de roupa, deu-me um remédio para aliviar o cansaço que eu sentia e então, sem poder falar como desejava, dormi um sono longo, cuja duração não consigo explicar.
Quando acordei, ela me disse que poderia chamá-la por vovó Carolina e apresentou-me a outra vó, cujo nome é Maria Hylda.
Mamãe-ê elas foram e continuam carinhosas e amigas para mim, embora não possam substituí-las, a você e à vovó.
Conversaram comigo e me esclareceram que a morte não existe. Existe mudança de corpo e de morada. Falavam com tanto amor que eu não podia reclamar coisa alguma, e me auxiliaram a ir ver a querida família em Brasília.
Sinto muito a impossibilidade de ficar em nosso recanto feliz, mas a vovó Carolina prometeu que eu poderia voltar mais vezes se aceitasse as Leis de Deus com paciência e coragem. Paciência para suportar a separação sem revolta e coragem para estudar e decidir-me a crescer para o bem.
Estou escrevendo quase depressa porque a mão direita da vovó Carolina está sobre a minha mão, auxiliando-me a enviar-lhes notícias minhas.
Mãezinha, perdoe-me, você e meu pai, se fui imprudente querendo absorver a água da piscina de maneira inadequada. Não pensei que ia cair. Aprendera a ser forte e confiante.
Agora minhas avós obtiveram matrícula num instituto para meninos de minha idade. Estou a esforçar-me para ganhar pontos que me habilitem a seguir para a frente.
Ainda não sei se estou falando com vaidade, mas a vovó Carolina me afirma que estou melhor no aproveitamento da sala o que do Raphael que conta seis anos. Será que estou bem assim? Brevemente espero saber.
Sinto muitas saudades de meus avós, de você, do papai Laerte e dos meus irmãos. E saudade é uma dor para a qual aqui não encontro remédio.
A vovó Carolina me diz que a Rayana está crescendo muito viva e muito bonita. Essas notícias me alegram.
Mamãe-ê conservo os meus cabelos no mesmo estilo a que você me habituou. O corte do cabelo é todo franjado. Se você pudesse me ver, confirmaria o que digo.
Aqui temos tudo de bom para passear ou brincar com segurança, mas eu queria estar em Brasília. Ao mesmo tempo, com o entusiasmo de minhas avós sobre os estudos, tenho a esperança de me desenvolver a fim de ser-lhes útil. O vovô Humberto que estimava tanto o nosso amor aos livros saberá me compreender.
Queridos pais, não posso escrever mais. A vovó Carolina me informa que já escrevi o necessário.
Soube que vou receber a visita de vários parentes nossos. E espero dar-lhes, em breve, minhas novas notícias.
Um beijo para Rayana e um abraço para o Raphael, com muitas saudades de todos, e ainda inseguro para escrever sem a mão protetora de minha avó.
Vou terminar com lembranças para todos os nossos presentes e ausentes.
Papai Laerte e mamãe-ê recebam com os meus queridos avós as saudades e o carinho invariável do filho que lhes será sempre agradecido,
Renato
Nascido em Brasília, DF, a 09/04/1985. Desencarnado em Brasília, aos 2 anos de idade.
Pais: Laerte Nóbrega e Iraê Nóbrega — FQN 112, Bloco C, Apto. 103 — CEP. 70765-030 — Brasília — DF.
Avô materno: Humberto Lucena
Tia: Lisle Lucena
Avó materna: Ruth Maria
Amigo da família: José Lúcio
Tataravó materna: Carolina
Bisavó paterna: Maria Hylda
Irmão: Raphael Nóbrega
Irmã: Rayana Nóbrega
Querido papai Laerte e querida mãezinha Iraê, com todos os nossos.
Dois anos marcarão amanhã a nossa ausência e estou muito agradecido ao carinho com que a família me recorda.
Mamãe-ê, estou muito melhor, mas a vovó Carolina coloca a mão direita sobre a minha mão para que consiga escrever com segurança. Diz ela que estaria grafando palavras diante de público numeroso e precisava de auxílio para dar notícias sem erros, tanto quanto possível.
Ela, a vovó Carolina, e a vovó Maria Hylda, com as quais tenho residência, me explicam que tenho melhorado nos exercícios da escola e creio, mãezinha, que estou quase na frente do Raphael, porque na idade, ele está na frente de mim. Digo isso com alegria, porque o vovô Humberto sempre me dizia que necessitava de mais dedicação ao abecedário.
