Querida esposa Fernanda e querida mamãe Antônia, estou presente, mentalizando a imagem de meu pai e dos filhinhos ausentes, para alegrarmos, todos juntos, a data do nosso reencontro.
Estou, assim, abilolado de vê-las aqui, pensando em mim.
Estou em dificuldades para escrever, transmitindo-lhes as minhas notícias, porque eu nunca poderia pensar que sairiam da nossa Paraíba distante, a fim de recolherem alguns traços de minha presença.
Admiro-lhes a coragem, vindo de Pombal até aqui, arquitetando a possibilidade de me recolherem as palavras.
Mamãe Antônia, abençoe-me e continue pedindo a Jesus por seu filho.
A nossa Fernanda, que estava em minha companhia no acidente de que fomos vítimas, está qual eu mesmo, sem palavras para descrever o acontecimento. Lembro-me apenas de que um corpo pesado me alcançou a cabeça, e desmaiei. Mais nada.
Tenho a convicção de que a Bondade de Deus cobre a desencarnação com muitos agentes da Natureza, que resultam no esquecimento em que somos mergulhados, para não acrescentar sofrimentos maiores ao sofrimento de demissão da vida física a que somos obrigados.
Querida Fernanda, agradeço a coragem e a paciência. Compreendo as expectativas amargas a que você se viu repentinamente exposta. Os meses últimos provaram, porém, que você está apta a conduzir o nosso filho para a existência de homens prestativos e honestos, que nós ambos lhe desejamos.
Fui amparado pela vó Noí Medeiros; pelo menos é assim que ela me solicita chamá-la em quaisquer circunstâncias.
E quanto se me faça possível, estarei com ela, cooperando com você e com meus pais, a mamãe Antônia e o papai Medeiros, de modo a que tudo se processe em paz, no ambiente do nosso ninho doméstico.
Todos os três Carlos serão convenientemente amparados: Carlos Agripino, Carlos José e Carlos Fernando. Não têm obstáculos e provações. Deus promove alimentos em favor dos passarinhos, por que deixaria meus filhos órfãos de socorro?
Recordo a nossa união com lágrimas a me caírem dos olhos. Eu que me habituara a guiar o volante, quando necessário, em todo aquele mundo, de Pombal a João Pessoa, desde as cidades do sertão às grandes cidades do litoral, acostumado a viajar sem qualquer preocupação, fui encontrar a morte juntamente em sua companhia, sem possibilidade de estender-lhe proteção.
Aprendemos, no entanto, com a fé, que tudo está certo nas resoluções da Providência Divina, e peço-lhe não esmorecer.
Observe a mamãe Antônia, enfibrada no valor que lhe conhecemos, e sigamos em frente, com a certeza de que Jesus não nos abandonará.
Envio muito amor aos meus filhos queridos, que espero venham a crescer no clima de bons exemplos, estudando quanto possível e, ao mesmo tempo, trabalhando sempre, a fim de que aprendam a viver para o bem.
Querida mamãe e querida Fernanda, aqui vou terminar não posso abusar dos amigos, que nos recebem aqui com tanta generosidade. Lembre-se de que estou vivo para amá-las e ser-lhes útil cada vez mais.
Mãe querida, para o seu coração amoroso e para o coração de nossa Fernanda, sempre voltados para o bem de nós todos, beijo-as com muita saudade e carinho, dedicação e reconhecimento.
O filho e esposo que não as esquece e que continuará vivendo para resgatar a dívida de amor que lhes deve, sempre o filho e esposo muito grato,
Uberaba, 17/01/1987.
Do jornal Tribuna Espírita (Ano VI — João Pessoa, Paraíba, Brasil — Jan/Fev/1987 — Nº 33), sob o título “Bancário Paraibano que ‘morreu’ envia Mensagem”, transcrevamos para estas páginas os seguintes apontamentos, a propósito da missiva mediúnica sob nossa análise:
“Carlos Normando de Assis, brasileiro, casado, nasceu em Catingueira, cidade da Paraíba, no dia 23/07/1950. Ocupava a gerência do Banco do Brasil S.A., em Pombal, no sertão paraibano, onde desempenhava com responsabilidade as suas funções, sendo muito estimado pelos seus colegas e amigos. Tinha, em Fernanda Rocha, a dona de seu lar e mãe extremosa do seu terceiro filho. Dois outros são do seu primeiro casamento. O casal muito jovem, principalmente ela, tinha em mente os seus planos para o futuro e a felicidade do filho pequeno. Nos seus dias de folga, Carlos Normando gostava de viajar, em seu automóvel, acompanhado da família a outras cidades; mas; aconteceu que, no dia 13 de setembro de 1986, num sábado, à tarde, quando empreendia um desses passeios, com destino à cidade de Patos (PB), em companhia da mulher e do filho caçula, Carlos Fernando, de um ano e meio de idade, após haver percorrido 3 km do percurso, numa estrada que bem conhecia, asfaltada e sinalizada, num trecho em descida reta, perde a direção e o transporte desgovernado é jogado para fora do caminho, num despenhadeiro, de 40 metros de profundidade.
