01/04/1938
Qual a opinião de Emmanuel sobre a organização de uma reunião espiritista especialmente dedicada aos elementos da imprensa, com o fim de esclarecê-los sobre os grandes princípios e elevadas finalidades da Doutrina?
A ideia de organizar-se uma reunião de demonstrações mediúnicas ou de exposição doutrinária dos princípios libertadores do Espiritismo para os elementos representativos da grande imprensa no país poderia ser realizada como expressão das intenções mais generosas e mais justas, mas não acreditamos no êxito espiritual de semelhante empreendimento. Antes de tudo, temos de considerar que não temos uma novidade para oferecer às elites intelectuais do jornalismo, porquanto o corpo doutrinal do Espiritismo, em sua feição pura e simples, permanece no mundo há dois milênios com o Evangelho do divino Mestre. Além disso, somos forçados a reconhecer que os operários da oficina de no Brasil, em sua quase maioria, conhecem as finalidades grandiosas do labor espiritista no país. Grande número deles já tem assistido às mais extraordinárias manifestações do Alto, adquirindo as mais sólidas convicções íntimas. Entretanto, o critério das maiorias, o imperativo do estômago e das convenções sociais, em suas feições de ordem econômica, são mais fortes nas suas consciências, inibindo-os de proclamar a verdade. Os bispados são sentinelas avançadas de todos eles, com raras exceções. Acima das lições carinhosas e doces dos desencarnados pairam os compromissos com a política e com o clero, e nessa disposição de coisas os nossos programas de ação espiritual, dentro da oficina abençoada do pensamento evangélico, não lhes podem surgir com o caráter de suas necessidades imediatas. Queremos crer que o assunto das aquisições de crença e de fé ainda é da competência da dor e do raciocínio, transformando cada indivíduo na lição suave do Mestre para benefício de todos. No estado atual da grande imprensa, considerando-se a natureza dos seus compromissos que não nos cabe analisar, quase todos os jornalistas voltariam de uma reunião dessa natureza pensando na célebre maioria “romana”, olvidando a não menos famosa maioria de analfabetos do território brasileiro. E ainda que a verdade da nossa consoladora Doutrina conseguisse abalar o edifício de suas concepções individuais, os operários da imprensa, satisfazendo às tendências mais fortes da maioria de seus leitores, teriam de explorar os aspectos da controvérsia e da confrontação em matéria filosófica e científica, tão ainda adstritos ao gosto da vida comum, longe das concepções do espírito imortal. A realidade é que não poderemos, de um dia para o outro, transformar a venalidade das consciências em sentimentos puros dos corações. E é por esta razão que não nos é possível esquecer a antiga tecla da educação espiritual de todas as criaturas. Somente nesse trabalho paciente e perseverante do ensino conseguiremos modificar o homem, transformando, em identidade de circunstâncias, o mecanismo de suas relações sobre a face da Terra. Por muito tempo ainda a grande imprensa continuará mais ou menos afastada dos programas de esforço da Espiritualidade, porque, pela própria força das circunstâncias econômicas, a sua potência estará aliada à maioria humana nas suas indecisões e nos seus desvios. Mas como o terreno da publicidade é um campo infinito, onde cada qual pode plantar a semente do seu coração, compete aos novos trabalhos do Cristianismo Redivivo disseminar a boa semente da fé no campo extenso de seus penosos labores de cada dia. Compete-lhes aproveitar essa potência de esclarecimento geral, longe do personalismo e da divisão, amparando as obras sérias de divulgação dos princípios doutrinários, iniciando os grandes movimentos do jornalismo espiritualizado do porvir, mesmo porque a maior mensagem do Plano espiritual, ainda e sempre, é o Evangelho do Senhor. Nenhum desencarnado pode exceder o terreno dessa maravilha que aí ficou para o aperfeiçoamento dos homens como um legado sublime de vida, de esperança e de amor. E nos tempos que correm o que se faz urgentemente necessário é a sua prática, porquanto, em face dessa necessidade, não encontrareis melhores elementos de educação e de propaganda.
Nota do Editor: Mensagem recebida por Chico Xavier no Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo | MG.