Ao Homem Triste que se rebelara Contra as imposições da disciplina Deus permitiu que ele pudesse Escutar, de surpresa, As notas e lições da Natureza, No âmbito de sala pequenina. Contrariando as queixas que lhe ouvira, Disse-lhe grande mesa: — Eu fui, aos ares livres da floresta, Um palácio vibrante em júbilos de festa, Entre ninhos e pássaros cantores! Que músicas de paz!… Que beleza de flores!… Veio, porém, um dia, Um homem de machado… Decepou-me sem dó!… E depois de entregar-me à serraria, Onde amarguei desprezo, lama e pó, Vendeu-me para outro companheiro… Era um singelo carpinteiro Que me malhou durante muitas horas, Para que eu seja a mesa em que te escoras!… O mármore do piso Exclamou, de improviso: — Adorava meu berço em formosa montanha!… A minha independência era tamanha Que não sei descrever!… Descendente de lindas pedras raras, Formamo-nos em séculos de luta… Um homem, certa vez, descobriu-nos a gruta, Separou-me dos meus, À força me arrastou sobre os seus próprios passos, Conduziu-me à oficina, Fez-me em vários pedaços… Depois disso, vim eu, de revés em revés, Até fazer-me escravo e servir aos teus pés… A lâmpada informou sem pretensão: — A fim de combater a escuridão E doar-me em vida e luz, Sem o menor desvio, É necessário que me ajuste ao fio Que me guarda e conduz!… Um belo jarro à frente, Esclareceu, humildemente: — Fui um bloco de argila, Sossegado e feliz numa gleba tranquila!… Quando fazia sol Adorava mirar as borboletas E sentir os perfumes De próximo jardim… E, à noite, admirava os vaga-lumes Que acendiam lanternas para mim… No entanto, certa feita, Valente caçador de barro fino Arrancou-me do lar e mudou-me o destino… A calor desumano, em fúria desumana, Que enlouquece e que arrasa, Mumificou-me em fria porcelana Para enfeitar-te a casa!… Nisso, falou antiga porta: — Nunca pude viver como quisera, Devo permanecer em todo instante, à espera De ordenações e impulsos que me dás… A fim de resguardar-te os bens e garantir-te a paz, Protegendo-te a vida, Cabe-me obedecer e sempre obedecer Para cumprir contigo o meu próprio dever!… Houve silêncio e o Homem transformado Fitou, lá fora, o chão recentemente arado, Depois ergueu o olhar para os astros distantes E exclamou para os Céus, Em êxtase profundo: — Sê bendito, Senhor, Pela escola do Mundo!… Tudo o que serve, apoia, aprimora e ilumina, Tudo o que a evolução entesoura e contém, Vejo agora na luz da disciplina!… Ajuda-me a servir para o Infinito Bem!.… Valoriza, Senhor, os dias meus E por tudo o que a vida me oferece Seja no dom da fé por bênção que me aquece, Ou na fonte do amor que me renova e ensina, Obrigado, meu Deus!… |