Depois da Travessia

Capítulo XVI

Meu algoz é minha própria consciência



24|03|1938


Sou eu, meus amigos, quem se valerá nesta minha amargura sempre!… Ele… a seguir-me com seus grandes olhos!… Que força é esta que nos acompanha depois da própria sepultura? Vossos pensamentos me atraíram e sinto algum alívio confessando as minhas faltas… Fui eu o verdadeiro criminoso… salpicando com o lodo da calúnia o nome de um homem honesto e justo. Pago caro a ambição da vida terrestre…

. Debalde, procuro obscurecê-la. Debalde, tapo os ouvidos para não lhe ouvir os gritos reiterados: “Caim, Caim, o que fizeste de teu irmão?” (Gn 4:9) Debalde oculto de mim mesmo a minha grande desventura. Toda a paz se esvai como num sonho… Minh’alma perambula nos vales enevoados e frios da fazenda de Ponta Grossa.

Para que o meu erro esteja patente em meu coração, vós, meus amigos, estendei-me as mãos numa prece! Se eu ainda fosse o homem da Terra, não vos falaria com sinceridade, mas agora sou o triste fantasma da verdade! Já não há remédio senão confessar para diminuir a dor do meu coração atribulado.

Rezai por mim! Não fiz por merecer, mas não se nega uma esmola implorada, pelo amor de Deus…



: Gustavo Dutra foi um amigo e colega de trabalho de Rômulo Joviano na Fazenda Modelo de Ponta Grossa, no Paraná. Foi ele o responsável pela calúnia que vitimou outro colega, o Pereira, que assina a mensagem seguinte (), que se suicidou devido a uma injusta punição imposta pelo ministro da Agricultura, baseada na difamação. Dutra compareceu diversas vezes às reuniões do Grupo Doméstico Arthur Joviano. Mensagem recebida por Chico Xavier e Maria Joviano, com a utilização da prancheta. Rômulo Joviano fez as anotações.