O que choramos na morte, Nas mudanças que ela enfeixa, Não é tanto o que se leva, Mas aquilo que se deixa. Percebi, desencarnado, Na luz que se nos descerra, Que a morte não é problema, Problema é deixar a Terra. No mundo, o que mais me agita É ver em muita cabeça Que poucos pensam na morte, Até que a morte apareça. Quando a morte me buscou É que achei dentro da vida, Muita conversa fiada, Muita lágrima perdida. Em certas mortes no mundo, No momento derradeiro, É que se vê o feitiço Caindo no feiticeiro. Findo o rico tratamento Morreu Libório Gaspar… Deixou imensa fortuna Que não podia levar. Nasceu da sabedoria Esta sentença segura: Quem abandona o trabalho Acha a morte prematura. Trabalho e morte na vida Não se dão como convém: Se ages a morte foge, Se paras a morte vem. “Ai de mim!” — clamava o Gil No enterro do irmão Monteiro, Mas o morto replicou: “Eu te espero; companheiro!…” Quem sofre com paciência, Carregando a própria cruz, Na morte encontra o luzeiro Da estrada para Jesus. |