Diálogo dos Vivos

Capítulo I

Pedido da Terra




Envio-lhe a resposta do nosso amigo Cornélio Pires a um companheiro que o interpelou, através de um bilhete, sobre o uso do álcool. Em nossa reunião habitual, O Livro dos Espíritos nos deu para exame a questão 466, () referente a assuntos de obsessão. O nosso Cornélio estabeleceu a conexão do tema em análise com a resposta ao irmão que a ele se dirigira. Com isso, o nosso entendimento geral do assunto adquiriu maior interesse.

Tratando-se de uma página curiosa e instrutiva, deliberamos passá-la às suas mãos, na ideia de que o assunto será mais valiosamente lançado com os seus comentários e estudos, em favor de nós todos, os companheiros da Doutrina Espírita.



Recebi o seu bilhete,

Meu amigo João da Graça,

Você deseja do Além

Notícias sobre a cachaça.


O assunto não é difícil.

Cachaça, meu caro João,

Recorda simples tomada

Que liga na obsessão.


Você sabe. Aí na Terra,

Nas mais diversas estradas,

Todos temos inimigos

Das existências passadas.


Muitos deles se aproximam

E usando a ideia sem voz

Propõem cousas malucas

Escarnecendo de nós.


Nas tentações manejamos

Nossa fé por luz acesa,

Mas se tomamos cachaça

Lá se vai nossa firmeza.


Olhe o caso de Antoninha.

Não queria desertar,

Encafuou-se na pinga,

Hoje é mulher sem lar.


Titino, homem honesto,

Servidor de tempo curto,

Passou a viver no copo,

Agora vive de furto.


Rapaz de brio e saúde

Era Juca de João Dório,

Enveredou na garrafa,

Passou para o sanatório.


Era amigo dos mais sérios

Silorico da Água Rasa,

Começou de pinga em pinga,

Acabou largando a casa.


Companheiro certo e bom

Era Neco de Tião,

Afundou-se na garrafa,

Aleijou o próprio irmão.


Cachaça será remédio,

É o que tanta gente ensina…

Mas álcool, para ajudar,

É cousa de Medicina.


Eis no Além o que se vê.

Seja a pinga como for,

Enfeitada ou caipira,

É laço de obsessor.


Nas velhas perturbações,

Das que vejo e que já vi,

Fuja sempre da cachaça,

Que cachaça é isso aí.




A obsessão mundial pelo álcool, no Plano Humano, corresponde a um quadro apavorante de vampirismo no Plano Espiritual. A medicina atual ainda reluta — e infelizmente nos seus setores mais ligados ao assunto, que são os da psicoterapia — em aceitar a tese espírita da obsessão. Mas as pesquisas parapsicológicas já revelaram, nos maiores centros culturais do mundo, a realidade da obsessão. De Rhine, Wickland, Pratt, nos Estados Unidos, a Soal, Carington, Price, na 1nglaterra, até a outros parapsicólogos materialistas, a descoberta do vampirismo se processou em cadeia. Todos os parapsicólogos verdadeiros, de renome científico e não marcados pela obsessão do sectarismo religioso, proclamam hoje a realidade das influências mentais entre as criaturas humanas, e entre estas e as “mentes desencarnadas”.

Jean Ehrenwald, psicanalista, chegou a publicar importante livro intitulado: Novas Dimensões da Análise Profunda, corroborando as experiências de Karl Wickland em Trinta Anos Entre os Mortos. (Ed. Koogan), na Europa de hoje, acompanhado por vários pesquisadores, efetuou experiências de controle remoto da conduta humana pela telepatia; obtendo resultados satisfatórios. Tudo isso nada vale para os que se obstinam na negação pura e simples, como faziam os cientistas e os médicos do tempo de Pasteur em relação ao mundo bacteriano.

As quadras de Cornélio Pires sobre a obsessão alcoólica não são apenas uma brincadeira poética. Elas nos mostram — num panorama visto do lado oculto da vida a própria mecânica desse processo obsessivo. Espíritos inimigos, (que ofendemos gravemente em existências anteriores), excitam-nos o desejo inocente de “tomar um trago”. Aceitamos a “ideia maluca” e Espíritos vampirescos são atraídos pelas emanações alcoólicas do nosso corpo. Daí por diante, como aconteceu a Juca de João Dório, “enveredamos na garrafa” e vamos parar no sanatório. Os Espíritos vampirescos são viciados que morreram no vício e continuam no mundo espiritual inferior, aqui mesmo na Terra, buscando ansiosamente os seus “tragos”. Satisfazem-se com as emanações alcoólicas de suas vítimas e continuam a sugá-las como vampiros psíquicos.

Nas instituições espíritas bem dirigidas esse processo é bastante conhecido, e são muitos os infelizes que se salvam após um tratamento sério. Nos hospitais espíritas as curas são numerosas. Veja-se a obra do Dr. Inácio Ferreira: Novos Rumos à Medicina, relatando as curas realizadas no Hospital Espírita de Uberaba. Não é só a obsessão alcoólica que está em jogo nos processos obsessivos. Os desvios sexuais oferecem um contingente talvez maior e mais trágico do que o do álcool, porque mais difícil de ser tratado.

Tem razão o poeta caipira ao advertir que “álcool, para ajudar, é cousa de medicina”. () Só nas aplicações médicas o álcool pode ser usado como remédio. Mas temos de acrescentar, infelizmente, que os médicos de olhos fechados para a realidade espiritual não estão em condições de atender aos casos de alcoolismo. Os grupos espíritas e as associações alcoólicas obtêm resultados mais positivos, quando em tratamentos bem dirigidos.