Escola no Além

Capítulo V

Cantando a saudade



Querida mãezinha Dorothy e querido papai Antoninho, Jesus nos abençoe.

Prometi voltar aos assuntos de nossa escola do Plano Espiritual e aqui estou com a minha alegria, que se inspira notadamente no trabalho que nos foi confiado.

Mãezinha, as nossas crianças excedem o número de cem. Decerto, cumprimos esquemas educativos que nos são enviados semanalmente do Departamento Superior, ao qual devemos respeitosa consideração.

Ignoro quais são as bases dos ensinamentos nas faixas etárias, diferentes das que se escalona de meses aos dois janeiros de idade, contados pelo calendário terrestre e, por isso, por enquanto, posso falar apenas com relação a esse setor do mundo infantil.

A disciplina aqui em nosso educandário é rigorosamente observada.

As crianças, somente meninas, obedecem a horários específicos para leitura, diálogo, conhecimentos gerais de acordo com a capacidade mental que apresentem, mas são favorecidas com excelente música, passeios e hora de recreio, de recreio para o canto imaginado por elas próprias.

Todas são proibidas de se entregar a reclamações descabidas e a queixas sem razão. As pequenas atendem a todos os requisitos do Estabelecimento, no entanto, sabem que somente possuem licença para dizer o que pensam através do canto que realizam em comum.

Queria que a senhora visse os prodígios de inteligência dessas crianças, nos momentos em que colocam nas cantigas tudo o que lhes vai no espírito, na maioria das vezes, plenamente inconformado.

Citarei para o seu conhecimento e conhecimento de outras mães que perderam filhas na primeira infância, de modo a confirmar que a Sabedoria de Deus funciona em toda parte e não esquece ninguém.

Passo horas e horas meditando nas cantigas que ouço, todas elas destilando os sentimentos característicos das pessoas adultas da comunidade humana.

Aqui segue a queixa sonorizada de uma pequena de dois janeiros:

Minha mãe vive sozinha,

Pois meu pai vive sem nós.

Eu estava na cozinha

Quando perdi minha voz.


Tive os braços da vizinha,

Nada vi dos dias meus,

Quem me tirou da mãezinha,

Não conhece quem é Deus.


Outra meninazinha, inconformada, pôs em movimento a trova curiosa que passo a transcrever:

Se estamos no Céu da vida,

Quero a casa de meus pais.

Ao ver tanta flor à frente,

A saudade aumenta mais.


Outra pequena de dois anos, que espera a reencarnação para breve, assim cantou, com admiração dos que a ouviam:

Eu tenho uma professora,

Certa jovem muito boa,

Que me auxilia e perdoa,

Que se choro me adivinha.


Ela me diz que serei

Novamente uma criança.

Agora tenho a esperança,

De voltar para mãezinha!…


Em contraposição a essa poesia, tocada de serenidade e beleza, outra menina confessou na cantiga por ela imaginada:

Aqui não aceito escola,

Nem as lições uma a uma,

Porque não temos correio,

Nem se sabe coisa alguma.


Pelo que exponho, a senhora, mãezinha Dorothy, observará quanto amor essas crianças esperam de nós e quero dizer-lhe que sua filha está cooperando com firmeza e decisão em todos os setores do nosso Educandário.

Conto-lhe tudo isso porque sei que o seu carinho por nós, os seus filhos, e a sua sensibilidade guardarão minhas notícias por estímulo ao serviço de proteção a qualquer criança do mundo.

Minhas lembranças à Mônica e ao Júnior, pedindo aos queridos pais receberem o imenso amor da filha que se sente renovada para a vida.



COMENTÁRIOS


O Educandário da Vida, para a evolução de cada Espírito, requer aprimoramentos e esforço da vontade.

É o que observamos no Plano Espiritual quando da preparação dos espíritos. A disciplina é rigorosamente observada, regida como base fundamental na educação e envolvimento cultural dessas crianças.

Com horários específicos, criam no diálogo e na leitura, conhecimentos gerais de acordo com a capacidade mental que apresentem.

Na criação de poemas, em seu canto, exteriorizam os sentimentos na lágrima da saudade, a procura dos seus familiares em poesias de rara beleza, que faz pensar como entes tão pequeninos trazem no seu sentimento expressões tão adultas.