Meu caro Paulino, meu filho. Jesus nos receba em sua bênção!
Escrevo com hesitação de quem ainda não se habituou ao novo tipo de grafia a duas pessoas. Tomo os dedos de nosso prezado Chico em minha mão e, ao mesmo tempo, os braços de Amigos Espirituais muito queridos me amparam, insuflando-me forças que ainda não sei manejar.
Entretanto, estou muito feliz, conseguindo dirigir a você e à nossa querida Júlia algumas palavras. Graças a Deus, vejo-os juntos, amparados os corações um no outro, para sustentar as lutas da Terra. Graças a Deus que assim é, repito.
O amor é uma luz que brilha alto demais para que possamos defini-la no mundo. E pelo amor estamos agora mais juntos, enriquecidos pela ternura de nossa querida Júlia. Sinto-os comigo por filhos abençoados, como se o meu coração se ampliasse.
O carinho, Paulino, transformou-se em regaço materno. Você e Júlia são meus filhos pelos laços divinos do espírito, como duas estrelas pertencem ao mesmo fragmento de espaço ou como duas flores pertencem à mesma haste, em que perfumam a paisagem.
Bendita a luz que nos vem das profundezas da alma, a fim de realizarmos aquele “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, (Jo
Você, filho meu, não consegue avaliar as aflições que passaram a residir comigo, quando o vi realmente a sós.
O apartamento vazio, as dificuldades de readaptação ao trabalho, a saudade por presença constante de dor e a necessidade de companhia… Compartilhei com você do cálice de inquietação e tristeza em que a viuvez lhe agravava os obstáculos de homem correto e digno, mas orei, querido Paulino, e orei tanto, rogando a Jesus nos socorresse, que Ele nos mandou o anjo bom que hoje vela sobre os nossos dias.
Oh! querida Júlia, que dizer a você senão que encontro em sua presença a luz do céu asserenando-nos a vida?
Como explicar-lhe, querida irmã e filha do meu coração, todo o reconhecimento e toda a alegria que me povoam as horas, ao senti-la conosco, abençoando-nos a todos com o seu carinho e desprendimento?
Se as lágrimas de gratidão e de júbilo podem falar, dirão as que choro de contentamento ao abraçá-los, que você fez a felicidade do nosso querido Paulino, a quem tanto devemos.
Nunca pense, filha querida, que somos duas a partilhar o coração do mesmo companheiro, porque somos muitos. Você preenche as benditas funções de esposa abnegada e eu agora sou mãe pelo coração, tanto quanto outros seres queridos nossos ocupam posições outras, marcadas de imensa ternura e ilimitada dedicação junto a nós.
Rogo a Deus, todos os dias, para que você seja feliz, tão feliz, quanto feliz você me tomou, transformando as nossas necessidades em esperanças.
Abençoada seja você, querida Júlia, por suas mãos que entreteceram o nosso ninho familiar de novo, iluminando-nos a estrada com oportunidades de realização cada vez mais novas.
Agradeço a você a recomposição do nosso caro Paulino, a alegria que a sua dedicação conseguiu restaurar para ele e junto dele a confiança na vida que você lhe inspirou e, sobretudo, o refazimento da paz, em que ele, homem digno e abençoado, precisa viver para servir. E agradeço, ainda a você, o amor com que seu coração de mulher e de anjo retornou às nossas tarefas por nossas crianças.
Creia, Júlia querida. Você não planeja trabalho e nem trabalha, assim, a sós. Estamos unidas para ajudar aos meninos que Deus nos concedeu à margem de nossos deveres essenciais na vida caseira.
Suas peças de roupa, em socorro dos pequeninos quase desamparados, são joias que me enfeitam de alegria e de fé sempre mais viva nos dias sempre melhores que hão de vir.
Nossa costura para reduzir e limitar a penúria e a nudez dos pequenos tristes que esperam de nós um gesto de amor e um sorriso de bênção, no fundo, representam obra do Cristo em nossas mãos. Trabalhemos.
Às vezes, a peça de roupa mais singela é justamente a que se destina a evitar a intromissão da enfermidade em vida preciosa que tão somente o porvir nos fará conhecer. E, às vezes, querida Júlia, ou melhor, tantas vezes, a criança que de nós recebe apoio e carinho é aquela que no amanhã, talvez menos distante, nos estenderá os braços para amenizar-nos a sede de amparo e a fome da presença de Deus, em forma de paz e consolação.
Abençoada seja você que compreendeu tudo isso e se transformou em coluna sólida de nossas realizações, portas adentro do lar.
