Fé e Vida

Capítulo XVI

Abrigo



Tristes viajores relegados à intempérie conhecem, de sobra, as convulsões e angústias da natureza.

Apreensivos e atormentados, toleram agora o assédio do temporal que lhe encharca a veste rota, compelindo-os a atravessar o pântano em movimento.

Em seguida, sofrem o impacto de insetos escarninhos, que lhe sugam o sangue à flor da epiderme, quando não padecem o assalto oculto da fauna microscópica que lhe intoxica os centros de força.

Para eles, a noite é mais densa e a ventania mais áspera, constrangendo-os a caminhar…

Eis, porém, que lar amigo se lhe reponta à frente, ofertando-lhe à aflição sossegado refúgio.

Acolhidos, com amor, repousam e reaquecem-se ao aconchego da confiança, cobrando energias novas na procura da meta que deve continuar.

No quadro simples de cada dia, encontramos a alma humana entregue às sombras da tempestade moral, na hora difícil que atravessamos…

Flagelações e perigos cercam-lhe o passo, através de todos os flancos da luta, enquanto venenos sutis de cansaço e discórdia lhe imobilizam as esperanças…

Entretanto, o coração fraternal que a fé esclarece, ao Sol do Cristo eterno, é o abrigo de amor que a estrada lhe propicia, santuário ditoso em que há paz e remédio, alimento e consolo…

Guardemos, pois, no mundo, a tarefa da bênção que o Senhor assinala à nossa fé sublime, a fim de que sejamos, hoje, agora e amanhã o altar de entendimento em que a vida de todos se refaça mais límpida, na romagem da Terra, para a luz do porvir.




(Pedro Leopoldo (MG), 8 de novembro de 1957)