Querida mamãe, meu querido papai, este é um grande momento de nossas recordações e começo por pedir a ambos para que me abençoem.
Temos o recinto repleto de amigos queridos. Flores. Alegrias. Não sei como agradecer. A emoção se me concentra no peito e parece que o rapaz alegre da Vila aprendeu a descobrir que a felicidade igualmente derrama lágrimas. As lágrimas iluminadas de confiança em Deus e de gratidão aos entes amados. Trinta e seis velinhas para que apague todas num sopro único. Mas como faze-lo se não acomodar-me à prece e rogar a Deus para que os recompense? Antigamente as luzes e o bolo somavam o júbilo doméstico. A família reunida. Os companheiros presentes. A festa hoje é a mesma, entretanto, as formações são diversas. Permitiu Jesus que as chamas inesquecíveis da mesa se transformassem nas páginas de fé e paz, otimismo e esperança que a Divina Providência permitiu fossem trazidas por minhas pobres mãos aos companheiros do mundo, refletindo as Luzes do Mais Alto que não podem ser apagadas em tempo algum e o bolo do natalício, com os enfeites e confeitos, notas de alegria e manifestações de paz foram transformados em bênçãos da caridade, que nos impele agora a aumentar a mesa da rua Marcos Lopes.
Meu pai, muito obrigado. Você, companheiro inesquecível, nos tem dado tanto! Acompanho o seu carinho ao se fazer o avalista das tarefas da mamãe, sempre crescentes. Muito obrigado pela sua dedicação àquelas areias benditas em que uma nova química se revelou para nós. Você, papai, realizou o prodígio da grande transmutação. Enquanto as águas vão passando, fecundando terras e abençoando plantas, suas mãos abnegadas consultam-lhes o leito, extraindo dele o material que serve duplamente: as suas areias constroem casas e abrigos, fábricas e instituições, mas edificam também outra espécie de benefícios — seu coração de trabalhador correto e consagrado ao bem, efetua a sublime renovação. Areias convertidas em pão dos necessitados, agasalhos para os que enfrentam o frio da noite sem o aconchego de um lar, alegria de crianças desprotegidas e apoio de mães sozinhas que, por vezes, vagueiam na Terra, à procura da migalha de socorro que lhes atenue as aflições. Compreendo sim, compreendo que esse lado de sua benemerência ficou sob os encargos da mamãe que tem a felicidade de encaminhar esses recursos para a seara do bem. Por isto mesmo, nesta união de aniversário em que os parabéns endereçados pela bondade dos corações amigos me alcançam o espírito, desejo transferir essas felicitações aos pais queridos, aos quais Deus me confiou. Lembro-me de todos os dias que se foram… E, em lhes manifestando todo o contentamento que me vai na alma, peço desculpas por todas as preocupações de que fui motivo, durante a minha permanência curta na Terra. Sei que protestarão, adivinho que a generosidade dos dois me pincelará na memória e na palavra, à feição de um moço perfeito, entretanto, observo hoje que as lentes do tempo me oferecem nova visão da vida e das cousas, quantas dificuldades lhes impus. E o filho reconhecido faz deste nosso encontro a razão para solicitar-lhes ainda, em meu favor, aquela ternura de pais que compreendem sempre e perdoam tudo. Creiam, no entanto, que os exemplos de casa me ampararam em todos os momentos e hoje guardem a certeza de que me volto para a verdade, buscando traduzir as lições que me oferecem no trabalho a que me dedico. Nossa festa de aniversário tem sido permanente, graças a Deus. E mamãe, tendo escutado com toda alma as palavras do filho que não desapareceu, vem sendo a nossa administradora abençoada nesse setor de bênçãos.
Agradeço-lhes, pais queridos, quanto fazem por mim, doando-me tantas oportunidades de trabalhar… Continuo alegre e confiante na vida e espero que meu pai Raul prossiga firme em seu ideal de bem servir. Nossa reunião está pontilhada de luzes e bênçãos.
