Entre Irmãos de Outras Terras

Capítulo XXXI

Vinte questões com Gabriel Delanne



Presente Gabriel Delanne, um dos mais destacados continuadores de Allan Kardec, em nossa reunião desta noite, formulamos respeitosamente para ele as questões que passamos a enumerar:


Caro amigo, estimamos colocar-nos na posição de nossos irmãos, ainda encarnados, para endereçar-lhe algumas perguntas de suma importância para eles que militam no Plano físico. Prossegue em sua ação espírita de outro tempo, não obstante residindo agora além da Terra?

— Sim, tanto quanto possível, dentro das minhas reduzidas possibilidades.


Que nos diz acerca do Espiritismo, na França?

— Não nos é lícito dizer haja alcançado o nível ideal…


Em se tratando do berço de Allan Kardec, ser-nos-á permitido indagar a razão disso?

— Não podemos esquecer que a França nos últimos vinte lustros sofreu a carga de três grandes guerras que lhe impuseram sofrimentos e provas terríveis.


Considera que isso tenha atrasado a marcha do Espiritismo?

— De modo algum. Legiões de companheiros da obra de Allan Kardec reencarnaram, não só na França, mas igualmente em outros países, notadamente no Brasil, para a sustentação do edifício kardequiano.


Acredita que a Europa retomará a direção do movimento espírita?

— Antes de tudo, devemos considerar que a Europa assemelha-se, atualmente, a vasto campo de guerra ideológica, que está muito longe de terminar…


Admite que os princípios espíritas estão caminhando lentamente no mundo?

— Não penso assim… As atividades espíritas contam pouco mais de um século e um século é período demasiado curto em assuntos do espírito.


Muitos amigos na Terra são de parecer que os Mensageiros da Espiritualidade Superior deveriam patrocinar mais amplas manifestações da mediunidade de efeitos físicos para benefício dos homens, como sejam materializações e vozes diretas. Que pensa a respeito?

— Creio que a mediunidade de efeitos físicos serve à convicção mas não adianta ao serviço indispensável da renovação espiritual. Os Espíritos Superiores agem acertadamente em lhe podando os surtos e as motivações, para que os homens, nossos irmãos, despertem à luz da Doutrina Espírita, entregando a consciência ao esforço do aprimoramento moral.


Conquanto tenha essa opinião, julga que o Espiritismo precisa atender ao incremento e melhoria da mediunidade?

— Não teríamos o Evangelho sem Jesus-Cristo e não teríamos Jesus-Cristo sem o socorro aos sofredores pelos processos mediúnicos que lhe caracterizaram a presença na Terra.


A Ciência terrestre de hoje se mostra ávida de contacto com outros mundos e, por isso, não seria interessante que os Espíritos fizessem por vários médiuns descrições da vida em outros planetas.

— Isso é útil, desde que o problema seja apreciado nas dimensões justas. Espíritos comunicantes podem descrever para os homens cidades prodigiosas e avançados sistemas sociais em planos de matéria que não aquela no estado em que é conhecida, medida e pesada na estância terrena. O homem físico, ainda mesmo de posse de mais avançada instrumentação, apenas vê ínfima parte do Universo.


A que atribuirmos semelhante restrição?

— A estrutura do olho humano, formado para suportar apenas determinada quota de observação da vida em si.


Para que região devemos, nós, a seu ver, conduzir a pesquisa científica na Terra, de vez que a conquista da paisagem material de outros planetas não adiantará muito ao progresso moral das criaturas?

— Devemos estimular os estudos em torno da matéria e da reencarnação, analisar o reino maravilhoso da mente e situar no exercício da mediunidade as obras da fraternidade, da orientação, do consolo e do alívio à,s múltiplas enfermidades das criaturas terrestres…


Que mais?

— Velar pelas atividades que possam, na realidade, melhorar a individualidade por dentro …


Onde os percalços maiores para a expansão da Doutrina Espírita?

— Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridicularizá-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror.


Como vê semelhantes deformações?

— Os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus médiuns. Impossível negar isso.


De que modo vencer no labirinto gigantesco em que opera a influência das sombras?

— Educando…


Como?

— Explicando-se, tanto nos sistemas religiosos do Ocidente, quanto nos do Oriente, que a pessoa humana em qualquer lugar e em qualquer tempo somente possui o que ela fez de si própria.


Exprimindo-se, desse modo, refere-se à necessidade da divulgação da Doutrina Espírita?

— Sim.


Mas, segundo o seu conceito, a divulgação terá de efetuar-se de pessoa a pessoa. Teremos entendido certo?

— Sim, de pessoa a pessoa, de consciência a consciência. A verdade a ninguém atinge através da compulsão. A verdade para a alma é semelhante à alfabetização para o cérebro. Um sábio por mais sábio não consegue aprender a ler por nós.


Não considerará, porém, que esse processo é moroso demais para a Humanidade?

— Uma obra-prima de arte exige, por vezes, existências e existências para o artista que persegue a condição do gênio. Como acreditar que o esclarecimento ou o aprimoramento do espírito imortal se faça tão só por afirmações labiais de alguns dias?


Que advertência nos dá para a vitória de nosso esforço modesto na seara espírita?

— Compreender que esperança é sinônimo de paciência, estudando e servindo sempre, na certeza de que, se a eternidade é a nossa divina herança, cada dia é um tesouro de recursos infinitos que não podemos desprezar.




(Paris, França, 20, Agosto, 1965.)

(Psicografado por Waldo Vieira.)