Estamos Vivos

Capítulo XIV

Pedro Alexandre Borba Pereira




Querida mãezinha Sônia e querido papai Guilherme, peço-lhes para que me abençoem.

O susto já passou. Conversemos calmamente.

Nunca pensei que pudesse um cavalo furtar-me a existência.

Tantos acidentes se multiplicam, na Terra, e justamente o animal a que me dedicava com mais confiança, se deixou levar por alguma influência de Espíritos infelizes, e numa certa movimentação que me pareceu o bailado da morte, arremessou-me a cabeça insegura contra o corpo pesado, que a princípio se me afigurou um monstro a esperar-me, agarrando-me pela gola.

Depois do choque, nada mais via, senão uma névoa grossa sobre a minha cabeça. Ainda assim, queridos pais, não queria ter deixado a fazenda, sem pedir proteção para o animal que não teve culpa alguma. Quando procurei expressar o que desejava, a voz já se extinguira na garganta.

Ignoro que sensações de pesadelo me tomavam naquela hora de solenes realidades para mim. Ansiava gritar, dizer alguma coisa que os tranquilizasse, mas nada consegui.

Dormi a contra-gosto, por longas horas, cujo número desconheço.

Quando acordei, experimentava a maior estranheza; admiti que estivesse internado em alguma clínica de repouso, mas depressa me desiludi, porque foi a vovó Alexandrina quem se aproximou de mim, explicou-me, com palavras brandas, que atravessara as raias do insucesso.

Bastou que ela me dirigisse alguns apontamentos, para que eu entendesse tudo, qual se a telepatia carregasse de informações mecânicas aquele nosso primeiro encontro.

Em seguida, depois de alguns dias, em que me cabia meditar sobre paciência e coragem, pude voltar à nossa casa, revendo os familiares queridos, que não me saíam da imaginação.

Mãe querida, o que me doeu na ocorrência, somente nós, com o papai, saberemos de tudo, que não existem palavras para traduzirem as lágrimas dos que se descobrem incomunicáveis na cela da angústia. Somente agora, vou melhorando.

Sinto-me ainda preso às muitas saudades do campo e às alegrias da nossa vida doméstica. Chorei com o seu pranto e reaprendi esquecidas orações para rogar a Deus que a consolasse.

Escutei as indicações de meu pai, no silêncio das suas horas de reclusão, e li com enternecimento e com muitas lágrimas o texto escrito por nossa Rachel com respeito à minha passagem para esta “outra vida”.

Agradeço às irmãzinhas os pensamentos de carinho que me endereçam, e diga-lhes, mamãe, por favor, que manteremos a certeza de que um dia nos entregaremos com júbilo das saudades que se mostram transformadas em esperanças e alegrias que não morrem.

Envio muitas lembranças ao querido Neto, o nosso Chico, a Sônia, a Rachel e a irmãzinha. Que os irmãos não me considerem abatido e morto, pois não me aconteceu nem uma coisa, nem outra.

Querida mamãe Sônia, desejava transmitir-lhes juntamente tudo quanto sinto, no entanto, a vovó Alexandrina e a vovó Rita, que me trouxeram, me aconselham a que me restrinja ao presente noticiário de reconforto.

Creiam que estou bem, melhorando cada vez mais. Tenho regressado à nossa casa, mas ainda não consegui visitar os meus companheiros, os animais amigos; aqui, tenho a ideia de que estou engasgado com a saudade a me paralisar a mão.

Pensei muitas vezes, aí, que semelhantes estados sucediam unicamente com a voz, mas hoje noto que a força do amor que sofre, é capaz de imobilizar-nos todas as energias.

Um abraço a toda a nossa gente amiga. Peço dizer à Rachel que o irmãozinho continua vivo e que ela está certa, quando escreve que vamos nos encontrar.

Papai amigo, muito grato, por todo o seu amparo. Não deixe a mãezinha Sônia isolar-se na tristeza, e que a alegria esteja em nosso recanto, com o verde festivo de nossas árvores e com a tranquilidade do nosso céu, porque aquele firmamento, que divisava da fazenda, não encontro ainda em outro lugar.

Mãezinha, estarei ao seu lado no próximo Dia das Mães.

A vovó Alexandrina assim me promete, e se algum perfume balsamizar o nosso ambiente caseiro, lembre-se de que não me esqueci das flores para o seu maravilhoso dia.

