O centenário das manifestações de Hydesville desperta considerações especiais em todos os círculos espiritistas da América.
, as jovens médiuns utilizadas pela Esfera Espiritual na demonstração objetiva da imortalidade, são lembradas com respeitoso carinho. O ambiente característico de 1848 é reconstituído nos comentários de jornais e emissoras.
Num lar de evangelistas da Igreja Reformada, um homem invisível prova a sobrevivência além da morte e, não obstante o trabalho substancioso de abnegados missionários do espiritualismo, em ação no mundo inteiro, os fatos de Hysdesville caminham através da grande nação norte-americana. Do vilarejo humilde, seguem para New York, de onde prosseguem, varando cidades e campos, até alcançarem o Congresso Nacional, numa solene petição em que alguns milhares de pessoas solicitam a atenção dos legisladores para o assunto.
As meninas Fox passam a constituir tese viva nas conversações científicas, acadêmicas e universitárias. Aplaudidas e ridicularizadas, atraem para o movimento renovador as simpatias de administradores e juízes, filósofos e artistas, estudantes e operários.
A luz guerreia a sombra, a revelação anula o dogmatismo, a verdade confunde a mentira. Em breve, os fenômenos se estendem mundialmente, os instrumentos humanos se multiplicam, o conhecimento progride insofreável…
Quem provoca, no entanto, semelhante revolução mental não é um mensageiro resplandecente de luz. Não é um anjo que se põe a confabular com os homens.
No recinto, não há relâmpagos do Sinai. O autor perceptível do empreendimento é um homem… desencarnado, desconhecendo, ele mesmo, a importância da iniciativa.
Mostra-se apaixonado e inferior, quanto qualquer de nós. Confessa que foi assassinado, todavia, apesar da posição de vítima, não foi promovido à Corte Celestial.
Condensam-se-lhe as ideias na experiência física. Tem ânsia de conversar com criaturas que ainda se encontram na embalagem dos ossos.
Não ganhou até ali, suficiente coragem para enfrentar o desconhecido. Terá lido, naturalmente, muitas páginas edificantes, no esforço terrestre, mas encontra imensa dificuldade para esquecer a ofensa e perdoar o ofensor.
Exibe complexos de inferioridade. Pretende vingar-se. Desejaria justiçar-se pelas próprias mãos.
Qualquer entendido de medicina ou psicologia lhe identifica a perturbação evidente.
Além disso, não é “morto” da véspera. Declara que ali permanece, desde alguns anos, em torno dos despojos.
A morte não o conduziu à glória divina, mas ao tormento infernal. Reintegrou-o na própria consciência e a mente dele, atormentada e sofredora, busca exteriorizar-se, por intermédio de sinais à maneira de qualquer náufrago perdido.
Não foi bafejado ainda por claridade santificante que não procurou. Alimenta-se de preocupações puramente personalistas.
Após identificar-se pelas suas características de humanidade, prossegue aprendendo e evoluindo, tanto quanto nos ocorre no Brasil ou na Conchinchina.
Tal verificação, contudo, não impede a exaltação da verdade e a compreensão gloriosa da Vida Eterna.
O fenômeno inicial de Hydesville, comentado neste ângulo adquire mais expressão e vivacidade, porque se há cem anos o Plano Superior encaminhava o homem desencarnado, com seus apetites e paixões, mágoas e enigmas, à consideração e entendimento dos semelhantes, como a dizerem que a morte é simples continuação da vida, há muita gente aguardando o gongo final para receber as asas de cera e entrada gratuita no paraíso.