Amélia Kauper, anciã, estava em sua tapera, nos arredores de Chesapeake Bay, no interior de Maryland, quando Craig Peter, um de seus muitos sobrinhos, foi observar-lhe a situação.
— Seu tio James — dizia ela ao parente, referindo-se ao marido desencarnado —, desde que se fez médium, num templo espírita, deu aos necessitados tudo quanto pôde. Não deixou dívidas, mas, depois do funeral, vim a saber que a nossa própria casa se achava hipotecada e fui constrangida, por isso, a entregar todos os nossos recursos aos credores…
— A senhora está arruinada, tia? — perguntou o moço.
— Estou com a roupa do corpo… — esclareceu a velhinha.
E designando antigo móvel:
— Mas, graças a Deus, tenho o meu tesouro no cofre.
O rapaz que conhecera os tios nos bons tempos, quando possuíam eles preciosas reservas petrolíferas no Texas, pensou um minuto e deliberou, de súbito, que a tia o acompanhasse.
No dia imediato, a viúva Kauper, depois de entregar enorme mala ao sobrinho, entrou no jipe, carregando pequeno baú, carinhosamente.
Então, começou para ela uma vida nova.
Craig, que detinha sítio próspero na 5irgínia, chamou Edward, seu irmão mais velho, cujas terras se confinavam com as dele, trocaram ideias confidencialmente e concluíram que a estreita caixa de lata de que a tia jamais se distanciava deveria conter joias riquíssimas… E combinaram entre si guardar a anciã, cuidadosamente.
Vieram familiares de longe, disputando a convivência da senhora Kauper, mas Craig e Edward alegavam que “tia Amélia” estava fatigada, que os médicos não lhe permitiam maior esforço…
Habitualmente à noite, um ou o outro espiavam a velhinha, pelo buraco da fechadura, e viam-na, segurando a vela acesa, a debruçar-se sobre o baú aberto, decerto fitando, através dos óculos, aquilo a que ela chamava “minha riqueza” ou “meu tesouro”.
Assim viveu, ainda por mais nove anos, requestada por toda a família e tratada com respeitosa atenção por ambos os sobrinhos que a mantinham, interessados…
Quando a morte quebrou semelhante situação, conduzindo a viúva Kauper na direção de vida melhor, Craig e Edward trancaram-se no quarto que ela deixara, apossando-se do cobiçado baú; no entanto, ao abri-lo apenas encontraram dentro dele um antigo exemplar do Evangelho e, sobre o ensebado volume, o seguinte bilhete que lhes era dirigido pela tia desencarnada:
— Meus filhos, Deus os recompense pela caridade para comigo, mas tomem cuidado com a vida na Terra…
E com a sua longa experiência do mundo, a velhinha terminava com o versículo número dez do capítulo seis da 1tm
“…Porque a paixão pelo dinheiro é a raiz de todos os males e, nessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”
(Nova Iorque, N.I., EUA, 10, Julho, 1965.)
(Psicografado por Francisco C. Xavier.)