Com o papai e com todos os nossos, receba, mãezinha Sônia, todo o amor e todo o reconhecimento de seu filho


Pedro Alexandre Borba Pereira


Sobre a mensagem que acabamos de ler e que tanto consolo trouxe à família e aos amigos do comunicante, recebida pelo médium Xavier, a 1º de maio de 1982, observemos apenas o seguinte:


1 — Pedro Alexandre Borba Pereira nasceu a 1.° de outubro de 1965, e desencarnou a 11 de janeiro de 1982, em consequência de queda de cavalo, na Fazenda Santa Tereza, município de Aragoiânia, Goiânia, Goiás. Cursava a 7ª série do 1.° Grau, no Colégio Vocacional — Setor Marista —, de Goiânia. Filho de Guilherme Machado Pereira e de D. Sônia Aparecida Machado Pereira Borba, residentes à Rua 147, n° 236, Setor Marista, Goiânia.


2 — Alexandrina Machado Borba — Trata-se da avó materna, desencarnada a 12 de abril de 1968. Muito católica, era sua madrinha de batismo.


3 — Rita Pêdra de Oliveira — Bisavó paterna, desencarnada a 21 de junho de 1931, mãe de seu avô Francisco Pereira de Oliveira, residente à Rua 86-A, nº 9, no Setor Sul, em Goiânia.


4 — “Envio muitas lembranças ao querido Neto, o nosso Chico, à Sônia, à Rachel e à irmãzinha.” —

a) Francisco Pereira de Oliveira Neto, irmão, que era chamado na intimidade, ora por Neto, ora por Chico;

b) Sônia Cristina Machado Borba e Rachel Cristina M. Borba, irmãs do autor espiritual da mensagem;

c) Renata Cristina Machado Borba, com três anos de idade por ocasião do recebimento da página mediúnica, era sempre chamada de irmãzinha por ele, que a prezava muito.


A título de conclusão deste capítulo, meditemos, leitor amigo, sobre este trecho da peça medianímica em análise:

“Nunca imaginei que pudesse um cavalo furtar-me a existência. / Tantos acidentes se multiplicam, na Terra, e justamente o animal a que me dedicava com mais confiança, se deixou levar por alguma influência de Espíritos infelizes, e numa certa movimentação que me pareceu o bailado da morte, arremessou-me a cabeça insegura contra o corpo pesado, que a princípio se me afigurou um monstro a esperar-me, agarrando-me pela gola.”

Na verdade, por habitarmos, por enquanto, um planeta de provas e expiações, destinado a se transformar em mundo de regeneração, onde pululam legiões inumeráveis de Espíritos ainda vinculados ao mal, sofremos a influência deletéria deles, devido à nossa invigilância ou por necessidade cármica nossa, por três motivos principais:

1°) desejo de vingança: são Espíritos a quem prejudicamos, em vidas pregressas, que procuram nos perseguir, não somente durante as horas habituais do sono reparador das nossas energias orgânicas, em que permanecemos fora do corpo físico, mas, minuto a minuto, em nosso período de vigília, para tanto hipnotizando Espíritos invigilantes que se tornam comparsas deles, complicando-lhes os respectivos destinos, visando à nossa ruína e destruição. Segundo as judiciosas observações do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, em sua obra-prima — A Loucura Sob Novo Prisma —, cerca de vinte e cinco por cento dos obsidiados (este o termo com que somos designados quando os chamados obsessores, implacavelmente, se empenham em nos atravancar os passos, causando-nos uma série incalculável de aborrecimentos e acidentes de vária gravidade) não perdoam os Espíritos perseguidores, desenfaixados da libré carnal, facilitando, sobremaneira, a sua atuação sobre nós, os que permanecemos vivendo longe dos padrões vibratórios do Divino Mestre.

2º) Por pertencermos, apesar de nossas imperfeições, por misericórdia de Deus e para honra nossa, ao grupo dos que trabalham com o Cristo, na vivência e, principalmente, na divulgação da Doutrina Espírita.

3°) Por estabelecermos sintonia com os Espíritos afeitos às brincadeiras de mau gosto e à total irresponsabilidade.

Cientes de semelhante realidade, que possamos, a cada instante, intensificar o nosso trabalho no bem, lutando contra a prática da maledicência, decorrente do nosso convívio com o egoísmo, o orgulho e a tola vaidade, lancemos mão de todos os recursos ao nosso alcance, capazes de nos garantir o máximo de segurança: o estudo diário das obras básicas do Espiritismo, lendo, no mínimo de três a cinco linhas das obras de Allan Kardec, ou um capítulo das obras de Emmanuel, da série Caminho, Verdade e Vida e Palavras de Vida Eterna, ou de André Luiz, do gênero Agenda Cristã e Sinal Verde, recebidas pelo médium Xavier, por dia, e o Culto Evangélico no Lar, pelo menos uma vez por semana.

Deste modo, passando pelos aborrecimentos imprescindíveis à nossa evolução espiritual, em consequência da natureza do próprio globo que nos serve de morada transitória, que possamos, em todos os nossos minutos disponíveis, trabalhar com Jesus, reverenciando Allan Kardec, à maneira do que vem fazendo o médium Francisco Cândido Xavier, há sessenta e dois anos.