Amigo leitor.
Devotado companheiro e nós outros, em trânsito para os sítios que demandávamos, nos achamos, quase de inesperado, à frente de grande multidão, numa praça terrestre, quando um irmão de nossa viagem, nos questionou:
— Que escreverias para esta imensa aglomeração humana, constituída, aliás, por nossos irmãos da estrada evolutiva?
Centralizei a atenção nos circunstantes que renteavam conosco e em todos vi brilhar a chama da esperança, mas não me detive a destacar os chamados “felizes da Terra”.
Muitos ali traziam na face os estigmas da inquietação e do sofrimento.
Mulheres que ostentavam constelações de joias no peito, mostravam pesadas cruzes na intimidade da própria alma;
cavalheiros corretamente apessoados, revelando a elevada posição que lhes assinalava a situação na hierarquia social, exibiam no cérebro densas nuvens de expectação;
toda uma legião de homens patenteava no próprio aspecto, as tribulações que lhes atormentavam a vida íntima;
esse escondia as lágrimas por um filho morto;
aquele recordava a esposa internada num sanatório para toxicômanos;
outro memorizava o montante das próprias dívidas;
outros muitos ocultavam os sinais da moléstia grave de que se sabiam portadores;
jovens aparentemente despreocupados, exteriorizavam mentalmente o desequilíbrio que lhes marcava os sentimentos;
outros apresentavam o coração dilacerado pelos conflitos do lar em que haviam nascido;
e muitos outros carregavam no próprio corpo as raízes da enfermidade que, mais tarde, os conduziria para a morte.
Sem qualquer pretensão, experimentei tremendo impulso de solidariedade, desejando permanecer ali, junto aos companheiros em provação e respondi ao nosso interlocutor:
— Sim, se me for permitido endereçar algumas páginas dedicadas aos irmãos que sofrem no mundo e que se acham entranhados nesta multidão enorme, espero que o Senhor Jesus Cristo me inspire a escrever sobre reconforto.
Aqui tens, leitor amigo, a origem deste volume desataviado e simples que te colocamos nas mãos.
Uberaba, 11 de março de 1986.