Amigos de ontem e de hoje se reúnem conosco para celebrar. Nossa querida Mãezinha Pia, com nossa Acácia, está presente junto de nosso Oscarzinho e de outros amigos nossos; as nossas queridas irmãs Marcondes comparecem com a grandeza de coração que lhes conhecemos; a vovó Hermelinda e o vovô Antônio nos acompanham com alegria; o nosso irmão Júlio abraça a irmã Luiza, afetuosamente, agradecendo os pensamentos de amor e carinho pela data que hoje transcorre; o irmão Manoel abraça com carinho nossa irmã pelo coração Margarida e a filhinha querida que tanto lhe fala ao espírito; o amigo Assunção traz à nossa irmã Aracy um ramalhete de rosas, agradecendo a ela a nova fé com que se dirige a ele, e outros amigos muitos nos compartilham das alegrias desta noite inolvidável pela beleza das lembranças que me fazem evocar. Sim, a morte não nos desuniu e nem nos impôs qualquer separação, porque, pela praça da beneficência, estabelecemos a bendita comunhão de almas em que estamos vivendo. Pelas palavras tão só nem tanto continuaríamos integrados uns nos outros, mas pela força do bem estamos sempre mais juntos. Em razão disso, estou abençoando o setembro que me trouxe, tanto quanto exalto o fevereiro que me marcou o regresso. Digo assim porque a volta me fez reconhecer que a nossa família não se limitava aos corações nascidos do encontro de meus avós e sim estava ampliada no mundo inteiro. Desde o dia em que mamãe penetrou as portas do Lar do Amor Cristão, em companhia do meu avô Augusto, que me queria tão transformado quanto ele próprio, entendi — em que todos os rapazes sem esperança e sem abrigo eram filhos de meu pai Raul e de minha mãezinha Yolanda, e que todos os seres, especialmente os que estivessem atravessando provas e aflições, eram e são irmãos nossos perante Deus. Um desejo tremendo me explodiu no íntimo: o anseio de comunicar a todos os meus entes queridos semelhante descoberta e, com os dias, em me religando à mãezinha, conseguimos que as irmãs queridas compreendessem… E elas compreenderam. Se não militam com mais ardor no caminho novo em que espiritualmente viajamos agora, sob a proteção do Senhor, é que devem à Sabedoria da Vida o desempenho de encargos outros, junto às famílias em que cultivam, junto dos companheiros e dos filhinhos queridos as forças de sustentação do Mundo Melhor. Posso dizer-lhes que estou feliz. Despendendo menos tempo do que aquele que despendemos na aquisição da química industrial, tenho hoje um diploma que me honra e me enternece — o diploma de irmão dos que sofrem, dos que não chegaram a ver ainda o sol da manhã no mundo porque a existência lhes tem sido uma noite permanente de lágrimas, irmão dos que erram por ignorância e que devem ser reerguidos com desvelado amor, dos pequeninos sem teto, dos companheiros que desceram para o desfiladeiro de perigosos enganos e de todos aqueles outros que as circunstâncias feriram ou que os deixaram esmagados de pranto e desolação…
Esta é agora, mãe querida, a minha felicidade maior: acompanhá-la em suas peregrinações de bondade, em seus empreendimentos socorristas, em seus planos de assistência aos necessitados e em seus passos no rumo dos lares em sofrimento. E ninguém julgue que me revesti de titulações religiosas ou que me haja feito anjo fajuto de um dia para outro. Apenas caminho. Caminho e compreendo. Compreendo e aceito a minha própria renovação. Isso tudo com a mesma alegria de outros tempos, com a mesma espontaneidade que me selava as manifestações. Tão-somente, no trevo da morte, segundo as ideias do Plano Físico, escolhi um caminho diferente. O caminho que Jesus nos traçou. E segundo Ele próprio nos diz, através dos seus inesquecíveis ensinos, não ter vindo ao mundo para curar os sãos, (Mt
Veja, mãezinha, que seu filho está feliz e com o seu próprio coração de obreira do amor ao próximo, agradece a Deus a presença dó meu querido papai Raul ao nosso lado. Às nossas queridas Maria Otília, Zuleica e Marly, com os nossos estimados companheiros Walter, Celso e Paulo, o meu abraço de fraternidade e de alegria. A cada coração de nossa família espiritual reunidos nesta noite de bênçãos para acréscimo de nosso contentamento, as melhores vibrações do meu pensamento agradecido e, enlaçando o papai Raul em meus braços, procuro as suas mãos queridas para beijá-las em meu reconhecimento.
