14/08/1936
Dentro das atividades da Justiça Absoluta, que rege o destino das criaturas humanas, não somente à individualidade estão afetos os problemas da reparação necessária pelas provas expiatórias. As coletividades, igualmente, são objeto dessas provações redentoras. Daí nascem os quadros dolorosos que a humanidade assiste, por vezes, no seio de determinados povos. A Espanha atual, arena de luta de elementos inovadores, com as suas profundas antinomias políticas, é bem um exemplo para a minha asserção. É verdade que a península, com esses movimentos revolucionários, representa uma afirmação peremptória da falência do ideal católico-romano para dirigir as atividades dos povos. Repleta de igrejas, cheia de conventos, povoada de organizações religiosas, a Espanha é a região do planeta onde os dogmas dos bispos romanos encontraram mais guarida e maior amplitude. Mas as grandes dores que crucificam o coração do povo espanhol têm as suas causas profundas nos crimes da organização inquisitorial, fundada pelo Papa Inocêncio IV, o que na pátria de , como em nenhuma outra, estendeu-se terrivelmente, amargurando almas, destruindo esperanças, aniquilando vidas e matando corações. A Espanha de Philippe II, o infeliz organizador da “armada invencível”, que a natureza fez soçobrar nas costas da Inglaterra, tem suas grandes dívidas para com a Justiça incorruptível que legisla do Infinito, acima de todos os partidos exclusivistas das nações do mundo. Aí viveram os maiores “torquemadas” do planeta. Os abades aí estiveram, sufocando a liberdade e torturando os espíritos. Ações nefastas foram perpetradas na sombra. Na soledade dos claustros, foram levados a efeito movimentos terríveis ad majorem Dei gloriam. Os sons de sinos dos mosteiros abafaram muitos soluços e muitas agonias no silêncio pesado das prisões. Os instrumentos abomináveis da Inquisição, que os vossos museus hoje conservam como objetos curiosos e dignos de estudo, ali foram inventados e multiplicados de maneira assombrosa. Todavia, Deus está sempre no leme do barco imenso da vida, conforme a assertiva de um dos vossos pensadores, e chegou um momento em que a longa série de abusos clericais teve o seu fim. Contudo, os profundos deslizes das coletividades foram registrados. Os gemidos de quantos sucumbiram sob os flagícios dos tribunais de Madrid, de Sevilha, de Granada ficariam vivos no espaço, reclamando justiça e misericórdia. Todos os quadros tenebrosos desse passado execrável são agora revividos. A comoção revolucionária domina a nação inteira. Frades e monjas são fuzilados em massa. Levadas pelas depredações do extremismo, as duas falanges antagônicas, objetivando a posse do poder, cometem todos os atos possíveis de barbárie. Senhoras virtuosas são assassinadas estupidamente. Jovens e crianças são trucidados pela onda de morticínio e arrasamento. Os julgamentos sumários dão oportunidade às mais injustas sentenças de morte. Nas portas das igrejas, penduram-se cadáveres ensanguentados e nas ruas, às vezes, é necessário o concurso do querosene para consumir os elementos putrefatos de corpos inermes. Nos desfiladeiros de Madrid, as blasfêmias misturam-se aos prantos das preces sinceras e diante dessa paisagem de horror pergunta-se por Deus e por Sua misericórdia. Semelhante cena de desolação representa, de fato, uma terrível imagem apocalíptica, assinalando a transformação necessária dos tempos. Todavia, em tudo isso, reina a Justiça, a soberana e incorruptível Justiça. Deus não é estranho, na Sua infinita bondade, às desgraças e às expiações que laceram as almas dos homens e dos povos, porém essas amarguras são necessárias para a ablução dos Espíritos no abençoado batismo do sofrimento e da dor. Riam os céticos das grandes virtudes, mas a Justiça se processa sem o concurso de nenhum homem. Guardai-vos do mal para que ele não vos atinja. Lembrai-vos da boa e da má semente. (Mt
Em mensagem do livro no lugar de “Os abades ” encontra-se “Os Arbués ”. Vide FEB.
Nota da Editora: Expressão latina que quer dizer “em nome de Deus” [“para a maior glória de Deus”].