Fé e Vida

Capítulo V

Mensagem de Emmanuel



Meus amigos, muita paz.

Todos os comentários alusivos à evangelização constituem escasso material expositivo da verdade, à vista das angustiosas transições que o planeta atravessa.

Realmente, o progresso da inteligência atinge culminâncias. Todavia, o sentimento do mundo permanece enregelado.

Urge dilatarmos os setores do bem vivido e do amor aplicado com o Cristo, a fim de atendermos aos compromissos assumidos em época recente.

O Espiritismo, pois, não consiste num sistema de pura indagação científica para que a Filosofia se enriqueça de novos sofismas. Necessário compreendamos em sua fonte não só o manancial de suprimento às convicções substanciais com relação à sobrevivência.

Nosso intercâmbio pecaria na base se estivéssemos circunscritos ao campo de mera demonstração da realidade espiritual por meio dos jogos do raciocínio. Reduziríamos a Doutrina que nos felicita a simples ministério de informações, sem programas redentores para a vida em si.

É por isto que jamais nos cansaremos no apelo ao nosso entendimento para que a Terceira Revelação represente para nós todos a gloriosa escola de reajustamento mundial no Cristianismo redivivo. Somos nós mesmos os atores do milenário drama evolutivo.

De século a século, revezamo-nos no trabalho retificador, intentando o empreendimento da salvação final.

Inventamos mil sistemas científicos, filosóficos e religiosos para definir equações dos enigmas do destino e do ser; e embora nossos conclaves políticos e acadêmicos a se repetirem anualmente através das eras, remetamos sempre a iniciativas nas dolorosas e sangrentas aventuras da guerra.

Dominam-nos ainda, considerando coletivamente o problema, o ódio e o orgulho, a discórdia e a vaidade, com o seu velho cortejo de misérias, que permutam a máscara de civilização em civilização. Em verdade, porém, se temos sido tolerados pela Clemência divina, no curso do tempo, é imperativo reconhecer que as leis universais não foram criadas inutilmente.

Vivemos, em razão disso, torturante período de refazimento e restauração, dentro do qual nossos sentimentos são convocados automaticamente à percepção e aplicação do Cristianismo, nos mais comezinhos atos da experiência humana, obrigação essa que somos compelidos a cumprir, se não quisermos soçobrar nas tragédias coletivas de que o nosso século se represa.

Em outros lugares da Terra, o Espiritismo ainda não conseguiu revelar suas finalidades e objetivos.

A curiosidade que é sempre benéfica quando se alia ao trabalho e ao respeito, mas que é sempre ociosa e perdulária quando não se submete aos impositivos do serviço nobre, converte-nos o movimento renovador em puro domínio da consulta indesejável ao Plano invisível, como se trouxéssemos a detestável tarefa de suprimir as experiências e lições aos aprendizes. A especulação é a única atividade que aí prevalece, eliminando-nos precioso ensejo de cooperação para o reajustamento que o planeta reclama.

Amarguradas surpresas, contudo, aguardam invariavelmente os companheiros que estimam a contemplação do fenômeno sem adesão ao esforço reconstrutivo.

Nós, entretanto, que tivemos a ventura de ambientar o Evangelho renascente, exumando-o das cinzas a que foi condenado pelo sectarismo, guardamos o júbilo de reviver as manifestações abençoadas do Mestre divino, quando a redenção vinha da humildade de sofredores das catacumbas.

Como outrora, o mundo se encontra num dos períodos mais críticos da sua evolução político-religiosa. Antigamente, o patriciado romano se sentia suficientemente forte para afrontar a tormenta, mas, no fundo, não conseguiu forrar-se às consequências funestas do espírito odioso de dominação indébita.

E hoje, enquanto poderosas nações da Terra presumem exercer funções de hegemonia, eis que a renovação compulsória do mundo exige o devotamento daqueles que se ligam a Deus através do caráter enobrecido pela fé e pela virtude.

Com semelhante enunciação, não desejamos, de modo algum, invadir a seara de vossas ações, no campo evolutivo.

Não fomos, vós e nós outros, convocados à mordomia dos bens que se transferem de mão em mão, no tesouro perecível da Terra.

Recebemos o ministério da luz espiritual e não podemos esquecer que, se milhões de irmãos nossos podem recorrer à palavra “direito” nos círculos do mundo, a nós todos cabe com Jesus o “dever”, simplesmente o dever de servir em seu nome sem exigências.

Estejamos, pois, atentos às obrigações que nos foram deferidas. Iniciemos, cada dia, novo trabalho de evangelização em nós mesmos, estendendo esta atividade aos que nos cercam.

A Doutrina abre-nos gloriosas portas de colaboração fraternal. Perdendo na esfera da posse transitória, ganharemos sempre nas possibilidades de conquistar a luz imperecível.

Não duvideis. Movimentos enormes da discórdia humana se processam instante a instante enquanto as armas descansam ensarilhadas.

A guerra, com a sua corte de aflições e de angústias, não cedeu ainda um centímetro de terreno ao edifício da paz verdadeira, porquanto o ódio e a crueldade permanecem instalados no coração humano.

Não esperemos o êxtase da nova Aurora, mantendo-nos no círculo estreito da crença inoperante.

Se o Senhor nos conferiu olhos para o deslumbramento e ouvidos para a harmonia, deu-nos igualmente coração para sentir, mãos para agir, mente para descortinar, obedecer e orientar.

A obra da Criação terrestre foi edificada, mas ainda não terminou.

Milhões de missionários do progresso humano em si laboram ativamente nos campos diversos em que se subdivide a prosperidade do conhecimento.

Nós outros, contudo, fomos conduzidos ao santuário para a preservação da Luz divina.

Mantenhamos, assim, novas lâmpadas acesas e acima da perquirição coloquemos a consciência.

A hora é significativa e impõe tremenda luta. Só os filhos da renúncia poderão atender, tanto quanto é preciso, à expectativa da Esfera superior.

Não convertamos nosso esforço, todavia, em coro de lágrimas.

Entendamos a gravidade do minuto, entretanto, elevemos o coração ao Sol da confiança em Cristo. Sejamos fiéis trabalhadores de sua causa na Terra.

Traços que sois de intercâmbio entre os dois Planos, não vos prendais excessivamente ao vale escuro que nos prende os pés.

Fixai a mente nos Círculos sublimes onde se localizam as fontes que vos suprem de energia. E, irmanados uns aos outros, no mesmo labor santificante, marchemos para a frente, identificados naquele que ainda e sempre repete para nossos ouvidos frágeis: “— Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. (Jo 14:6)




(Centro Espírita Venâncio Café, Juiz de Fora (MG), 10 de julho de 1947)


O título entre parênteses é o mesmo da mensagem original e seu conteúdo, diferindo nas palavras marcadas, foi publicado em 1952 pela e é a 50ª lição da 1ª Parte do livro “”