Você e Paulino abracem por mim a todas as companheiras e irmãs de trabalho. Distribuamos amor, onde o nosso amor ainda não consegue entendimento.
Dificuldades são nuvens. O amor é sol. Sombras passam e a luz fica. O tempo, com a bênção de Deus, tudo reajusta, harmoniza, acalma e reconstrói.
Não posso escrever mais, no entanto, pelas vibrações de afeto com que carreguei as palavras, vocês receberão com os nossos amigos presentes, toda a ternura de minha gratidão e todo o calor de minha alegria.
Júlia, quando puder venha com o Paulino às distribuições de beneficência, onde temos uma parcela de abençoado trabalho. Não temam. Estaremos juntos. Refiro-me à nossa festa cristã de caridade e compreensão humana, sob o teto que nos acolhe. A Comunhão Espírita Cristã é nossa casa também. Partilharemos unidos — todos unidos — da felicidade de auxiliar.
Queridos filhos de minha alma querido Paulino e querida Júlia, com vocês dois o coração — todo o coração — da irmã e companheira que hoje tem o privilégio de ser para vocês dois mãe feliz pelo coração.
(Uberaba, 10 de abril de 1971)
Não bastasse o consolo que nos dá a Doutrina Espírita através do ensino ligado à Reencarnação e à Lei de Causa e Efeito, isto é, explicando-nos que todos já viemos à Terra e aqui retornaremos quantas vezes forem necessárias para o nosso completo burilamento espiritual e de que tudo que fizermos aos outros, em forma de bem ou de agressividade retornará a nós mesmos, insuflando-nos coragem ou nos precipitando ao caos da enfermidade física ou mental, temos, além disso, a certeza reconfortante, com relação ao destino dos que nos foram caros no Plano Terrestre, sabendo que muitos deles voltam do Mundo Espiritual, a fim de nos sustentarem na caminhada humana.
Antes que entremos na análise da mensagem que nos prende a atenção, recebida pelo médium Xavier, na noite de 10-4-1971, da esposa dedicada do editor e livreiro Paulino Saraiva — D. Hilda Gritti Saraiva (nascida aos 25 de maio de 1921, em São Paulo, Capital, à Rua Lopes Oliveira, nº 64, filha de Eusébio Gritti e de D. Bianca Gritti, desencarnada em São Paulo, depois de longo período de sofrimento ligado a um processo blastomatoso, no dia 29-11-1
966) —, vejamos que foi necessário decorrer algum tempo até que ela mesma — D. Hilda, — pudesse, pessoalmente, transmitir sua palavra direta.
A primeira vez que o Sr. Paulino Saraiva obteve notícias de D. Hilda, através do médium Francisco Cândido Xavier, foi exatamente a 9-12-1966, através da seguinte mensagem que lhe endereçou o Espírito amorável do Dr. Bezerra de Menezes:
Meu caro Paulino: O Senhor em nossos corações!
Um bilhete apenas, filho, em que lhe vimos falar de nossa Hilda. Graças a Deus, a companheira venceu e o seu coração afetuoso de seareiro do bem pôde compreender toda a significação dessa notícia.
Guarde a certeza de que ela se colocou em grande lucidez pela conformação e serenidade com que atravessou a prova e que já dispõe de recursos para auxiliá-lo.
Você, meu filho, está calmo na superfície, entretanto, no imo do coração, as correntes da saudade e do pesar se entrechocam, anuviando-lhe os pensamentos, mormente quando se vê mais só, com possibilidade de monologar, entre o sofrimento e a lembrança.
Justificamos o que ocorre, mas pedimos sua conformidade autêntica, porque seu coração está profundamente ligado ao coração da companheira.
A morte, ou melhor, a renovação da vida, ainda não logrou desatar os laços que os jungem um ao outro. Isso é um fenômeno de sintonia que só o amor verdadeiro pode realizar. É como se num circuito de forças mentais, atuantes e vivas, você sentisse pelo coração de nossa Hilda, ao mesmo tempo que ela pensasse com seu cérebro.
Suas lágrimas solitárias caem-lhe na alma e nossa companheira tem necessidade de mais ampla restauração nos domínios das forças emotivas.
Chore, sim, que o sofrimento é nosso privilégio na condição evolutiva em que nos achamos, mas não perca a esperança, a tranquilidade, a fé positiva e o bom-ânimo.
Nossa Hilda tomará suas faculdades mediúnicas por novos instrumentos de trabalho e os dois numa abençoada dupla de amor a Jesus, conquistarão vasta messe de luz e de bênçãos.
Trabalhar, Paulino, trabalhar… Você, meu filho, com o nosso Jorge, recebeu do Senhor tantos e tão preciosos talentos para o auxílio aos semelhantes e tê-los-á em maior quantidade, mais ainda.
