Intervalos

Capítulo XIII

Espiritismo e liberdade



É indubitável que o Espiritismo, na função de Consolador Prometido pelo Cristo de Deus, veio aos homens, sobretudo, para libertá-los da treva do espírito.

Que emancipação, porém, será essa?

Surpreenderíamos, acaso, a Nova Revelação procedendo à maneira de um louco que dinamitasse um cais antigo, à frente do mar, sem edificar, antes, um cais novo que o substituísse?

Claro que os princípios espíritas acatam os diques de natureza moral, construídos pelas tradições nobres do mundo, destinados à segurança da alma, conquanto lhes observe a vulnerabilidade de fundo, vulnerabilidade essa sempre suscetível de favorecer os mais fortes contra os mais fracos e de apoiar os astutos em prejuízo dos simples de coração; embora isso, levantam barreiras de proteção, muito mais sólidas, a benefício das criaturas, porquanto nos esculpem, no próprio ser, a responsabilidade de sentir e pensar, falar e agir, diante da vida.

Ninguém se iluda, dessa forma, quanto à independência instalada pela Doutrina Espírita nos recessos de cada um de nós, sempre que nos creiamos no falso direito de praticar inconveniências, em regime de impunidade.

Muito mais que os preconceitos e tabus, instituídos pelos homens, como frágeis recursos de preservação dos valores espirituais na Terra, o Espiritismo Cristão nos entrega dispositivos muito seguros e sensatos, na garantia da própria defesa, de vez que não nos acena com Céus ou Infernos exteriores, mas, ao revés disso, nos faz reconhecer que o Céu ou o Inferno, são criações nossas, funcionando, indiscutivelmente, em nós mesmos.

Enfim, para não nos alongarmos em teorização excessiva, observemos, tão somente, que o espírita é livre, não para realizar indiscriminadamente tudo quanto deseje, e, sim, para fazer aquilo que deve.