Instruções Psicofônicas

Preâmbulo de Arnaldo Rocha



Segundo a praxe, um livro diferente no mundo das letras pede a apresentação de alguém que lhe abrace o conteúdo.

Mesmo nas letras espíritas, isso é norma corrente, com a movimentação dos literatos de renome ou dos instrutores desencarnados.

Neste livro, porém, o caso foge à regra.

Não dispomos de qualquer galardão para adquirir o favor da publicidade.

Nossos Amigos Espirituais, contudo, são de parecer que notícias e ideias, para que se definam, reclamam o selo do testemunho pessoal de quem lhes opera o lançamento e, por isso, não porque a nossa manifestação deva reportar-se ao esforço do beletrista, mas sim à responsabilidade moral do servidor, aqui estamos, por fidelidade à própria consciência, esposando nosso dever com alegria.

Passemos, pois, aos assuntos e aos fatos.

Corria o ano de 1951 e frequentes se faziam nossas excursões de Belo Horizonte, onde residimos, a Pedro Leopoldo, hoje região suburbana da capital mineira.

Em conversações fraternas e amigas com o nosso companheiro de ideal Francisco Cândido Xavier, muitas vezes observávamos o volume crescente dos casos de obsessão que procuravam incessantemente as reuniões públicas do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, nas noites de segundas e sextas-feiras.

Impressionava-nos a multiplicidade dos problemas tristes.

As moléstias mentais, como ainda hoje acontece, compareciam, uma trás outra. Possessão, fascinação, histeria, desequilíbrio, loucura…

E o Chico, por várias vezes, falou-nos do desejo expresso pelos mentores espirituais, no sentido de se criar um grupo de irmãos conscientes e responsáveis para a assistência especializada aos problemas difíceis.

Inegavelmente, o “Luiz Gonzaga”, hoje como há quase trinta anos, vem prestando aos enfermos que lhe batem às portas todo o auxílio de que dispõe, através da oração, do socorro magnético e da genuína elucidação evangélica.

Ainda assim, acumulavam-se os obsessos marginais, numerosos e complexos.

E de quando em quando nos perguntava o Chico se não nos decidiríamos a aceitar a direção de um núcleo doutrinário independente, para atender às tarefas da desobsessão.

Antigamente, em conexão com o “Luiz Gonzaga”, funcionara em Pedro Leopoldo um círculo dessa natureza. Mas, em fevereiro de 1939, desencarnava o confrade José Xavier, que o dirigia, e a partida do companheiro encerrara-lhe a existência.

Não seria justo reatar o serviço especializado de assistência aos alienados mentais, então interrompido?

Ante as perguntas do médium, começamos a meditar.

Não foi possível considerar-lhe, de pronto, os apelos.

Relutamos, conhecendo nossas próprias deficiências.

Além disso, obrigações múltiplas nos tomavam o tempo e a providência exigiria estudo e reflexão na esfera teórica de nossa Doutrina, para que não nos falhasse a segurança na prática.

Hesitávamos, temendo acolher responsabilidades em que não pudéssemos persistir.

Os dias, porém, sucediam-se uns aos outros e, com a romaria constante dos enfermos mentais, repetiam-se as indagações do amigo.

Por que motivo não organizar um posto de socorro mediúnico para a prestação de serviço aos necessitados?

Em meados de 1952, aderimos finalmente.

Convidamos alguns irmãos conscientes da gravidade que o assunto envolve em si e, na noite de 31 de julho do ano mencionado, realizamos nossa primeira reunião.

Grupo reduzido. Vinte companheiros que perseveram unidos até agora, dos quais dez médiuns com faculdades psicofônicas apreciáveis.

O programa traçado pelos 1nstrutores Espirituais prossegue dentro de normas rígidas.

Reuniões semanais, nas noites de quintas-feiras. Atividades mediúnicas em atmosfera de intimidade. Ausência total de público. Além do quadro habitual da equipe, somente a presença dos enfermos, assim mesmo quando absolutamente necessária. Assiduidade. Horário rigoroso.

E, por imposição dos amigos que conosco trabalham, a agremiação recebeu o nome de “Grupo Meimei”, em recordação da irmã e companheira dedicada que, de imediato, recebeu do Mundo Espiritual a incumbência de assistir-nos as tarefas e amparar-nos os serviços.

Esse o nosso início, recomeçando a obra especializada de desobsessão em Pedro Leopoldo, interrompida por treze anos consecutivos.

