Gabriel

Capítulo II

Recado filial



É tanta gente lutando,

Que hoje, queridos pais,

Devemos nosso concurso

Àqueles que sofrem mais.


Eis, porém, que vos repito:

Minha Saudade é tão grande

Que no meu beijo de filho

Toda a minh’alma se expande.


No afeto que vos recebo,

Tenho tudo o que mais quis,

Sem vossa doce presença

Não posso viver feliz.


Das maravilhas que vejo

Perante o céu a brilhar,

De todas, a mais sublime

É a bênção de nosso lar.


Com permissão de Jesus,

Haja no tempo o que houver,

Não sofreremos distância

Nem um momento sequer.


Jamais nos separaremos

E em nossa linda união,

Tem a casa em que moramos

A forma de um coração.


Gabrielzinho


Sendo de uma clareza cristalina a mensagem — “Recado Filial” —, poema vazado em belos versos setissílabos, recebido pelo médium Xavier, na noite de 22 de novembro de 1975, no Grupo Espírita da Prece, eximimo-nos de qualquer comentário a respeito.

Resolvemos, porém, aproveitar este espaço para continuar relacionando mais alguns dados biográficos de nosso Autor Espiritual, a fim de que a pouco e pouco possamos nos inteirar da personalidade forte que foi Gabrielzinho e que tão pouco tempo viveu entre nós.


Assuntos doutrinários.

Gabrielzinho colecionava, desde 1968, todos os artigos evangélicos de autoria do Dr. Mário Tamassía, publicados semanalmente no jornal da cidade Diário do Povo, cujos recortes, devidamente datados, foram encontrados nos seus guardados.

Demonstrava inusitada admiração pelo cabedal de conhecimentos doutrinários de que se valia o autor.

Não obstante, nunca chegou a conhecê-lo, pessoalmente, motivo por que sempre lamentava com tristeza a falta de oportunidade que o colocasse à frente daquele homem culto que sabia transmitir ensinamentos e que ele, Gabrielzinho, tanto apreciava.


Colaborador.

Ainda jovem, começou Gabrielzinho a revelar tendências para o espiritualismo e leitura profusa, principalmente buscando os livros ligados à arqueologia, como se de um lado quisesse comunicar aquilo que a sua alma bastante madura já sabia das existências pregressas e, por outro; assenhorear-se do passado que dorme nos monumentos soterrados, mas, também, dentro do espírito que testemunhou épocas legendárias.

Tão maduro e capacitado a dar de si que, jovem assim, ocupava o cargo de 2º Secretário da instituição Centro Espírita Allan Kardec, e juntamente com companheiros, como vimos no Capítulo anterior, constituiu um grupo de estudos espíritas.

No próprio jornal Alavanca, como já foi dito, começou a dar os primeiros passos no jornalismo, tendo colaborado com inúmeros artigos de sua autoria, publicados desde janeiro de 1971, e mercê de sua aplicação e vocação, teve um dos seus excelentes trabalhos — “A Cultura do Espírito” — inserido no Alavanca de Abril/1972, transcrito pelo conhecido e acatado S.E. / do Rio de Janeiro, em seu número de 5 de agosto de 1972.


Telescópio.

Afirma-nos o Sr. Gabriel: “Gabrielzinho vivia nos anunciando que, a qualquer momento, compraria um Telescópio. Após receber o primeiro pagamento do seu primeiro emprego — no Banco —, adquiriu um semi-profissional, isso no dia 30 de maio de 1970. Segundo seus desejos, o seu objetivo em mente era poder observar e estudar em toda a sua plenitude os astros e as estrelas do firmamento, louvando e reverenciando a Deus, nosso Pai.”


Viagem ao Egito.

Seu maior sonho, — continua o Sr. Gabriel — conforme várias vezes nos assegurava, era poder visitar o Egito, e conhecer de perto as Grandes Pirâmides.

Certo dia, à hora do almoço, — para prová-lo —, pedi-lhe que me emprestasse algum dinheiro (sabíamos que ele mantinha regular reserva aplicada em Poupança) para ajudar no término do apartamento que havia adquirido em seu nome e no qual hoje residimos.

