São-nos gratas, a todos nós que já nos libertamos da cadeia material, as vossas reuniões de evangelização. A alguém poderá parecer que, com essa preferência, criamos também, para cá dos limites da Terra um círculo vicioso, onde eternamente nos debatemos. Tal opinião, porém, será erradamente emitida, porquanto, desconhecendo o nosso “modus vivendi”, muitas vezes não considerais que o homem acima de tudo, é Espírito, alma, vibração, e que esse Espírito, salvo em casos excepcionais, se conserva o mesmo após a morte do corpo, com idênticos defeitos e as mesmas inclinações que o caracterizavam à face do mundo.
Conduzimos, portanto, frequentemente, até o vosso meio, a fim de se colocarem em contato com a verdade da sua nova situação, aqueles dos nossos semelhantes que aqui se encontram ainda impregnados das sensações corporais.
Identificados de tal forma com a matéria, sentindo tão intensamente as suas impressões, não se encontram aptos a compreender a nossa linguagem e precisam ouvir a voz materializada daqueles que, cumprindo os desígnios do Alto, ainda se conservam no exílio, aguardando a alvorada de sua redenção.
É ainda reduzido o número dos que despertam na luz espiritual plenamente cônscios da sua situação, porque diminuta é a percentagem de seres humanos que se preocupam sinceramente com as questões do seu aprimoramento moral. A maioria dos desencarnados, nos seus primeiros dias da vida além do túmulo, não encontram senão os reflexos dos seus péssimos hábitos e das suas paixões, que, nos ambientes diversos de outra vida, os aborrecem e deprimem. O corpo das suas impressões físicas prossegue perfeito, fazendo-lhes experimentar acerbas torturas e inenarráveis sofrimentos.
As exortações evangélicas são, pois, lenitivos de muitos padecimentos morais, de muitas dores amaríssimas, que acompanham as almas após a travessia da morte, cheia de sombras ou de claridades. Há sofredores a aliviar, ignorantes a instruir, sedentos de paz e de amor. Quando assim acontece é natural que o tempo seja dedicado à nobre tarefa de espalhar a luz do ensino e do conforto espiritual.
Numa assembleia dos que se consagram ao estudo das ciências, é natural a discussão sobre a matéria cósmica, sobre a onda hertziana; mas, ao lado da turba dos infelizes, é preciso mostrar a estrada da regeneração e da verdadeira ventura.
O Espiritismo não é somente o antídoto para as crises que perturbam os habitantes da Terra; os seus ensinamentos salutares e doces reerguem, nos desencarnados, as esperanças desfalecidas à falta de amparo e de alimento; é aí que a doutrina edifica os transviados do dever e os sofredores saturados desses acerbos remorsos que somente as lágrimas fazem desaparecer.
Cada alma que se vos apresenta, e que leva até aos vossos ouvidos o eco das suas palavras, traz na fronte o estatuto da verdade que vos compele aos atos puros e meritórios e aos pensamentos elevados que enobrecem a consciência.
Não regressaríamos da morte, sem um alto e nobre objetivo.
O escopo das nossas atividades é a demonstração da realidade insofismável de que vivemos, e regressamos do Plano invisível para vos dizer que o Espaço, como um livro misterioso, encerra toda a nossa vida. Uma intenção, uma lágrima oculta, uma virtude nobilitante, estão patentes nas suas páginas prodigiosas, que, por uma disposição inacessível ainda à vossa compreensão, registra os mais recônditos pensamentos e ações da nossa existência.
Objetivamos, portanto cultivar em vossos corações a certeza consoladora da crença pura, trabalhando para que a tolerância, a meditação e a caridade sejam as vossas companheiras assíduas.
Todas as ciências estão ricas de especulações teóricas, todas as religiões que se divorciaram do amor estão repletas de palavras, quase sempre vazias e incompreensíveis.
As predicações são ouvidas, por toda a parte; mas a prática, esta, é rara; e daí a necessidade de se habituar a ela com devotamento para que os atos revelem os sentimentos, operando com o espírito de verdadeira humildade.
Caminhai, pois, nos pedregosos caminhos das provações. À medida que marchardes cheios de serenidade e de confiança, mais belas provas colhereis da luminosa manhã da imortalidade que vos espera, além do silêncio dos túmulos.