Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Espíritas Cristãs, de Araçatuba, no Estado de S. Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência. E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pôde esquivar-se.
Entretanto, a presença da conhecida missionária causava espécie. O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto mantô de lã, apenas compreensível em tempo de frio.
— Mania! — cochichava alguém, a pequena distância.
— De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu… — dizia elegante senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.
— Isso é pura vaidade — falou outra —, ela quer parecer diferente.
— Caso de obsessão! — certa amiga lembrou em voz baixa.
Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e de amor.
Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembleia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros, e, em razão disso, rogou a ela tirasse o mantô por gentileza.
Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável, que sustentava em Araçatuba dezenas de enfermos, com o suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.
Ante os problemas dos outros Emudece os lábios teus. Em tudo sempre supomos Mas quem sabe é sempre Deus. () |
Haja o que houver no caminho, Não pense mal de ninguém: Cada qual vê o vizinho, Conforme os olhos que tem. () |
Filhos, a estrada real para Deus chama-se Caridade. ()