E fiquei a pensar, indagando de mim própria quanto ao motivo de analisar, com tanta volúpia, os defeitos alheios…
Se notícias de um delito espetacular me alcançassem os ouvidos, fixava-me na busca de pormenores da ocorrência, a fim de desenhar na memória a figura do agressor;
se algum problema de sovinice me viesse ao conhecimento, procurava as causas do desajuste para reprovar intimamente quem estivesse cultivando a cobiça;
se algum desequilíbrio emotivo aparecesse, alterando negativamente essa ou aquela pessoa, empenhava-me a conhecer o portador de semelhante irregularidade, de modo a evitar-lhe a presença;
se algum distúrbio, surgisse, complicando grupos sociais, mentalizava-lhe as origens, para censurar aqueles que o provocassem prejudicando o caminho de muita gente.
— Por que — perguntava a mim mesma — essa inclinação para condenar instintivamente os outros, sem a menor consideração? Por que me arraigar no mal se conhecia a estrada do bem?
Foi quando um mentor amigo acorreu em meu socorro e observou:
— Filha, o aperfeiçoamento é a obra de muito esforço em longo tempo. Já passei pelo hábito das indagações inúteis e só consegui a superação desejada, colocando-me no lugar dos irmãos que supomos errados.
E prosseguiu, depois de pequeno intervalo:
— Qual seria o seu comportamento, se visse o assassinato de um filho, sob os seus próprios olhos?
Como reagiria você perante uma filha que trocasse a tranquilidade do lar pelas aventuras infelizes?
Como procederia você, a fim de proteger vários filhos pequeninos com o esposo em penúria, dentro de longo período de hospitalização?
E se um obsessor com larga força de afinidade sobre o seu psiquismo, a induzisse, através de hipnoses reiteradas à degradação de si própria, o que faria?
Ante o meu silêncio, o amigo aditou:
— Pensemos por nós mesmos. Certamente as Leis de Deus nos concedem facilidades para julgar as nódoas alheias, a fim de observarmos as nossas próprias fraquezas, aprendendo compreensão e misericórdia, de maneira a nos corrigir sem exercícios difíceis de suportar…
O instrutor despediu-se, sorrindo, e concluí que, pela Bondade do Senhor, ali tivera, no chamado “Mais Além”, o meu primeiro ensaio de compaixão.
(Psicografia de Francisco C. Xavier)