Os ensinamentos por nós recolhidos, na reunião da noite de 7 de outubro de 1954, constituem, a nosso ver, informações de grande interesse para todos os companheiros que militam no socorro aos desencarnados.
O mensageiro espiritual que nos visitou foi o nosso confrade Efigênio S. Vítor, antigo trabalhador do Espiritismo em Belo Horizonte, onde, por largos anos, emprestou as melhores forças à Doutrina que nos reconforta.
Sua palestra psicofônica demonstra com detalhes a carinhosa atenção prodigalizada por nossos Benfeitores Espirituais aos nossos agrupamentos doutrinários, porquanto o que se dá, em nossa agremiação simples e sincera, acontece em todas as casas espíritas onde o escopo essencial seja o serviço ao próximo, sob o amparo de nosso Divino Mestre.
Leiamos-lhe a mensagem consoladora e instrutiva.
Espírita militante que fui, muitas vezes, dirigindo sessões mediúnicas, desejei que algum dos companheiros desencarnados me trouxesse notícias do Além, tão precisas e claras quanto possível, a começar do ambiente das reuniões que eu presidia ou das quais partilhava.
Desembaraçado agora do corpo físico, não obstante carregar ainda muitas velhas imperfeições morais, tentarei comentar nossa paisagem de serviço, no intuito de fortalecê-los, na edificação que fomos chamados a levantar.
Como não ignoram, operamos aqui em bases de matéria noutra modalidade vibratória.
Por mercê de Deus, possuímos nossa sede de trabalho em cidade espiritual que se localiza nas regiões superiores da Terra ou, mais propriamente, nas regiões inferiores do Céu.
Gradativamente, a Humanidade compreenderá, com dados científicos e positivos, que há no Planeta outras faixas de vida.
E assim como existe, por exemplo, para o serviço humano o solo formado de argila, areia, calcário e elementos orgânicos, temos para as nossas atividades o solo etéreo, em Esfera mais elevada, com as suas propriedades químicas especiais e obedecendo a leis de plasticidade e densidade características.
É de lá, de onde se erguem organizações mais nobres para a sublimação do Espírito e onde a Natureza estua em manifestações mais amplas de sabedoria e grandeza, que tornamos ao convívio de nossos irmãos encarnados para a continuação da tarefa que abraçamos no mundo.
Satisfazendo, porém, ao nosso objetivo essencial, aproveitaremos os minutos de que dispomos para falar-lhes, de algum modo, acerca da tela de nossas atividades.
Qual ocorre aos demais santuários de nossa fé, orientados pelo devotamento ao bem, junto aos quais o Plano Superior mantém operosas e abnegadas equipes de assistência, nossa casa, consagrada à Espiritualidade, é hoje um pequeno mas expressivo posto de auxílio, erigido à feição de pronto-socorro.
Com a supervisão e cooperação de vasto corpo de colaboradores em que se integram médicos e religiosos, inclusive sacerdotes católicos, ministros evangélicos e médiuns espíritas já desencarnados, além de magnetizadores, enfermeiros, guardas e padioleiros, temos aqui diversificadas tarefas de natureza permanente.
Nossa reunião está garantida por três faixas magnéticas protetoras.
A primeira guarda a assembleia constituída e aqueles desencarnados que se lhes conjugam à tarefa da noite.
A segunda faixa encerra um círculo maior, no qual se aglomeram algumas dezenas de companheiros daqui, ainda em posição de necessidade, à cata de socorro e esclarecimento.
A terceira, mais vasta, circunda o edifício, com a vigilância de sentinelas eficientes, porque, além dela, temos uma turba compacta — a turba dos irmãos que ainda não podem partilhar, de maneira mais íntima, o nosso esforço no aprendizado evangélico. Essa multidão assemelha-se à que vemos, frequentemente, diante dos templos católicos, espíritas ou protestantes com incapacidade provisória de participação no culto da fé.
Bem junto à direção de nossas atividades, está reunida grande parte da equipe de funcionários espirituais que nos preservam as linhas magnéticas defensivas.