Perdoe, mamãe, se tenho ainda tão pouco para doar de mim mesmo, mas receba-me de novo em seu coração, como naquele 27 de setembro de 1942. Seu filho tem frio, aquele frio com que chegou ao seu colo, necessitado de tudo. Frio de saudade que o sol do amor faz desaparecer. Abrace-me de novo. “Como se chamará ele?” alguém talvez novamente pergunte em me observando assim tão pequenino, qual me faço e você, com meu pai, responderão outra vez: terá o nome de Augusto, será o nosso Augustinho… Quem diz que o mistério do amor entre mães e filhos terá desaparecido da Terra? Aqui estamos nós para desmentir.
Esqueço-me de tudo o que terá passado em meu caminho para ser, nesta hora, simplesmente seu filho, seu pequenino que se lhe abriga no regaço, pedindo proteção e recebendo imenso amor.
Mãe querida, hoje queria escrever especialmente para você e meu pai.
Se o fiz, não sei. Mas sei que lhe beijo os cabelos com, aquela explosão de alegria por pertencer-lhes e que sou e serei sempre, com o seu carinho e por seu carinho, o seu filho, sempre seu,
Augusto Cezar.
O que falar desse jovem? Foi um filho admirável.
O coração de sua mãe, Yolanda Cezar, dirá tudo isso e muito mais. Nós o sabemos.
Depois de 4 anos de espera, de angústia e saudade, sua mensagem chegou. Explode a alegria num coração amargurado. A mamãe Yolanda está feliz. Chora e ri. Soluça tanto que mal pode se conter. O seu Augusto nasce novamente. Sua voz ali está escrita, faz-se ouvir naquele coração, implantando a certeza de sua presença.
Seu pai, suas irmãs não acreditavam no que liam, nos detalhes e nas particularidades a lhes expressarem a própria vida. Mal podiam supor que principiava a escalada da felicidade.
A família Cezar, através de Augusto, estreia uma nova etapa nas experiências aprovadas por Jesus.
Suas mensagens se fazem sentir, corações maternos encontram nesse rapaz, na sua linguagem singular, a certeza da sobrevivência dos entes amados supostamente desaparecidos.
As cartas se sucedem, a formação de livros é realidade e a certeza de que a vida contínua está patente.
Augusto Cezar Netto — Nascimento: 27.9.1942. Desencarnação: 27.2.1968.
Pais: Raul Cezar e Yolanda Cezar — Rua Marcos Lopes, 204 São Paulo — SP.
Avós: Antônio Rotta, Hermelinda Amaral Rotta, materno.
Avô: Augusto Cezar; paterno.
Irmãs: Maria Otília Toscano, Zuleica Cezar Carvalho, Marly Cezar de Almeida.
Cunhados: Walter Toscano, Celso Mesquita Carvalho, Paulo Roberto B. de Almeida.
Pia Passini Maciel (desencarnada): mãe de Acácia Maciel Cassanha, Digníssima Diretora do LAR DO AMOR CRISTÃO, entidade filantrópica de amparo às crianças.
Amigos da família: Margarida Cremitti Cardoso e sua filha, Ana Rita Cardoso Pedra; Luiza P. Fernandes; Aracy Moura Assunção.