Estou feliz porque não me esqueço de nossa família e vejo que não sou esquecido por ela. Não sei porque, mas a gente gosta muito de ser lembrado por aqueles que amamos e com isso, nosso amor a todos os nossos familiares é uma luz aumentando no coração.
Quero dizer à tia Lisle que estou escrevendo com atenção. Há dias, na escola, quando a professora mandou que fizéssemos uma frase por nós mesmos, escrevi assim: — Amo muito a mamãe, a vovó Ruth e a querida tia Lisle.
A professora leu as minhas palavras em voz alta e falou: — Renato, você nesta frase colocou a sua preferência no papel. — Por quê? Perguntei. Ela explicou que eu havia escrito o vocábulo “querida” para a tia Lisle.
Achei graça, mas quero dizer a você e à vovó Ruth, que não tenho pouco amor às duas e sim muito amor a todas três, como estou ligado pelo coração aos meus irmãos Raphael e Rayana. Aos meus avós e tios, todos estão reunidos em minhas lembranças.
Mamãe-ê, as saudades não terminam. No entanto, a minha fé em Deus tem aumentado. Não sei se já lhe disse que minhas avós Carolina e Maria Hylda são professoras e zelam muito por minha paz.
Penso que vou crescer muito depressa e se eu pudesse enviaria a você e ao papai os meus retratos novos. Fico aflito por fazer isso, mas a vovó Carolina esclarece que terei o tempo e a oportunidade para realizar o meu desejo.
Aqui tudo é bonito demais para que eu saiba descrever alguma coisa. Apesar disso, as saudades de vocês estão sempre comigo, de você, do papai e de meus irmãos.
A querida mãezinha se lembrará do meu desejo de levar todos os nossos nos passeios que fazíamos, para ver o grande lago em Brasília.
Pois aqui, a beleza é maior. Às vezes, quero exceder-me na demora, em certos lugares, mas sinto falta do Raphael e da Rayana, e isso me faz desistir de muitas excursões.
Quando falo que a tia Lisle gostaria de ver as árvores balançando ao vento, a vovó Carolina me avisa para não fazer saudades na tia, porque ela deve se demorar na Terra e eu não devo ficar falando como quem está chamando por ela. A verdade, mãezinha, é que as minhas avós têm razão porque tudo deve ter o momento de Deus marcando as ocasiões.
Tenho visto muita gente que eu não conhecia e sou estimado por eles. Muitos falam que eram meus amigos, antes que eu nascesse em nosso querido lar, mas eu ainda não compreendo o que desejam dizer.
Quando isso acontece, a vovó Carolina me apressa em mudar de assunto e creio que ela não me vê numa compreensão bastante clara das questões e das coisas. Entendo que isso deve ser assim e aprendi a não ficar perguntando.
Agradeço ao papai Laerte a atenção que deu as palavras que escrevi e digo a ele que já me esqueci da piscina. Hoje, eu não mais me deitaria no chão para beber água. As avós me ensinam muitas lições de vida que, às vezes, fico a refletir como não pensava nesses ensinamentos.
Envio ao vovô Humberto e à vovó Ruth Maria, muitos agradecimentos e saudades. O que a nossa família quiser fazer para enfeitar o meu segundo aniversário, pode fazer porque o mais lindo em tudo o que se faz, vem da oração. Parece, mãezinha, que a prece de uma pessoa é igual ao perfume da flor que exala o aroma da fé e da bondade, quando pensa em Deus.
Muitas lembranças a todos. Diz à vovó Carolina, que no ano futuro escreverei melhor do que agora. Um abraço ao Raphael e à Rayana.
Para você e para meu pai, com todos os nossos, um beijo muito respeitoso do filho que lhes deve tanto amor,
Renato.
Bisavó materna: Ruth Heusi
Minha querida mãezinha Iraê e meu querido papai Laerte.
Meus votos de paz e saúde, bom ânimo e alegria aos queridos pais, aos meus irmãos Raphael e Rayana, e a todos os familiares. Venho trazer-lhes o meu coração e peço permissão à mãezinha para pedir a bênção da tia Lisle, também presente.
Mãezinha, com papai, não se agastem quando alguma dificuldade apareça.
A vovó Carolina, que coloca a mão dela sobre a minha mão para que eu lhes escreva esta carta, diz que a dificuldade e as reações negativas, que tantas vezes surgem com ela são estudos enviados a nós pelos mentores da vida superior, à feição de testes em nosso benefício.
