Feliz Regresso

Capítulo III

Ricardo Leão de Oliveira



Mãezinha Ny, meu pai Antônio, abençoem-me.

Querida Cida, peço a Deus por sua felicidade.

Ainda estou muito difícil de escrever, mas a minha avó Idalina me trouxe para dizer alguma coisa que os tranquilize.

Estou ainda muito embaraçado com as lágrimas. Ouço a mamãe com tantos chamados e escuto tantas palavras tristes de meu pai e da Cláudia que não sei se fiquei doente, depois de perder o corpo.

Que já me mudei, não tenho dúvida, mas desejo solicitar-lhes auxílio. Não se morre. A pessoa larga uma roupa usada e se enfia em outra vestimenta melhor.

Isso é o que me aconteceu, mas, à medida que falam o meu nome em pranto, isso é como se a dor me reatacasse por dentro… Torno a me sentir batendo contra muros e rolando no ar para cair não sei onde. Ajudem-me. Vou melhorar rapidamente se me sentir apoiado pela família.

Querida Aparecida, perdoe-me.

Tudo aconteceu de relance. As máquinas estão em nossa cabeça e não nas ruas ou nas estradas. Basta um pequeno cochilo e a engrenagem desgovernada toma outros rumos.

Pensemos todos em Deus. Quem possui uma fé, vence tudo isso que está nos acontecendo mais depressa. Orem por mim, como se estivessem a conversar comigo em casa. A oração assim é melhor, porque nos sentimos de novo num diálogo que realmente auxilia.

Da parte de mãezinha, tenho um amigo que me ensinou a chamá-lo por vovô Joaquim e estou muito agradecido.

Papai, não pense mais em morte, compreenda que estou vivo e que vou cooperar com o senhor de outro modo.

Mamãe, peço-lhe calma e confiança na vida. Veja a Claudinha em meu lugar.

Cida sempre querida, Deus abençoará a nós dois para que você seja sempre mais feliz.

Rogo a todos para que se fortaleçam, para que me vejam melhor.

Boa noite. Voltarei mais tarde.

A morte é a vida em outra moldura. Tenhamos paciência e confiemos em Deus.

Papai e mamãe, abençoem-me. Aparecida, lembre-me com seus pensamentos alegres e, com minha irmã, recebam o abraço muito de coração do filho agradecido,



COMENTÁRIOS

“Quem possui uma fé, vence tudo isso que está nos acontecendo mais depressa.”

É assim que Ricardo posiciona o sentimento de um jovem ao perceber-se em sua nova condição de vida. Traz o conforto e o esclarecimento necessários para que possa ser devidamente interpretado em sua vida espiritual.

Na delicadeza de sua fala, com muito carinho, solicita a compreensão das pessoas queridas quanto aos chamados e às palavras de tristeza, que lhe impõem sofrimento e insegurança.

Reanima o coração paterno e fortalece os familiares na paciência e na fé em Deus.


PESSOAS E FATOS

Ricardo Leão de Oliveira: Nascimento: 27.11.1959. Desencarnação: 12.11.1978.

Pais: Antônio de Oliveira e Nyssia Leão de Oliveira — Rua do Túnel, 122, Jardim Silvestre São Bernardo do Campo — SP.

Irmã: Cláudia Leão de Oliveira.

Maria Aparecida Gomes da Silva (Cida), na ocasião sua noiva.

Joaquim Trambusti, irmão de sua bisavó materna.

Ny, tratamento carinhoso quando se dirigia à sua mãe.