Diálogo dos Vivos

Capítulo XVI

Convite à serenidade




Em nossa reunião pública, O Livro dos Espíritos nos deu a estudar o tema da questão 789 () que foi examinado em preciosos comentários de muitos dos nossos companheiros. Tínhamos conosco amigos e irmãos procedentes de cidades diversas. Os assuntos da paz foram debatidos com respeitoso amor pelas elucidações kardecianas.

Naturalmente, vários oradores se detiveram a destacar as dificuldades da hora presente, em que todos os povos estão procurando segurança e entendimento.

A mensagem de Emmanuel — página de convite à serenidade — foi recebida psicograficamente ao final da reunião.



Há quem pergunte como servir à causa da paz.

Semelhante tarefa não será privativa daqueles que se encarregam da direção do Mundo?

A paz do Mundo, no entanto, é a soma de todos os esforços das criaturas, nos domínios da pacificação.

Reflitamos nisso e atendamos à nossa parte, quanto se nos faça possível.

Deixa que a fonte do amor se te desate do coração.

Acende no cérebro a luz do pensamento reto.

Transforma o trabalho de cada dia num cântico de bênçãos.

Observa os compromissos assumidos por leis da própria consciência.

Transita nas vias do bem aos semelhantes.

Respeita o tipo de existência que os outros escolheram para si mesmos, como desejas que a tua própria vida seja respeitada.

Ergue em ti um sinal vermelho para os comentários infelizes.

Hospitaliza agressores e maldizentes em tua clínica de orações.

Não desperdices a riqueza do tempo, comprando remorso com queixas inúteis.

Veste a armadura da paciência para que consigas agir e reagir construtivamente, onde te encontres.

Instala a boa palavra nas estruturas verbais que te manifestam.

Ouve com atenção, aguardando sem pressa a tua vez de falar.

Não desconsideres pessoa alguma.

Resguarda no arquivo da prece os obstáculos e problemas que te desagradam, a fim de que não te destaques por motivo de aflição nas estradas alheias.

Aceita os outros tais quais são, sem o propósito de corrigi-los ou aperfeiçoá-los à força.

Aprende com modéstia e ensina sem exigência.

Auxilia sem cobrança.

Não solenizes as provações de que necessitas para melhorar o próprio caminho.

Diante das ofensas, imuniza-te na terapêutica do perdão.

Espera o momento propício destinado a esclarecer o ponto difícil que haja surgido em teu relacionamento com os demais.

Não exijas do próximo aquilo que o próximo ainda não possui para dar.

Não mentalizes o mal com inquietações imaginárias, e sim colabora na construção do melhor que deve acontecer.

Serve sem dependurar algemas nos pulsos de teus irmãos.

E, prosseguindo adiante, converter-te-ás em coluna da segurança geral.

Em verdade, a Divina Providência não pede para que te transformes, de imediato, numa estrela que dissipe as sombras da perturbação onde as sombras da perturbação estejam dominando na Terra. O Céu espera sejas, ainda hoje, onde estiveres, um recanto vivo da paz.




Todos queremos paz e vivemos em guerra. Essa contradição milenar, que caracteriza a imperfeição moral dos homens, foi bem definida pelo Apóstolo Paulo quando escreveu: “Miserável homem sou, que não faço o bem que desejo mas o mal que não quero!” (Rm 7:19) Se ele próprio, o abnegado servidor do Evangelho, que tudo deixou para seguir o Cristo e propagar a Sua mensagem, sentia na carne essa contradição, quanto mais a sentirão os que, como nós, dois mil anos depois, ainda não aprendemos a soletrar a palavra básica do ensino evangélico, que por sinal se constitui de apenas duas sílabas: amor?

Há criaturas que se desesperam ante confrontos desta natureza. Mas devemos lembrar-nos de que a Terra é uma escola em que as gerações se sucedem, recebendo as lições cada qual a seu tempo. De Paulo aos nossos dias muitos alunos completaram o curso e saíram vitoriosos da escola terrena para instituições educacionais superiores. Temos a vantagem de contar com os exemplos e as experiências dos aprendizes que nos antecederam. E a vantagem de contar atualmente com as lições que nos enviam, através da mediunidade, os ex-alunos que se elevaram, como Emmanuel, à categoria de mestres.

A paz do mundo depende da paz de cada um. Porque o mundo dos homens é feito pelos homens. Deus criou o mundo natural com todas as possibilidades de evolução e paz. E nos criou para também fazermos o nosso próprio mundo, o mundo de cada um e o mundo dos homens, aproveitando as nossas próprias possibilidades de evolução na conquista da paz. Se nos convertermos no “recanto vivo da paz” a que se refere Emmanuel, daremos ao mundo a paz de que ele necessita Se permanecermos como focos de guerra e desajuste, o mundo estará sempre conflagrado pelas nossas contradições e as nossas injustiças.

Nos seus comentários à questão 789 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec assinala: () “A Humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se esclarecem. Quando estes se tomam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os outros”. Se queremos, pois, lutar pela paz, façamos a paz em nós mesmos, e Deus nos ajudará a estendê-la ao mundo.