Mamãe, minha querida mamãe, abençoe seu filho.
Papai, meu querido papai, ajude-me.
Quero escrever e tento fazer isso. Quantos amigos me auxiliam a mover este lápis? Não sei. Para mim, ele é um instrumento ainda muito pesado, porque não tenho forças.
Estou melhorando, melhorando, mãezinha; mas para ficar melhor preciso de sua paz por dentro do coração.
Não chore mais, assim, com tanto desconsolo. Abraço-a com papai, com nossa querida Lourdinha, a nossa querida Mariú, e com nossa querida Soninha em meu coração, pedindo-lhe auxílio.
Mamãe, seu filho ainda está cansado. Ainda não cheguei à convalescença, porque meu pensamento está preso.
Meu pai chora; com aquela força de fé poderosa que nós lhe conhecemos. Sabe-me vivo. Entregou-me a Jesus, ao nosso amigo Eurípedes e à nossa dedicada Maria da Cruz, que aqui está comigo, neste mesmo instante, como quem carrega um menino doente. Menino doente que ainda sou.
Mãezinha, mas seu coração, como é justo, me chama sem parar. Quer uma prova de que eu existo, anseia por minha palavra, pede para que eu lhe apareça, busca-me noite a noite, rezando com o carinho que é seu para mim, como para mais ninguém.
Digo assim, porque nós dois cultivamos o amor perfeito: seu amor em mim e o meu em seu coração.
Sei que a sua fé em Deus continua forte e viva, mas a morte… A morte, meu Deus, saberei explicar também o que seja isso?
Acha, mamãe, que seu filho igualmente não está perguntando? Pergunto, sim, embora sabendo que a reencarnação é uma lei de justiça e que não passaria pela ocorrência do dia 22 de julho para 23 sem uma causa respeitável.
Tantos amigos aqui me esclarecem… Mais tarde, se Jesus permitir, contarei porque parti de uma estrada e não do lar…
Por agora, seu filho está fraco, enfermo, necessitado de assistência e medicação.
Meu remédio, querida mamãe, o maior de todos, é o de sua paz.
Lembre-se de nossa família e não queira que a saudade lhe traga a morte. Esperemos. Não esmoreça. Estou agradecido às flores abençoadas e às orações que me acalmam e fortalecem, mas peço para que não fite o meu retrato, indagando porquê…
Mãezinha, aquele carro tombado perto de Santo Antônio é o símbolo de meu corpo tombado também. Foi só o veículo que se destrambelhou. Estou vivo… Ouço tudo o que conversam em casa.
Ajudem ao papai para que ele me ajude com mais segurança e não deixem nosso ambiente com tristeza e desânimo, aflição e descrença.
Estou fatigado e não posso escrever muito. Meu pai costumava dizer que não podia explicar o motivo pelo qual eu me decidira a estudar em três setores diversos, além das aulas e da nossa música.
Não sei, mãezinha. Penso que eu sabia inconscientemente que o tempo no mundo para mim seria curto demais.
Tudo o que me deram em exemplos de amor e dedicação, facilidade para eu estudar e criar meus ideais está comigo. É um tesouro de que ninguém me despojará.
Sou grato por tudo. Ignoro se alguém na Terra encontrou pais tão carinhosos e bons quanto os meus.
Agora, rogo mais: — o repouso. Se estiverem mais conformados, eu também ficarei. Auxiliem-me. Quero voltar em espírito para trabalhar com os amigos e companheiros queridos.
Estou pesado de angústia, da angústia reflexa que me rodeia.
Mamãe querida, é preciso estar leve, tratar-me, renovar o sentimento e servir ao bem. Nossa casa ainda me prende às recordações difíceis do dia último de presença no corpo.
Ajudem-me a esquecer. Ainda não tenho noção do tempo de agora. Sei apenas que a noite de minha viagem, depois da “PARTICIPAÇÃO” era 23 de julho. O resto não sei bem.
Por enquanto, é como se um fio me ligasse ao seu coração, querida mãezinha. Escuto suas palavras que não saem da boca suas perguntas para Deus e para os santos — nossos Benfeitores da Vida Espiritual.
