Conhecemos velho amigo que, em certo período de provação, não vacilou em sacar do bolso arma mortífera, instigado por insidiosa calúnia, com a intenção de eliminar antigo companheiro, mas, quando se dispunha a penetrar a casa, com o escuro propósito que lhe envenenava o coração, eis que pequerrucho canário começou a cantar em árvore próxima.
Havia tamanha beleza na melodia desconhecida, que o quase delinquente sustou o ato tresloucado e passou a refletir…
Aquele cântico sem palavras não seria uma advertência divina?
Deus, que mergulhara a alma do pássaro em harmonia celeste, não saberia exercer a justiça que ele, pobre homem imperfeito e amargurado, pretendia executar com as próprias mãos?
Considerou, portanto, mais aconselhável esperar.
E, enquanto aguardava a cessação do hino comovente, algo surgiu, de improviso, dissipando a densa nuvem de indébitas preocupações que lhe amortalhavam o Espírito.
A paz voltou a felicitar-lhe o íntimo, dantes atormentado, e, em lágrimas, agradeceu ao Senhor que o salvara de lamentável desastre, por intermédio de um passarinho.
Lembramo-nos do incidente, lendo os versos que Casimiro Cunha enfileirou neste livro. Através de quadras simples, o nosso irmão faz brotar, do solo de sua alma fraterna, verdadeira fonte de amor, em gotas de luz, exaltando a Divina Bondade e as virtudes cristãs que podem erguer-nos à Espiritualidade Santificante.
Ave da Altura, acordando-nos para a glória imortal do bem eterno, quantos de nós, escutando-lhe o poema de ternura e sabedoria, poderemos interromper as ligações com a sombra?
Consagremos ao mensageiro do Evangelho alguns minutos de leitura e reflexão e, de certo, compreender-lhe-ão a sublime e musicada mensagem quantos tiverem ouvidos de ouvir.
Pedro Leopoldo, 1º de Janeiro de 1953.