Não sei se o meu verso pobre Neste caso dará pé, Inspiração com verdade Mostra o que é e não é; Devo escrever nesta noite A cantoria da fé. Aceitar ordens do Alto Em meu bestunto é dever. Fé mesmo, fé sem sofisma, Na Terra, não pude ter, Mas se quem pede é quem manda, Só me cabe obedecer. Se eu na Terra fosse um homem Aprofundado na crença, Liquidaria este caso Como quem não fala e não pensa, Mas para falar em fé, Preciso rogar licença. Viver sob confiança Parece cousa de lei, Explicar a razão disso É dom que nunca esperei; Difícil mostrar estrada Pela qual não transitei. Sobre a minha incompetência, Não lastimo, nem me iludo, Fui apenas cantador Sem colégio e sem canudo, No entanto, creio que a fé Sustenta a base de tudo. No mundo, a gente confia Em número, verbo e nome, Confia no comprimido Que se adquire e se toma, No carro que se dirige Ou no curau que se come. As forças vivas da fé Garantem o próprio ser, Mas, hoje em dia, na Terra, Com tanto brilho e saber, A dúvida sem razão Põe muita gente a descrer. O homem mora na Terra Que por si mesma se vira, Não cria minas no espaço Para o ar que ele respira E muitos andam dizendo Que Deus é pura mentira. Alguns escrevem ou falam Contra a crença, contra a prece; O ateu, por si, se rotula No título que merece: Um filho que tem vergonha Do pai que não lhe aparece. Antigamente, a criança Dispunha, no próprio lar, De quem lhe desse atenção Ensinando-a a rezar… Hoje, é muita gente adulta Que nem quer raciocinar. Temos no mundo de hoje A corrida que não cessa, Quando parece que para , A largada recomeça; É guarda, pedestre, carro E buzinadas da pressa. Vendo um amigo ao volante Ameaçado por trás, Tomei forma e fui a ele, Pedindo-lhe prece e paz, Mas ele disse: “Oração? Largue mão disso, rapaz!…” Depois fui auxiliar A um antigo companheiro, Falei-lhe da fé em Deus E ele riu-se, chocarreiro, Dizendo que acreditava Tão-somente no dinheiro. E o mundo prossegue assim, Entre conflitos gerais; Pouca gente fala em Deus, O resto nem pensa mais… A imprensa quer mais cadeias, A rua pede hospitais. O sofrimento campeia: É notícia deprimente, E nova onda de assaltos, E menino delinquente, É rebeldia gritando, É gente matando gente… Dizem que nesse barulho É que o progresso se afina, Mas sem fé onde estará A luz que nos ilumina? Aguardemos a resposta Da Providência Divina. |