Sinto suas mãos procurando as minhas e o seu olhar me buscando no quarto, como se eu estivesse de novo no leito para que seu carinho me venha cobrir, enquanto à sua ternura parecia que eu estivesse sonolento.
Pois é, mãezinha… preciso ainda. Agasalhe-me na sua fé em Deus. Tudo será melhor se confiar em Deus.
Aqui estão comigo, além de nossa dedicada Maria da Cruz, o nosso amigo Dr. Carvalho Rosa e muitos amigos mais. Maria da Cruz fala-me que diversos parentes estão me auxiliando, mas para ser sincero, só vejo realmente nossa casa e dentro dela os corações queridos.
Rogo à nossa querida para não pensar em luto. Jesus nos restituirá a todos a bênção da alegria.
Parece, mãezinha, que a morte do corpo é uma noite da qual a gente vai saindo pouco a pouco… O dia de nossa certeza na imortalidade brilhará para sempre.
Não pensem que vamos ficar com a tristeza morando em nossa casa. Façam música. Liguem nossos aparelhos, para que a vida cante de novo. Aprendi em nosso lar que a vida é melodia de Deus. Por que esquecer isso?
Mãezinha, não guarde minhas pobres lembranças de moço que viajou para cá de repente. Distribua tudo. Se puder conservar alguma coisa de seu filho, guarde as músicas e a nossas fotografias também, mas sem chorar diante delas.
Dizem-me aqui que podemos chorar, mas chorar sem aflição, sem desespero e, sim, de saudade e esperança, porque há uma saudade diferente das outras — a saudade que se faz oração para que o reencontro seja mais feliz.
Agora termino. Minha cabeça não consegue dar pensamento para que os amigos me auxiliem. Peçam a Deus por mim. Abençoem-me. E recebam todo o coração do filho reconhecido
(Uberaba, 25 de agosto de 1972)
Agnelo Morato Júnior, filho do denodado lidador da pena espírita, Dr. Agnelo Morato e de D. Erlinda Morato, muito querido em sua terra natal, foi homenageado pelos bacharelandos de 1972 da Faculdade de Direito de Franca, que deram à sua turma o nome de “Turma Agnelo Morato Júnior”, e sua família recebeu de toda a imprensa francana demonstrações de carinho e apoio.
Não nos sendo possível transcrever crônicas diversas sobre a desencarnação do ilustre e jovem educador, atentemos, apenas, para um soneto do ilustre magistrado Dr. Pereira Brasil, publicado em “A Nova Era”, de 15-9-1972:
AGNELINHO(IN MEMORIAN)Rutilante e fugaz o teu roteiro Na vida, desta vez, Agnelinho. Não viveste o teu sonho por inteiro E nem supunhas curto o teu caminho. Jamais agiste sem pensar primeiro Nas bênçãos do teu lar, o doce ninho Em que se ostenta a fé como luzeiro, E onde só foste flor, e nunca espinho. A morte arrebatou-te de surpresa, Em pleno perpassar da mocidade, Com os clarões da manhã na natureza. Nem houve tempo para um breve adeus, Mas nos teus braços de serenidade Teus pais viram que foste em paz com Deus! |
Antes que passemos a transcrever as notas referentes à mensagem psicografada pelo médium Xavier, na noite de 25 de agosto de 1972, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, Minas, elaboradas pelo próprio pai do comunicante e que foram publicadas na edição de 30-9-1972 (ano XLV, n° 1,370) do prestigioso jornal espírita de Franca (SP), observemos estas palavras constantes deste “Agradecimento”, assinado por Agnelo Morato e Família, a fim de que possamos nos inteirar da importância da Doutrina Espírita em nossas vidas.
“Bendita a religião que nos esclarece sobre os problemas da existência terrena, e nos desfralda, hoje ou no porvir, a bandeira da esperança!
Passamos os momentos do doloroso impacto que nos atingiu, com o passamento de nosso querido filho Agnelo Morato Júnior, sentimos o enorme conforto provindo da afeição dos incontáveis confrades e amigos, que bem compreenderam a inevitável e natural angústia que de nós se apossa nos momentos críticos da vida. Valeram-nos toda essa afeição sincera, toda essa verdadeira solidariedade de todos. Sim, valeram muito! Essas palavras amigas reconfortaram tanto e valem tanto como o único remédio nestas horas difíceis.
