No Golfo Pérsico é noite… Revejo a nuvem da guerra, Pairando, acima da Terra, A espalhar-se na amplidão… No bojo dos grandes barcos, Em mesas enfileiradas, Ouço frases cochichadas Exprimindo inquietação. Nos guerreiros veteranos, Há silêncio, não há voz… E vendo luz ao meu lado Entro na bênção da prece, Pedindo a Deus, Fortaleça a todos nós. Fitando o Alto, eis que imploro: “Ah! meu Pai, por que, meu Deus, Por que deste tanto ódio, Aos teus filhos e irmãos meus?” Sem que ninguém saiba de onde, A voz dos Céus nos responde: “A todos damos amor!…” Invoco então Jesus-Cristo, Amado Mestre e Senhor: “Jesus, ante o teu Natal, Livra-nos sempre do mal.” E o Mestre disse em voz alta: “Para o Bem nada nos falta Amparai-vos uns aos outros, Amai-vos qual vos amei.” Sei que o conflito iminente Pode surgir de repente… De espírito transformado Operando mentalmente Volto ao meu próprio passado… Vejo a Guerra das Cruzadas, Homens munidos de espadas Montam soberbos corcéis; Crianças abandonadas Procuram mães desoladas, Sofrendo golpes cruéis!… Eis-me também nas Cruzadas… A guerra é longa e sangrenta, O Homem não se contenta, Crê no ódio, mais e mais; Nada suprime a matança, Morre a paz sem esperança, Gerando embates fatais… A batalha continua… Volto a Jesus e pergunto: “Como agir? Dize Senhor, Perante o desequilíbrio De nossos irmãos do mundo, Rogamos que nos definas Com Tuas lições Divinas: Que fazer, perante a Lei?” Fala, entretanto, o Senhor, Quando a vida se desmanda Precisamos cultivar mais trabalho, Mais perdão e mais amor. A guerra prossegue intensa, Os homens nos lembram feras No caminho de outras eras Sem Luz, sem Paz e sem Crença… E em vilarejo distante, embora vitorioso, O cai exangue E morre em poeira e sangue Ferindo o mundo cristão!… Tantas lembranças amargas!… Afasto-me do terror, Sempre o ódio em tantas cenas!… Para ilações mais serenas Em torno do hórrido evento Coração em sofrimento Mergulhado em grande dor!… Quero pensar livremente, Não suporto a grande luta; Retiro-me quando escuto Alguém a dizer-me, claro: “Em Deus não há desamparo!…” O mensageiro da Luz Pedia-me paz e fé, Na bênção do Herói da Cruz. Consciente, ansioso e aflito, Procuro guardar-me em prece, Na paz de que necessito; Vejo em torno a Natureza, Tudo é Esperança e Beleza!… O vento brinca na areia… Noto onde o solo se alteia, Terra verde e céu de anil!… A dor quase me enlouquece, Mas em paz reflito em prece: — Deus nos preserve o Brasil. |
(Poema recebido em reunião pública e comemorativa do Centro Espírita União, em São Paulo, na noite de 17 de Outubro de 1990)