À frente da mesa orientadora, congregam-se os companheiros em luta a que nos referimos.
E em contraposição com a porta de acesso ao recinto, dispomos em ação de dois gabinetes, com leitos de socorro, nos quais se alonga o serviço assistencial.
Entre os dois, instala-se grande rede eletrônica de contenção, destinada ao amparo e controle dos desencarnados rebeldes ou recalcitrantes, rede essa que é um exemplar das muitas que, da vida espiritual, inspiraram a medicina moderna no tratamento pelo electrochoque.
E assim organiza-se nossa casa para desenvolver a obra fraterna em que se empenha, a favor dos companheiros que não encontraram, depois da morte, senão as suas próprias perturbações.
Assinalando, de maneira fugacíssima, o setor de nossa movimentação, devemos recordar que, acima da crosta terrestre comum, temos uma cinta atmosférica que classificamos por “cinta densa”, com a profundidade aproximada de 50 quilômetros, e, além dela, possuímos a “cinta leve”, com a profundidade aproximada de 950 quilômetros, somando 1.000 quilômetros acima da Esfera em que vocês presentemente respiram.
Nesse grande mundo aéreo, encontramos múltiplos exemplares de almas desencarnadas, junto de variadas espécies de criaturas subumanas, em desenvolvimento mental no rumo da Humanidade.
Milhões de Espíritos alimentam-se da atmosfera terrestre, demorando-se, por vezes, muito tempo, na contemplação íntima de suas próprias visões e criações, nas quais habitualmente se imobilizam, à maneira da alga marinha que nutre a si mesma, absorvendo os princípios do mar.
Meus amigos, para o espírita a surpresa da desencarnação pode ser muito grande, porque além-túmulo continuamos nas criações mentais que nos inspiravam a existência do mundo.
O Espiritismo é uma concessão nova do Senhor à nossa evolução multimilenária.
Surpreendemos em nossa Doutrina vastíssimo campo de libertação, mas também de responsabilidade profunda, e o maior trabalho que nos compete efetuar é o de nosso próprio burilamento interior, para que não estejamos vagueando nas trevas das horas inúteis, pois somente aqueles que demandam a morte, sustentando maiores valores de aperfeiçoamento próprio, é que se ajustam sem sacrifício à própria elevação.
Reportando-nos à experiência religiosa, poucos padres aqui continuam padres, poucos pastores prosseguem pastores e raros médiuns de nossas formações doutrinárias continuam médiuns, porquanto os títulos de serviço na Terra envolvem deveres de realização dos quais quase sempre vivemos em fuga pelo vício de pretender a santificação do vizinho, antes de nossa própria melhoria, em nos referindo à construção moral da virtude.
A morte é simplesmente um passo além da experiência física, simplesmente um passo. Nada de deslumbramento espetacular, nada de transformação imediata, nada de milagre e, sim, nós mesmos, com as nossas deficiências e defecções, esperanças e sonhos.
Por isso, propunha-me a falar-lhes, de algum modo, nesta primeira visita psicofônica, do compromisso que assumimos, aceitando a nossa fé pura e livre… porque num movimento renovador tão grande, tão iluminativo e tão reconfortante quanto o nosso, é muito fácil começar, muito difícil prosseguir e, apenas em circunstâncias muito raras, somos capazes de conquistar a coroa da vitória para a tarefa que encetamos.
Somos espíritas encarnados e desencarnados. À nossa frente, desdobra-se a vida — a vida que precisamos compreender com mais largueza de pensamento, com mais altura de ideal e com mais sadio interesse no estudo e na prática da Doutrina que vale em nossa peregrinação por sublime empréstimo de Deus.
Não se esqueçam de que se é grande a significação de nossa fé, enquanto viajamos no mundo, a importância dela é muito mais ampla depois de perdermos a veste fisiológica.
Em outra oportunidade, tornaremos ao intercâmbio. Nossos assuntos são fascinantes e, em outro ensejo, nossa amizade voltará. Jesus nos ilumine e abençoe.