Emmanuel

Capítulo XIII

As investigações da Ciência



Não é condenável, sob o ponto de vista do bom senso, sem quaisquer dogmatismos intransigentes, a dúvida que levou a Ciência da vossa época a se recolher nas realidades positivas; é claro que, segundo a opinião religiosa, o materialismo é pernicioso, debaixo de todas as modalidades em que se nos apresente, mas é necessário vos convencerdes de que em qualquer circunstância predomina sempre a lei do progresso.

O ateísmo reinante deriva dos abusos dogmáticos que a intransigência de alguns sistemas tem pretendido impor à consciência humana, livre em suas íntimas expansões. Todavia, na certeza absoluta da evolução que se realiza, através de todos os óbices interpostos no seu caminho pela ignorância e pela má-fé, eis que, na atualidade, a própria dúvida serve de base ao monumento da fé raciocinada do futuro.



Vê-se a Ciência no dever de investigar, de estudar, e, no seu afã incessante de saber, rolam por terra ideias errôneas, mantidas até hoje como alicerces de todas as suas perquirições, como, por exemplo, a da teoria da indivisibilidade atômica. Descobrindo centros imponderáveis de atração, como os eletrônios componentes do átomo infinitesimal e os iônios, atinge a verdade, quanto às teorias da vibração, que preside, na base da matéria cósmica, a todos os movimentos da vida no Universo.

A ciência infatigável procura, agora, a matéria-padrão, a força-origem, simplificada, da qual crê emanarem todos os compostos, e é nesse estudo proveitoso que ela própria, afirmando-se ateia, descrente, caminha para o conhecimento de Deus.



Não são poucos os estudiosos que procuram investigar os domínios da ciência psíquica, na sede de encontrar o lado verdadeiro da vida; porém, se muitas vezes acham apenas o malogro das suas esperanças, o soçobro dos seus ideais, é que se entregam a estudos arriscados sem preparação prévia para resolver tão altas questões, errando voluntariamente com espírito de criticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho de raciocínio acurado, profundo. O êxito no estudo de problemas tão transcendentais demanda a utilização de fatores morais, raramente encontrados; daí a improdutividade de entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e sinceros.



A ausência de demonstrações histológicas não implica a inexistência do Espírito. É essa certeza que compete a Ciência atingir.

Muitos obstáculos, contudo, se opõem à obtenção desse desiderato, aliando-se ao preconceito acadêmico o utilitarismo desenfreado que infesta a política e a religião; é ele o maior inimigo da expansão das verdades espiritualistas no mundo, porque oriundo de interesses inferiores e mesquinhos. A própria tendência ao ateísmo, imperante em quase todas as classes sociais, é um derivativo lógico do espírito de interesse, que tem destruído a beleza dos princípios religiosos, desvirtuados pelo utilitarismo de falsos missionários.

Mas, confiemos na influência do espiritualismo; em futuro próximo, a sua atuação eminentemente benéfica há de se fazer sentir, destruindo tudo quanto de nocivo e inútil encontrar em sua passagem.



Marchamos, pois, para uma época de crença firme e consoladora, que derramará o bálsamo da fé pura e iluminada sobre as almas que adorarão o Criador, sem qualquer véu de formalidades inadequadas e obsoletas.

Semelhantes transformações serão efetuadas após muitas lutas, que encherão de receios e de espantos os espíritos encarnados. Lembremo-nos, porém, de que “Deus esta no leme”.

É esse o porvir do orbe em que viveis. Contudo, quanto tempo decorrerá até que essa nova era brilhe nos horizontes do entendimento humano? Ignoramos. Conjuguemos, todavia, os nossos esforços a fim de alcançarmos esse desiderato.

Demonstrai, com o vosso exemplo, que a luz permanece em vossos corações e cooperareis conosco, em favor dessas mutações precisas.

Toda reforma terá de nascer no interior. Da iluminação do coração vem a verdadeira cristianização do lar, e do aperfeiçoamento das coletividades surgirá o novo e glorioso dia da Humanidade.