Muitas vezes elas são exercícios, igualmente nossos na vivência da Terra; não são fracassos para nós e sim experiências de que necessitamos.
Existem notas na 5ida Espiritual para as pessoas que estão no mundo físico e as notas dessa natureza são sempre rigorosas. A criatura perde, sem saber que perdeu o melhor para ela, na multidão das provas, que se fossem aceitas representaria o prêmio espiritual que as faria felizes. O que digo vem das lições que minha avó Carolina me faz saber, sobretudo mostrando-me que na paciência e na humildade de nós para com os outros, cria a compensação que desejaríamos, em forma de felicidade e paz.
Para mim, aqui onde estou, são verdadeiros problemas, no entanto, minha avó Carolina me faz crer que estou errado e que as notas que obtenho na escola são apoio benigno para o futuro. Estou dizendo isso, querida mãezinha Iraê, para dizer-lhe quanto devemos, nós os seus filhos, à sua bondade e tolerância, de vez que a sua dedicação, da vovó Ruth e da Tia Lisle, aí no mundo sempre nos auxiliaram a fazer o melhor ao nosso alcance; e aqui a vó Carolina e a vó Maria Hylda sempre nos ensinam aquilo que devemos aprender com calma e carinho para que saibamos fazer o bem, no que ambas já se fazem professoras.
Tenho acompanhado o Raphael nos estudos e a vovó Carolina afirma que estou mais adiantado do que ele. Não acredito que minha vó fale isso somente para me estimular, no entanto fico feliz ouvindo dela palavras tão animadoras, mas penso que isso é também um teste para que eu aprenda humildade e desista de esperar que eu esteja em melhores condições, reconhecendo que muitos colegas, considerados anônimos, estão com vantagens e notas que ainda não mereço.
Nossa vida aqui transcorre em paz e vejo que isso acontece porque muitos de meus companheiros aqui, em vão, fazem o possível para estarem tranquilos; muitos deles sofrem com a irritação e outras provas; vendo isso, a gente pode medir o que fazem os meus entes queridos em nosso favor e compreendemos quanto nos cabe fazer para auxiliá-los na solução dos problemas de uns para com os outros.
Mãezinha Iraê e papai Laerte, posso afirmar que estou sempre muito alegre ao vê-los contentes. Sabemos que a nossa felicidade é ver com saúde todos aqueles, junto dos quais Deus nos colocou. Quero dizer que também gosto muito da tia Lisle, junto daquele que chamarei por tio Itamar e que estarei feliz, se Jesus permitir, que eles dois se unam em casamento. Já falei nisso até em meus exercícios da escola.
Mãezinha, desejo contar-lhe que a Carla veio novamente visitar-nos; falou-nos ainda que a mãezinha dela continua aflita e que a irmãzinha dela ainda se acha no tratamento especializado. Perguntei à vó Carolina por que acontecem acidentes, e ela me explicou que acontecem por serem reajustes de nossos Espíritos perante as vidas passadas, e acrescentou que mais tarde eu entenderei isso de maneira melhor.
Vó Carolina referiu-se à nossa Camila, que nos é tão querida, já que ela estava conosco. A pedido de vó Carolina ela afirmou que em casa, na Terra, a família dela está sofrendo muito com o filho que abandonou os próprios deveres e aceitou a intimidade com amigos que o prejudicam e lhe furtam a paz.
Papai Laerte e mãezinha Iraê, perdoem-me se estou escrevendo sobre assuntos caseiros, entretanto diz minha vó Carolina que isso é permitido para que possamos alertar os pais na Terra, de modo que os filhos pequeninos cedo recebam recursos de educação, a fim de que não percam a boa consciência e a alegria de viver. Diz ela que as companhias podem levar a grandes perigos contra nós mesmos.
Peço à mãezinha, ao papai Laerte e à tia Lisle me desculpem por haver apresentado aqui tantos assuntos domésticos.
Mãezinha, envio muitas lembranças para o Raphael e Rayana, irmãos que não me saem da memória. Votos de paz e felicidade para toda nossa família, com um beijão nas mãos do avô Lucena.
Realmente a saudade é uma dor muito grande, mas não podemos perder a resignação e a esperança.
Aos pais queridos e à querida tia Lisle, muito amor e gratidão do filho, neto e sobrinho que não os esquece,
Renato.
Renato Lucena Nóbrega.
Prima: Carla (desencarnada a 26/02/1986 em acidente automobilístico).
Camila: Pessoa desencarnada, até então desconhecida pela família na Terra.
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