Doutrina e Aplicação

Capítulo XIX

Sementeira



Abre-se a floresta até então intransitável e densa. Definem-se dificuldades, pântanos, espinheiros…

O semeador, porém, não se confia ao desânimo. Traça planos. Ataca o serviço. Realiza o milagre.

De início, é o desbravar. Em seguida, surgem os imperativos de preparação do solo e de seleção dos recursos.

A cova minúscula e escura recebe a semente pequenina, que perde os envoltórios com a colaboração do tempo.

Só então, é possível a promessa do grelo tenro. Todavia, não param aí os desvelos e as vigílias do semeador.

Hoje, é necessário proteger a plantinha frágil contra o esmagamento; amanhã, é imprescindível furtá-la ao assédio dos vermes destruidores.

Agora, pede a lavoura iniciante adequada medida contra a canícula rigorosa; depois, reclama providências que a salvem do aguaceiro.

A fronde, a flor e o fruto representam, no entanto, o precioso prêmio.


Assim também, é a sementeira espiritual.

Nas profundezas da mente inculta caem os princípios da Divina Sabedoria.

Ninguém exija, contudo, o resultado absoluto num instante.

Quantos séculos teremos despendido, na formação da selva de nossos instintos e de nossos caprichos obscuros?

O serviços de adaptação e educação reclama tempo e paciência para que a colheita do conhecimento e do amor, em cada alma, enriqueça os celeiros da Terra.


Não esperemos que o nosso companheiro de experiência nos ofereça a perfeição impraticável de um momento para outro.

Se procuramos o Cristo, gravemos as lições d’Ele, em nós mesmos, antes de impô-las aos semelhantes.

Adubemos o solo dos corações com a luz do bom exemplo, com a bênção da fraternidade, com a flor do estímulo e com o silêncio da compreensão.

Não firamos, onde não possamos auxiliar.

O Sol resplandece sem palavras, curando as chagas do Planeta.

A fonte rola cantando, sem acusações, colada ao dorso da Terra.

O vento fecunda a natureza, sem exigências.


Amemos sempre. O coração que se devota à fraternidade não usa o poder do verbo para denegrir ou dilacerar.

Passemos auxiliando.

Compadeçamo-nos do cardo que ainda conserva aguçados acúleos.

Compadeçamo-nos das ervas envenenadas, que ainda não conseguiram modificar a própria seiva.

Compadeçamo-nos das árvores infelizes, cujos galhos ressecaram pela pobreza do ambiente em que nasceram.


A senda é longa. A romagem solicita o esforço das horas incessantes.

Sigamos improvisando o bem, por onde passarmos.

Guarde a nossa luta a sublime experiência do semeador.

Compreendamos o cipoal, auxiliemos o chão duro do destino e aproveitemos a lama da estrada para o bem geral, projetando na terra das almas as sementes benditas que o Mestre nos confiou.

E, esperemos o tempo, de vez que o tempo é o patrimônio da Divina bondade que na esteira dos dias, dos anos e dos séculos, nos oferecerá sempre à colheita de nossa vida, segundo as nossas próprias obras.