Fotos da Vida

Capítulo XV

Questionário



Nathan, um inteligente rapaz israelita, estimava escrever rolos rápidos, ao tempo de Jesus, para venda a leitores ávidos de notas e informações ligeiras, qual ocorre aos nossos repórteres da atualidade.

Apressado, o nosso noticiarista alcançou grande ajuntamento de povo, e, encontrando um amigo, o colega Efraim, perguntou-lhe se Jesus de Nazaré estava ali.

O companheiro confirmou, acrescentando:

— Temos aqui, na multidão, nesta periferia de Jerusalém, três mestres de Israel que estão partindo, em direções opostas, atendendo a fé viva que divulgam e sabemos que um deles é um homem fanático e agressivo, considerado louco e difícil. Você observe…

Nathan não esperou por novos esclarecimentos e adentrou na massa popular, tentando satisfazer os próprios objetivos, quando fitou Jesus, não longe e, fascinado pela personalidade do Senhor, achegou-se a ele, indagando curioso:

— Rabi, qual é o primeiro mandamento da Lei de Deus?

O Cristo respondeu, com paciência:

— Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. (Dt 6:5)

— E como nos cabe amar a Deus? O Mestre replicou, aceitando o diálogo:

— O amor de Deus, na essência, abrange todos os homens, induzindo-nos a amar o próximo, como a nós mesmos. (Lv 19:18)

— E quem é o meu próximo?

— É qualquer criatura de Deus, especialmente as que se encontrem mais infelizes.

Como saberei isso?

— O discernimento te mostrará quem deve receber a tua cooperação.

— Mas, habitualmente, todos temos inimigos. E se algum inimigo, em provação, dispensar-me de qualquer auxílio?

— Encontrarás com discrição os meios precisos para auxiliá-lo no anonimato.

— Rabi, além desse tipo de adversários, surpreendemos aqueles que francamente nos perseguem e caluniam. O que nos compete fazer nessas condições?

— Perdoá-los sem restrições.

— Mas, se na hora do insulto, o agressor atingir algum irmão seu, chegando a matá-lo?

— Perdoar e orar por ele.

— E se a vítima for meu pai?

— Perdoar sempre, rogando a Deus que o abençoe.

— Então a desforra não é justa?

— Não. Antes de tudo, precisamos preservar a paz.

— E se a nossa família, por perseguição, estiver prejudicada?

— Fazer silêncio e perdoar.

— Silêncio? Como sustentar isso, se os seguidores de Moisés, na Lei Antiga, nos recomendavam cobrar dente por dente? (Ex 21:24)

— Moisés ensinou-nos lições que devemos respeitar, no entanto, agora, estamos na Lei do Amor que estabelece o perdão para as faltas alheias, não apenas uma vez, mas setenta e sete vezes. (Mt 18:21)

— E como proceder para reconstituir o patrimônio familiar?

— Trabalhando sempre.

— E devo trabalhar inclusive para os que me feriram?

— Sim e sempre.

— Rabi, e como agir, se recuperar a posição financeira dos meus?

— Naturalmente, retirarás a quantia que te for necessária à sustentação e o dinheiro desnecessário aplicá-lo-ás em obras de beneficência ou saberás distribuí-lo com os teus irmãos em tribulação e penúria.

— Então, não posso acumular o que é meu, considerando o futuro?

— O futuro pertence a Deus e não seria justo acumulares o que não te pertence, já que todos os bens de que dispomos pertencem originalmente a Deus.

— Rabi, é uma falta grave ser rico?

— Não. A riqueza vem de Deus por empréstimo aos homens, com o fim de estender as boas obras e se algum dia tiveres a fortuna nas próprias mãos, tens a obrigação de administrá-la sabiamente.

— E mesmo rico, precisarei trabalhar?

— Trabalhar e servir sempre.

O entrevistador sorriu e despediu-se, procurando Efraim.

Ao encontrá-lo, observou:

— Onde estão os outros mestres de Israel?

O amigo esclareceu: — Já partiram.

Nathan coçou a cabeça e falou, sarcástico:

— Desta vez perdi a minha intuição, porque se o Rabi que interroguei agora é Jesus de Nazaré, ele está positivamente louco.