Os dois brasileiros, em grande cidade do exterior, rumavam para importante instituto de pesquisas sobre as ciências do Espírito, e comentavam assuntos de mediunidade, em expressivo diálogo:
— Espero colhermos excelentes boas novas, em matéria de sobrevivência…
— Imagine você!… o intercâmbio, entre os dois mundos, positivamente demonstrado…
— É a Terra Melhor à vista, a mensagem do mundo espiritual proclamada aos quatro ventos!
— Será o Evangelho de Jesus finalmente cumprido pelos homens… Com apoio na inteligência e na técnica, é impossível que as criaturas não se rendam à verdade.
— Estou realmente comovido, de vez que vamos auscultar realizações de alta ciência.
— Ouvi dizer que os experimentos prosseguem adiantados…
— Muita coisa já feita, patenteando, de modo insofismável, a existência do Espírito.
— Observe que é isso o de que mais precisamos. Dizem os benfeitores desencarnados que as manifestações mediúnicas devem ser livres, correr como fontes, para que se evitem certas determinações do poder humano sobre os desígnios da Espiritualidade Superior, no entanto…
— Lá em nosso grupo dizem o mesmo, afirmam que o Reino de Deus será edificado sem violência, que a mediunidade em si não pode ser controlada, sem graves prejuízos, pelos recursos políticos, que os valores da Vida Maior precisam alcançar a esfera de todas as criaturas, a fim de serem passados pelo crivo de rigoroso discernimento…
— Qualquer Espírito fala à vontade, qualquer médium faz-se ouvido… Isso, sem dúvida, é tolerância, mas é qualquer coisa de bagunça também…
— Liberdade para todos os instrumentos e, com isso, o atraso das edificações corretas e duradouras…
— E o tempo lá se vai… Quem aguenta?
— Os amigos desencarnados asseveram que todos somos filhos de Deus, que necessitamos estender-nos as mãos, acolhendo as manifestações da Espiritualidade por ensinamentos de escola incessante, esquivando-nos à pressão e ao descontentamento; que, se o capricho dos homens entrar no assunto, teremos perturbações insanáveis por muitos e muitos anos… Sabe o que disse o Irmão Batuíra, numa de nossas reuniões? Comparou a revelação espiritual à luz do Sol, declarou que a maioria das criaturas humanas ainda não é capaz de distribuir nem mesmo parcelas da força do grande astro, a benefício de todos, porque, se isso ocorresse, surgiriam tremendas paixões, tiranizando a vida terrestre. A inspiração do Alto deve estar no Alto, tanto quanto o Sol que nos garante a estabilidade do Alto… Compreendeu?
— Entender, entendo… Mas você não ignora… Vivemos em muita obscuridade, recolhendo interpretações mediúnicas de várias procedências. Basta que um instrumento mediúnico diga isso ou aquilo, para que outro se refira ao mesmo assunto de maneira diversa… Com a alta ciência, porém, comandando as situações, a verdade não sofrerá tantas alterações e o domínio de Jesus se estabelecerá sobre as almas… Então, com apoio nas demonstrações positivas da sobrevivência, conquistaremos, enfim, a paz na Terra e a felicidade perfeita entre as nações…
No entanto, a conversação foi interrompida, de chofre. Os dois forasteiros chegaram ao grande instituto.
Recebidos afavelmente por um dos diretores, com quem haviam marcado encontro, passaram a admirar o instrumental eletrônico vastíssimo, destinado a observações múltiplas.
Falou-se em experimentadores antigos e modernos, em sensitivos de muitos países. Comentaram-se os fenômenos parapsíquicos, as possibilidades de comunicação com outros mundos, as ocorrências da hipnose, os poderes ocultos da mente…
A certa altura, um dos visitantes perguntou:
— Meu amigo, decerto que estamos à frente de uma nova era… Que me diz o senhor do futuro de tantas e tão maravilhosas investigações?
E o distinto pesquisador, imperturbável:
— Sim, temos urgência máxima nos resultados. As faculdades profundas da alma devem ser mobilizadas na descoberta de segredos militares, no incremento de recursos bélicos, na localização das jazidas de urânio e outros minérios importantes na economia de guerra, nas comunicações a distância…
E de que servirão as pesquisas — insistiu o interlocutor —, na construção da paz e da fraternidade que Jesus nos ensinou?
— Bem — respondeu o autorizado informante —, isso é assunto de religião…
O brasileiro fitou o outro brasileiro e indagou:
— E agora, José?