Não esmorecer nas embatidas ásperas que a vida terrena nos propicia, que são estranhos caminhos para a Evolução e para o Bem — este o ensino maior que a Doutrina Consoladora nos revela; este o estímulo de paz e esperança que ela nos transmite nos momentos em que as grandes tristezas, os grandes testemunhos nos vêm bater às portas.
A ela — a Sublime Doutrina — o nosso reconhecimento pelo Hino à Resignação que, silenciosa e docemente, entoou ao nosso espírito abatido, no momento inseguro!
A eles — os confrades amigos, amigos de sempre e das horas angustiosas — a gratidão mais sentida de toda a família do Agnelinho!
E a ele, o querido filho que tão inesperadamente nos deixou, para ingressar no mundo da espiritualidade, o “até breve” de todos os que na lembrança jamais o deixarão de ter!
Deus seja louvado por mais essa oportunidade de exercitarmos nossa paciência e compreensão das leis divinas, que visam nos preparar para a existência maior da Espiritualidade!”
Observemos, agora, as notas relativas à mensagem, de autoria do pai do comunicante:
“1. Agnelinho — tratamento familiar que se estendeu a todos os da intimidade de Agnelo Morato Júnior, desencarnado aos 23 anos (nasceu em 4 de fevereiro de 1949 e terminou sua existência terrena a 23 de julho de 1972). Essa mensagem foi recebida 32 dias após o seu desencarne.
2. Bezerra de Menezes, na noite de 14 de agosto de 1972, em recado à mãezinha do comunicante (também psicografado pelo Chico Xavier), informou que o Espírito do jovem estava em fase de refazimento em um hospital do Plano espiritual.
3. Mariú — tratamento que ele dava à sua noivinha.
4. Soninha — nome de um Espírito familiar do moço.
5. Eurípedes Barsanulfo — o guia espiritual da família espírita de toda esta Região.
6. Maria da Cruz — valorosa companheiro de Sacramento, já desencarnada.
7. Exatamente na manhã do dia 23 de julho de 1972 (às 6 e 30 hs).
8. Santo Antônio da Alegria — o acidente se deu entre o quilômetro 10 e 11 da Rodovia Altinópolis — São Sebastião do Paraíso, próximo ao trevo que dá acesso a Santo Antônio.
9. Cursava a Faculdade de Direito de Franca, Faculdade de Filosofia de São José do Rio Pardo e Escola Normal “Jesus-Maria José”, de Franca, e lecionava Inglês no Ginásio Estadual de São Joaquim da Barra, Português no Colégio Agrícola de Miramontes (Distrito de Franca) e, ainda, Português no Educandário Pestalozzi de Franca.
10. “PARTICIPAÇÃO” — título da canção que ele e seus companheiros defenderam, alcançando classificação no Festival de Música Popular de Passos, MG, realizado nos dias 22 e 23 de julho de 1972.
11. Dr. Carvalho Rosa — ilustre e austero jurista francano, também já falecido.
12. A letra de seu nome é idêntica à sua.”
E, para terminar, façamos nossas as palavras do ilustre escritor e jornalista José Russo, referindo-se a Agnelo Morato Júnior:
“Sua mensagem, através do lápis de Chico Xavier, não é senão um manancial de socorro urgente aos queridos pais angustiosamente atingidos no âmago de sua alma.
Ali está o jovem professor em toda a sua firmeza de auto-narrador, detalhando trechos de estranha carta, vazada em carinho e profundo sentimento filial, destinado aos queridos pais. E que o exemplo de Agnelinho se torne consolação e certeza de que a morte seja compreendida como recurso de evolução divina, e não como um mal irremediável, separação eterna daqueles que se amaram na romaria terrena, sem uma única possibilidade de se reencontrarem.
A lição da outra vida que nos está sendo oferecida pelo moço idealista, são páginas de um livro aberto onde todos poderão conhecer o significado da morte”.
“A Nova Era”, 15-9-1972, ano XLV, n° 1.369.
, 15-8-1972, ano XLV, n° 1.367.
, 30-9-1972, ano XLV, n° 1.370