Fé e Vida

Capítulo XVII

Visita fraterna



Hoje cedo, deixei o meu retiro

E como sempre ocorre, dei-me ao giro

Onde a sombra se espalha e a penúria golpeia…

Descobri, para logo, a caravana

Dos que sofrem no corpo a garra desumana

Da rude provação que os encadeia.


Vi tristes mães chorando desprezadas,

Crianças esmolando nas estradas

Um cobertor usado ou a dádiva de um pão,

Velhinhos a tremer na jornada sombria,

Gemendo entre a garoa e a ventania

E os doentes cansados de aflição.


Vi mais longe, conquanto em outros lados,

Pobres irmãos erguendo os punhos revoltados

E a brandirem na terra estranho açoite…

Era a equipe da incompreensão que ainda não dorme

Alimentando, a desespero enorme,

Pensamentos da guerra, dia e noite!…


Então gritei na longa senda escura:

“— O que fazer, Jesus, entre a sombra e a loucura?”

O Celeste benfeitor guardou a minha mão…

E, através de viagem curta e leve,

Penetrei na cidade, em tempo breve,

E abracei-vos, feliz, neste nobre salão.


O vosso grupo de beneficência

É o socorro à penúria e vacina à violência,

Traduzindo a resposta do Senhor!…

Cooperando no bem, de parcela em parcela,

Anunciais a paz que assim se nos revela

Na bênção de servir pela união no amor.


E em prece de louvor, notando-vos o exemplo,

Neste recinto em flor transfigurado em templo,

Ao clarão imortal da fé que nos conduz,

Clamo, perante os Céus, alegre e enternecida!

“— Amados irmãos meus, Deus vos sustente a vida,

Guardando-vos, em paz, nos festivais da luz!…”




(Reunião beneficente, realizada no Salão de Festas do Clube Pinheiros, em São Paulo (SP), 26 de agosto de 1984)