Mentalize a nossa Hilda mais viva que nunca. Ela dará a você forças novas. Estará com o seu carinho e com os seus dons de ajudar aos outros, com muito mais força de compreensão e realização. Alimente-se, repouse, reconstitua as energias próprias e lembre-se, meu filho, de que a companheira devotada permanece mais viva, preparando-se para a consagração mais viva ao bem do próximo.
Esteja certo de que você e ela, tanto quanto nós, não estamos sós nas obrigações a cumprir.
Os mensageiros de Jesus permanecem conosco e nos sustentarão agora, como sempre.
Reunindo você com os nossos caros amigos presentes, num grande e afetuoso abraço, somos o amigo e servidor reconhecido de sempre,
Paulino, meu filho, Jesus nos abençoe.
Entendemos o significado de sua presença e da presença de nossos entes queridos, em nossas preces.
Sim, esta é uma excursão de saudade e esperança. Compreendemos. O bálsamo das vibrações de amor que os nossos corações reunidos derramaram em torno do nosso caro Jorge, alcançam-no na 5ida Maior, restaurando-lhe as energias.
Nosso querido companheiro descansa e se refaz, no lar paterno, o que equivale dizer que se demora no regaço daquele que lhe foi carinhoso pai no mundo.
Em pensamento, vem inspirando, conquanto de longe, não apenas o seu coração fraterno, como também ao filho jovem que hoje amadurece em espírito para assumir integralmente as responsabilidades que ficaram.
Ajude, meu filho, como sempre, em tudo, para que a obra gigantesca, dedicada à cultura no Brasil e no mundo, não venha a sofrer qualquer solução de continuidade.
Esperemos mais tempo para receber a palavra direta do companheiro que o antecedeu na Espiritualidade Maior.
Com o amparo divino, todas as providências vão seguindo curso normal para que a esposa e os filhos do nosso caro Jorge estejam em paz, embora essa paz esteja encharcada de saudades em forma de lágrimas reprimidas.
Confiemos, meu filho, em Jesus, e prossigamos trabalhando. Nossa irmã Hilda está presente e saúda o querido amigo com a afetuosa dedicação de todos os dias.
Meu caro Paulino, mantenha o espírito de ordem e trabalho na obra que ficou em grande parte no seu coração e nas suas mãos, e entreguemos ao Senhor as nossas inquietações para que o Senhor nos transforme a luta em bênçãos.
A todos os corações queridos que consigo compartilham as orações, o carinho e a gratidão do velho servidor que o abraça muito afetuosamente.
Presente conosco está a nossa irmã Hilda, que abraça em nossos irmãos Paulino e Júlia dois corações abençoados e queridos, para os quais roga a Deus toda felicidade que possa ser encontrada na Terra.
Declara que se sente profundamente jubilosa em vê-los unidos pelos ternos laços do matrimônio na Terra e confessa à nossa irmã Júlia que não poderia encontrar melhor amiga para entregar a devoção do nosso Paulino, de vez que reconhece claramente que o enlace foi a medida feliz que lhe veio trazer novo encorajamento para as tarefas.
Nosso Paulino é um esteio da obra cultural do Espiritismo e do edifício da beneficência em favor de muitos, e a paz dele com a nossa querida Júlia, significa igualmente paz em todos os corações que os amam e acompanham de uma Vida Maior.
Somente cerca de oito meses depois, a própria D. Hilda, servindo-se da mesma instrumentalidade mediúnica, transmitiu a mensagem tão expressiva que deverá calar fundo nos corações, tal o impacto que ela provoca, ao demonstrar-nos que após a morte, uma vez que o Espírito esteja consciente de sua missão e imerso nas Leis Universais do Amor Puro, os laços do casamento não se rompem, antes se ampliam, atingindo dimensões incomensuráveis.
D. Hilda Gritti Saraiva dá o testemunho exato deste supremo alumbramento: a esposa deve ser aquela criatura que para cumprir seu sagrado dever necessita transformar o carinho “em regaço materno” e, uma vez liberta da libré carnal, deverá se identificar com o Amor “que é uma luz que brilha alto demais para que possamos defini-la no mundo” e, tanto quanto possível, desde que necessário, para refazimento daquele que fica, inspirá-lo para que outra criatura a substitua na reconstrução do ninho doméstico, passando a ver no casal recém-formado não apenas constituído de “filhos abençoados”, mas por duas estrelas que “pertencem ao mesmo fragmento de espaço ou duas flores pertencentes à mesma haste, em que perfumam a paisagem.”