Foi um acidente doloroso. Logo no impacto da primeira virada, D. Fernanda e o filhinho foram lançados fora, e Carlos Normando, no segundo lance, foi também projetado do veículo, tendo morte instantânea. Mãe e filho apresentaram leves escoriações tendo, apenas, a primeira uma costela fraturada; tudo sem maior gravidade.
D. Fernanda ficou muito abalada com o quadro chocante do desastre e da morte violentado companheiro. Viu, assim, desfeitos todos os sonhos dourados formulados por eles para o futuro da família; porém, como tinha adquirido certa noção acerca do Espiritismo — que demonstra, na teoria e na prática que a vida continua depois da morte, não fraquejou. Bem amparada, por parentes que professam esta Doutrina, foi levada ao Centro Espírita Leopoldo Cirne, localizado no Jardim 13 de Maio (Rua Prefeito José de Carvalho, 179), nesta Capital, encontrando ali muita ajuda espiritual para ela e para o Espírito desencarnado do seu marido.
Em parte, já refeita do grande abalo sofrido, viajou a Brasília (DF), à casa da sogra, Dona Antônia de Oliveira Assis; lá, sentindo como uma inspiração, convidou aquela senhora para irem até Uberaba, (MG), a fim de se encontrarem com Chico Xavier, buscando maior conforto. Tiveram a felicidade de encontrar o grande e bondoso médium, na ocasião em que realizava uma das suas costumeiras reuniões “à sombra do abacateiro” onde fornece alimentos, do corpo e da alma, a inúmeras pessoas necessitadas. É tanta gente a querer falar com Chico, que às vezes torna-se inconveniente e impossível aproximar-se dele. Contudo, ela conseguiu e entregou um envelope com o retrato do marido, que ele só teve tempo de colocar no bolso sem olhar, da maneira como fazia com outros papéis. Muita gente dizia que era muito difícil uma resposta, com todos querendo a mesma coisa. Dona Fernanda, novamente, não se deu por vencida, até que chegou a falar de novo, lembrando:
“— Irmão Francisco, eu entreguei o retrato do meu marido e o Senhor colocou no bolso, não vá esquecer…” “— Ah, minha filha, não é o neto de Dona Noí? Espere mais tarde, deixe ver se o telefone toca de “lá para cá…”,” respondeu com aquela entonação de sempre, cordial e fraterna.
Ela ficou sem saber quem era a pessoa a quem ele se referiu, e, somente quanto voltou para junto da sogra, Dona Antônia, foi que ficou sabendo que Dona Noí, era a avó paterna do “morto”. Finalmente, à noite, na reunião pública de 17/01/1987, no Grupo Espírita da Prece, Francisco Cândido Xavier, autor de quase 300 livros, muitos dos quais traduzidos para vários idiomas, recebe através da mediunidade psicográfica, várias mensagens endereçadas às pessoas presentes, como há muitos anos vem fazendo, e, entre elas, a segunda veio assinada por Carlos Normando de Assis, para sua companheira, sua mãe e seus filhos queridos, que é a seguinte…”
Depois de transcrita a “Mensagem do ‘Morto’”, eis as “Notas de esclarecimento:
Carlos Normando de Assis — ex-gerente do Banco do Brasil em Pombal (PB), desencarnado em desastre automobilístico, no dia 13/9/1986.
Fernanda Rocha — esposa, atualmente residente à Av. Epitácio Pessoa, 4648 — Apto. 103 — Edifício Marcella — Bairro Cabo Branco — João Pessoa, PB.
José Medeiros — seu pai.
Antônia de Oliveira Assis — sua mãe.
Noí Medeiros — Avó paterna, desencarnada em 18/01 /1928.
Citou os três filhos, pelos nomes e pela ordem decrescente de idades.
O médium não sabia que Carlos Normando desencarnara no acidente de carro, que D. Fernanda estava com ele na hora, e o fato ocorreu na estrada de Pombal (PB). Também que a vítima às vezes gostava de dizer que estava “abilolado”, como força de expressão.
Agora quem agradece, é dona Antônia Medeiros, com uma curta e bem sentida prece:
“— Divino Mestre, nós te agradecemos.
Ao querido Chico Xavier, exemplo de humildade e resignação, carinho e amor, nossos eternos agradecimentos por termos recebido esta mensagem, através de suas mãos abençoadas. Deus o abençoe.
Normando (meu filho), que Jesus, o Divino Mestre, o abençoe e ilumine, para que possa continuar despertando-nos a consciência e o coração para a Vida Maior.”