Diálogo dos Vivos

Capítulo XVII

Confirmação do sonho




Em nossa reunião da noite, O Evangelho Segundo o Espiritismo nos dera para estudo o item 4 do capítulo XXV, () referente à necessidade do trabalho como recurso de aperfeiçoamento e evolução. Tivemos os comentários habituais. Após a reunião tive de ir a um telefone público no centro da cidade. E na rua fui abordado por um companheiro que até então não conhecia.

Disse-me ele estar chegando da cidade de Ribeirão Preto e declarou-se em grande desalento. Desejava uma palavra do Alto e me informou haver sonhado, na noite da véspera, com o poeta Juca Muniz de quem fora amigo em Salesópolis, Estado de São Paulo, dando-lhe respostas a várias perguntas.

Surpreendido pelo que ouvia e trazendo no bolso o original da mensagem que recebera na sessão, momentos antes, do referido poeta, dei ciência ao companheiro do que ocorrera e lemos juntos a comunicação do amigo espiritual. O recém-chegado de Ribeirão Preto, de sorriso nos lábios, disse que aceitava a mensagem como sendo exclusivamente para ele.

Dei-lhe o original psicografado, mas tiramos a cópia a fim de enviá-la para publicação. Registro o acontecido na certeza de que os Amigos Espirituais organizaram a ocorrência para reconforto do nosso irmão em prova. Agradeço desde já a sua valiosa contribuição, caro Professor, nas observações doutrinárias que fizer para a nossa edificação geral.



Juca Muniz

Jamais te digas inútil

E deixa a ideia do azar,

Cada pessoa no mundo

Tem um dom a partilhar


Escuta!… O Céu nota e vê

O teu passo hora por hora…

Deus necessita de ti

Onde te encontras agora.


Prova na escola da vida,

Ensino que vai e vem…

Desânimo não resolve,

Nem auxilia a ninguém.


Felicidade, a rigor,

Tal qual se busca entender;

É a gente dar-se, de todo,

Ao que se deve fazer.


Se queres paz e alegria

Ouve este aviso comum:

Não desistas do trabalho,

Nem guardes remorso algum.


O que tens, seja alegria,

Saúde, corpo doente,

Encargo, inércia, penúria,

Tudo começa na mente.


Qualquer recurso no tempo,

Alegria, luz e paz,

Treva, aflição, amargura,

Vem daquilo que se faz.


Trabalha. Nada reclames.

Desajustes passarão.

Serviço silencioso

É base de promoção.




Os estudos de Freud sobre os sonhos marcam um momento significativo na evolução dos estudos psicológicos modernos. Sem querer e até mesmo sem o perceber, o gênio vienense batia na porta certa do castelo da alma. O ceticismo de Freud não lhe permitiu entrar pela porta, mas coube ao seu discípulo Karl Jung aventurar alguns passos nesse sentido. Jung era médium e relata episódios curiosos nas suas memórias, referentes a fenômenos mediúnicos ocorridos com ele na presença do mestre. Hoje, psicanalistas mais audaciosos, como Jean Ehrenwald, apoiados na franquia parapsicológica, investigam os sonhos paranormais e procuram utilizá-los na clínica.

Kardec — quando Freud estava ainda na primeira infância — realizou pacientes e profundas investigações sobre a libertação da alma durante o sono. Esse trabalho, realizado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, foi publicado na Revista Espírita e pode hoje ser consultado pelos estudiosos. A coleção da Revista, em 12 volumes, foi traduzida integralmente pelo Engº Júlio Abreu Filho e editada em São Paulo pela Edicel.

Chico Xavier recebeu psicograficamente, na série Nosso Lar, de André Luiz, e em outros escritos, descrições curiosas dos espíritos sobre a influência espiritual em nossas vidas através dos sonhos. E o episódio que nos relata constitui uma prova espontânea da legitimidade da teoria espírita dos sonhos, constante de O Livro dos Espíritos. () Uma prova a mais, pois na verdade são muitas as provas espontâneas dadas em todo o mundo.

Como vemos no episódio citado, o poeta Juca Muniz atendeu aos apelos do amigo através do sonho. E para confirmar o sonho, psicografou os seus versos pela mediunidade de Chico Xavier, antes que aquele chegasse a encontrar-se com o médium. As tentativas de explicação telepática desse episódio só podem partir de pessoas sectárias. As provas parapsicológicas dos fenômenos theta e a identificação do poeta comunicante desfazem a hipótese de telepatia.