Mentores e Seareiros

Capítulo XI

Espiritismo e Evangelho



No desdobramento das atividades espiritistas, observamos os temperamentos combativos que, a pretexto de combaterem antigos dogmas, outra coisa não efetuam senão divulgar novas expressões dogmáticas de suas convicções apaixonadas.

É indispensável que a mente dos estudiosos esteja em guarda sobre si mesma, neste momento difícil do mundo, em que o barco dos princípios não pode dispensar a bússola da verdadeira segurança.

Excedem-se as discussões, enquanto a edificação real aguarda os testemunhos edificantes e sinceros.

Então, entre todas essas teses que provocam o atrito das opiniões, uma se encontra de interesse palpitante para a compreensão definitiva do assunto.

Referimo-nos à de Espiritismo e Evangelho, para concluir que os novos trabalhadores da Verdade muito se movimentam nesse setor, quando deveriam observar o mais elevado ideal da união em tal sentido.

Do conceito de Espiritismo abusam todos os temperamentos apaixonados; do conceito de Evangelho todos os Espíritos cristalizados ou arbitrários, à paixão sem rumo e à arbitrariedade orgulhosa produzem os dogmas modernos que se combatem, mutuamente, oferecendo aos corações sinceros o espetáculo doloroso de uma luta pela esterilidade.

De nossa parte consideramos, como está escrito, há vinte séculos, que não é o discípulo maior que o seu mestre (Mt 10:24) para reconhecermos que todas as plataformas espiritistas, desde os primórdios da arregimentação doutrinária, não podem prescindir da substância evangélica, nas suas mais insignificantes afirmativas.

É necessário compreender-se que a Codificação inteira, para erguer-se no mundo, socorreu-se dos Espíritos evangelizados, na sua esfera de ação fora da Terra.

Ela constitui a estrutura humana do edifício doutrinário, mas todo o material da construção é do Cristo.

Poder-se-á objetar que o Espiritismo para triunfar precisa manter-se numa linha exclusiva de movimento científico ou filosófico, entre as forças morais que governam o mundo. Mas a hora presente é um desmentido ao conceito de superioridade absoluta da Ciência e da Filosofia.

A atualidade está repleta de exemplos que desnorteiam os espíritos mais avisados.

Há cientistas que só encontram motivo para detestarem os bens da vida e filósofos que, no emaranhado dos raciocínios, acabam sem saber se eles próprios são personalidades reais.

Os primeiros são doentes que não acreditam na saúde, os segundos são enfermos inquietos que, à força de experimentarem os medicamentos mais contraditórios, acabam intoxicados em suas energias vitais.

É por essa razão que o Cristo será sempre o Mestre, porque n’Ele repousa o fundamento da elevação da vida. De Sua exemplificação e Seus ensinos decorrem todos os motivos substanciais da grande edificação, que os discípulos novos vêm efetuando, na atualidade, junto às forças do mundo.

Claro está que, no desenvolvimento das realizações doutrinárias, todas as experiências nobres devem ser cultivadas, salientando-se a Codificação Kardequiana, aberta no Planeta como um elevado caminho para o luminoso horizonte da Verdade Infinita.

Mas a nossa palavra nestas singelas apreciações possuem um outro objetivo.

Não podemos discutir os triunfos mundanos da Doutrina, porque também as religiões literatistas tiveram numerosos triunfos em todos os tempos, mas afirmamos que, para que o Espiritismo esclareça, não pode em circunstância alguma dispensar a sua característica Divina de Consolador prometido por Jesus à humanidade, porque somente com o Evangelho poder-se-á edificar sobre a rocha dos sentimentos puros e profundos.

É por esse motivo que o discípulo novo precisa perguntar, em cada dia, não se está mais sério, mas se está efetivamente melhor.