A princípio, reuníamo-nos na antiga dependência que o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” ocupou, de 1927 a 1950, mas, em 1954, no segundo aniversário de nossa instituição, por mercê de Deus e com a colaboração espontânea e desinteressada dos nossos companheiros, transferimo-nos para a nossa sede própria e definitiva que, embora singela, se levanta acolhedora à rua Benedito Valadares, nesta cidade.

Falemos agora de nossas sessões propriamente ditas.

Iniciamos nossas atividades impreterivelmente às vinte horas, nas noites de quintas-feiras.

Sempre o mesmo quadro inalterado de irmãos em lide.

Destinamos os primeiros quinze minutos à leitura de trechos doutrinários, à prece de abertura e à palavra rápida do amigo espiritual que nos fornece, instruções.

Às vinte horas e quinze minutos; aproximadamente, encetamos o socorro aos desencarnados, constando de esclarecimento e consolo, enfermagem moral e edificação evangélica, a benefício das entidades conturbadas e sofredoras, no que despendemos noventa minutos, valendo-nos da cooperação de todos os médiuns presentes.

Às vinte e uma horas e quarenta e cinco minutos, o ambiente é modificado.

É a parte final que dedicamos à prece, em favor de enfermos distantes. E, nesses quinze minutos que precedem o encerramento, sempre recebemos, pela psicofonia sonambúlica de Francisco Cândido Xavier, a palavra direta de nossos instrutores e benfeitores desencarnados.

Explicada a existência de nosso grupo e aclarado o nosso programa de serviço, reportemo-nos agora à formação deste livro.

Desde 1952, lamentávamos a perda dos ensinamentos recolhidos na fase terminal de nossas reuniões.

Eram lições primorosas dos orientadores, palestras edificantes de amigos, relatos comoventes de irmãos recuperados e preleções de caráter científico, filosófico e religioso, proferidas por devotados e cultos mentores, de passagem por nosso recinto.

Para reter-lhes a palavra construtiva e consoladora, muita vez suspiramos pela colaboração de um taquígrafo.

Nos primeiros dias de 1954, numa das sessões públicas do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, comentávamos o problema com o nosso distinto confrade Professor Carlos Torres Pastorino, do Rio de Janeiro, e esse nosso amigo, com cativante gentileza, ofereceu-nos a gravadora de sua propriedade. Poderíamos utilizá-la em Pedro Leopoldo e, encantados, guardamo-la por valioso empréstimo.

Foi assim que, desde a noite de 11 de março de 1954, graças à bondade de Deus e à generosidade de um amigo, nos foi possível fixar as alocuções dos instrutores e irmãos desencarnados que nos visitam.

É preciso dizer que o médium Chico Xavier sempre as recebeu psicofonicamente, no último quarto de hora das nossas sessões, muita vez depois de exaustivo labor na recepção de entidades perturbadas, em socorro de obsessos e doentes, serviço esse no qual coopera, igualmente, junto com os demais médiuns de nossa agremiação.

Alguém sugeriu a conveniência de organizarmos um livro com as presentes comunicações faladas, o primeiro obtido através das faculdades psicofônicas do médium Xavier, e aqui o temos, apresentado, não pela competência literária de que não dispomos, mas pelo nosso amor às responsabilidades assumidas.

Devemos informar que infelizmente não podemos, por impossível, registrar no papel a beleza das recepções, as variações do tom de voz, as paradas mais ou menos largas, o entrecortamento de palavras ou de frases por lágrimas de comoções ou gestos de alegria, a mudança, mesmo, do tipo de voz, além de outros característicos que valorizariam sobremaneira, ao nosso humilde pensar, as páginas de que os leitores tomarão conhecimento a seguir.

Fizemos preceder cada mensagem por anotações informativas que julgamos indispensáveis à apreciação do leitor e, , colocamos no presente volume os apontamentos estatísticos de dois anos sucessivos de ação espiritual do “Grupo Meimei”, para estudo dos nossos irmãos de ideal interessados no assunto.

Finalizando, consignamos aqui o nosso profundo reconhecimento à bondade de Nosso Senhor Jesus-Cristo, suplicando a Ele abençoe os orientadores e amigos espirituais que amorosamente nos assistem. E, agradecendo a todos os nossos companheiros de tarefa pelo concurso decisivo e fraternal de sempre, rogamos a Deus, Nosso Pai Celestial, nos ampare e fortaleça, em nossos desejos de progresso e renovação.



Pedro Leopoldo, 10 de junho de 1955.