De início, ficou meio constrangido, mas a seguir foi taxativo:

— O dinheiro que estou juntando é para viajar até o Egito. Se precisar mesmo, eu lhe empresto, mas depois você me devolve. Certo?


Deixando para os próximos capítulos mais pormenores sobre a vida desse admirável seareiro de Jesus, tão jovem recambiado à Pátria Espiritual, naturalmente para cumprir missão que nos escapa de imediato perceber, roguemos ao Divino Mestre lhe permita voltar, através do médium Xavier, a trazer-nos mais páginas a fim de que surjam novos livros de sua autoria, assim como vem acontecendo com Augusto Cezar Netto e Laurinho, para gáudio de todos nós, os espíritas-cristãos domiciliados no plano denso.


TRECHO DE ARTIGO ESCRITO POR GABRIEL QUANDO ENCARNADO

“Certo dia, conversava com uma colega de classe. À determinada altura do diálogo, tomando como exemplo nossa professora de inglês, que dedicara vinte anos de sua vida ao estudo, perguntou-me a colega:

— Você acha que vale a pena “gastar” vinte anos no estudo, levando-se em conta uma vida cuja média atinge os sessenta anos mais ou menos, se depois morreremos?

Respondi que sim e até mais anos, se fosse preciso; isto, porém, porque coloco e analiso a questão à luz da Doutrina Espírita.

Mas um grande número de pessoas faz esta pergunta pensando somente na vida atual, esquecendo-se das pretéritas ou futuras.

Algumas talvez compreendam a lei dos múltiplos nascimentos e perguntem apenas por força de expressão, querendo com isso dizer que poderiam aproveitar melhor o tempo, com coisas mais úteis e produtivas, o que não deixa de ter alguma lógica.

Outras, entretanto, duvidosas ou descrentes de uma vida futura, pensam em fazer tudo em uma só encarnação e, assim, querem aproveitar ao máximo, não perder muito tempo, pois acreditam que com a morte tudo se acaba.

Este é infelizmente o pensamento da grande maioria das pessoas, quando o que acontece é justamente o contrário; com a morte, voltamos à nossa pátria espiritual e continuamos a nossa caminhada.

Em apenas uma encarnação não é possível adquirirmos toda a cultura e experiência que desejamos e nem a perfeição total. Por isso, vale a pena “perdermos” vinte ou mais anos dedicados ao estudo, porque a cultura que obtemos nesta vida nos será útil e necessária, não só na vida espiritual, como também para as reencarnações futuras. E a cultura adquirida nas reencarnações pretéritas não se perdeu, ficou incorporada ao patrimônio do ser.

Assim se explica, como exemplo, a genialidade de Albert Einstein, Pasteur e muitos outros que favoreceram a Humanidade com suas valiosas descobertas. Outro exemplo bem marcante é o do notável poeta Álvares de Azevedo que, embora tenha desencarnado “prematuramente”, aos vinte e um anos de idade, já era considerado um dos maiores poetas brasileiros.

Qual a razão desses gênios? Somente a Doutrina Espírita poderia nos explicar, através da lei da reencarnação.

Há, como eles, numerosos exemplos que tornam patente e indubitável a reencarnação e o aproveitamento da cultura que irá enriquecer nosso espírito.

Sintetizando, lembremo-nos das palavras de Allan Kardec: “Nascer, viver, morrer, tornar a renascer e progredir incessantemente, esta é a lei.” (Gabriel Casemiro Espejo, “A Cultura do Espírito”, Alavanca, Campinas, Abril de 1972).




Rua Duque de Caxias, 465 — Apto. 51 — Fone 0192:31-4784 Campinas, SP.


Albert Einstein (1879-1955), Prêmio Nobel de Física de 1921, que elaborou a teoria da relatividade; Louis Pasteur (1822-1
895) Químico e biólogo francês, criador da Microbiologia; Álvares de Azevedo (1831-1852), grande poeta lírico brasileiro. (Elias B.)